Do alto do Monte das Oliveiras, local indicado como ponto de partida de qualquer viagem turística a Jerusalém, se tem uma vista panorâmica e privilegiada da Cidade Velha. De lá se vislumbra a arquitetura labiríntica do local sagrado para as três religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

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A reportagem de Zero Hora visitou os pontos históricos para onde acorrem, a cada ano, milhões de viajantes – muitos deles peregrinos – de diversas partes do globo. É o cenário onde se acredita que ocorreu, há cerca de 2 mil anos, a história evocada pela Páscoa, celebrada neste domingo.

O itinerário começa na primeira das 14 estações da Via Dolorosa – ou Via-Crúcis, o caminho feito por Jesus depois de condenado – e termina na bela Igreja do Santo Sepulcro, que tem entre os principais atrativos uma capela que emociona os fiéis por simbolizar a ressurreição de Cristo. Os números dão uma noção do fenômeno peregrino: dos 3,5 milhões de turistas que desembarcam anualmente em Israel (incluindo 56 mil brasileiros), 28% têm motivações religiosas. Não por acaso, Jerusalém é o destino mais procurado: está no roteiro de 80% dos visitantes, independentemente da religião. Os cristãos representam 60% do total de turistas (os judeus, que compõem 76% da população daquele país, são 24%). Entre os cristãos, os católicos chegam em maior número (54%), seguidos pelos protestantes (22%), pelos ortodoxos (10%) e por outros grupos (14%), segundo o Ministério do Turismo de Israel.

Caminhando pelo quarteirão cristão da Cidade Velha, que divide espaço com os quarteirões judaico, muçulmano e armênio, ouve-se guias turísticos explicando os passos de Jesus em diferentes línguas – inglês, italiano, francês, português. Para facilitar a vida do visitante, as estações da Via Dolorosa são indicadas com números romanos. Na quinta estação, onde Simão teria ajudado Jesus a carregar a cruz, há uma pedra com um baixo relevo no formato de uma mão, representando o ponto onde Jesus teria se apoiado. Muitos aproveitam para tirar fotografias com a mão sobre o molde.

Bênção perfumada

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As últimas estações estão na Igreja do Santo Sepulcro, um dos lugares mais sagrados do mundo para os cristãos. Localizada na região onde se crê que Jesus foi crucificado, começou a ser erguida no ano de 326 d.C. por ocasião da visita de Helena, mãe do imperador romano Constantino (272-337). O prédio que se vê hoje, no entanto, tem a metade do tamanho original. Destruída pelo califa Hakim em 1009, durante o domínio muçulmano, a basílica foi reconstruída nos moldes atuais após a reconquista cristã pelos cruzados.

Destino obrigatório para devotos e muito recomendado para outros viajantes em busca de uma parte fundamental do imaginário ocidental, o deslumbrante interior do Santo Sepulcro guarda surpresas: na décima terceira (e penúltima) estação, a Pedra da Unção marca o local onde o corpo de Jesus teria sido preparado para o sepultamento. Devotas ortodoxas costumam encostar na lápide objetos, como velas, para serem abençoados. O visitante que, por curiosidade, passar os dedos na pedra sairá com o perfume que as fiéis costumam aplicar, como se revivessem a limpeza do corpo de Cristo.

Nenhum lugar reúne tamanha multidão, no entanto, quanto o mausoléu construído no interior da igreja pelos gregos ortodoxos após o incêndio de 1808. Pessoas aguardam o tempo que for preciso na fila que leva para o apertado interior da edícula, onde se comovem com o santuário que representa a ressurreição. Passava das 19h de um domingo quando a reportagem esteve no local. Mesmo após o pôr do sol, devotos aguardam pacientemente, em silêncio reverente, para entrar no ponto final da Via Dolorosa, destino definitivo do peregrino – momento em que a Páscoa se revela, para eles, na plenitude de seu significado, muito além dos ovos de chocolate.

Pontos turísticos sagrados por todo o país

No palco do milenar teatro romano construído no tempo do rei Herodes (73 a.C.-4 a.C.), o padre alemão Johann Schubert, 79 anos, canta Der Lindenbaum, parte de um ciclo de canções de autoria de seu xará, o compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828). A plateia está vazia, exceto pela presença de alguns turistas.

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O teatro fica no Parque Nacional da Cesareia, no norte de Israel, região em que, segundo a tradição cristã, o centurião romano Cornélio foi convertido. Se há algo que se aprende rápido é que os locais históricos e sagrados estão por toda parte. Não muito longe dali, está o Monte das Beatitudes, no qual Jesus teria realizado o Sermão da Montanha. Cesareia é um sítio arqueológico onde parte significativa da história da Terra Santa está à vista. Foi a capital da Palestina no período do domínio romano.

Schubert, o padre, explica que não resistiu em testar a acústica do teatro. Radicado em Nagoia, ele acompanha um grupo de sorridentes japonesas católicas que sacam suas câmeras e começam a tirar fotos durante a conversa do líder religioso com a reportagem.

– Estamos em peregrinação, na busca de uma fé mais profunda – conta, em inglês. Mais adiante, está o aqueduto. Também da época de Herodes, o local permite contemplar o Mar Mediterrâneo. Em uma tarde ensolarada, turistas aproveitam a paisagem para relaxar sentados ou deitados na areia. Entre eles, estão frequentadores de uma igreja presbiteriana de Dublin, na Irlanda.

– Viemos para Israel para procurar Deus – testemunha uma senhora de 68 anos de rosto rosado a caminho de um ônibus.

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A condução repleta de devotos espera pela correligionária já com o motor ligado. A peregrinação precisa continuar.

*O repórter viajou a convite do Ministério do Turismo de Israel