Daquela vez, não houve tragédia. Num domingo de manhã, a coluna de fumaça do tamanho de “tantos” andares, como se compararia depois, se formou em segundos no Centro de Santa Maria. A memória colabora, mas não chega a dar detalhes sobre quem, da dupla de repórteres(*), viu primeiro o sinal de incêndio. E dos grandes.

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Mas é possível lembrar que foi suficiente abandonar a pauta e correr atrás da fumaça. Alguns quilômetros a serem percorridos a pé. Ainda deu tempo de chegar enquanto o fogo estava forte, no anexo de lojas de um centro comercial. Chegar é modo de dizer; apesar de os bombeiros estarem em atuação, o calor impedia qualquer aproximação.

Vencido o fogo, inicia a angústia maior, a procura de possíveis vítimas. Teve gente intoxicada com fumaça, coisa leve. Nenhum morto. Todas as lojas estavam fechadas. Prejuízo, mas nenhuma vida perdida. Nas semanas seguintes, Santa Maria seria tomada pelo “se”: e se o centro comercial estivesse aberto, o que teria acontecido? Jamais se saberá.

Quase 17 anos depois, também num domingo de manhã, Santa Maria inunda o noticiário. Na caça de informações, se tenta descobrir o ponto exato da tragédia. Se chega lá rapidamente, ainda que virtualmente, pelas imagens do Google. Com alguma surpresa, se nota que a boate Kiss fica perto de onde saiu a fumaça naquele 26 de maio de 1996. Uma coincidência, claro, mas impossível evitar a lembrança.

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Só que agora, a tragédia se mostrou avassaladora. O “se” se manifestou da pior forma possível, levando às lágrimas mesmo quem está longe há tempo ou quem apenas agora ficou sabendo que Santa Maria está no coração do RS.

(*) A dupla de repórteres era formada pelo autor do texto, que estudou em Santa Maria e poucos meses após estaria em Joinville; e Leandro Junges, morador da cidade catarinense entre 2000 e 2012, onde trabalhou em “AN”.

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Cerca de 80 pessoas com quadro de intoxicação respiratória continuam internadas em estado grave em hospitais de Santa Maria e Porto Alegre após o incêndio na boate Kiss, que deixou pelo menos 231 mortos. O anúncio foi feito pelo ministro da Saúde Alexandre Padilha, em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, no Centro Desportivo Municipal de Santa Maria.

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A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.

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Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.