Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente e um dos maiores responsáveis pela recuperação financeira do Flamengo, esteve nesta terça-feira (27/8) em Joinville, onde visitou o Centro de Treinamento (CT) do Morro do Meio e compartilhou um pouco da transformação do clube carioca com os dirigentes do JEC.

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No encontro informal ele destacou – guardadas as devidas proporções – semelhanças na situação administrativo-financeira e de resultados do Flamengo em 2013 (antes das mudanças que reduziram a dívida do clube e o tornaram competitivo novamente) e o JEC de 2019, deixando lições que podem ser valiosas para o futuro do tradicional clube joinvilense.

O dirigente esportivo presidiu o Clube de Regatas do Flamengo de 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2018 e é reconhecido Brasil afora como o homem que liderou a transformação do clube nos últimos anos. Em sua gestão, o clube carioca ganhou diversos prêmios de gestão e transparência, conseguiu reduzir dívidas e investir no futebol, reencontrando o caminho dos títulos.

Dedicação, profissionalismo, não ceder a vaidades e manter a transparência são alguns dos pontos que o próprio dirigente indica como fundamentais para as mudanças feitas no Flamengo. Ele acredita que o Joinville tem potencial e torcida apaixonados, que podem fazer com que a equipe trilhe um caminho de sucesso.

Bandeira de Mello se reuniu com os dirigentes do JEC
Bandeira de Mello se reuniu com os dirigentes do JEC (Foto: Salmo Duarte/A Notícia)

Confira algumas das impressões e conselhos de Eduardo Bandeira de Mello para o Joinville Esporte Clube durante visita nesta terça-feira:

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Centro de Treinamento

"Achei as instalações muito boas e melhores do que as que a gente encontrou no Flamengo em 2013. Tenho certeza de que o JEC vai poder melhorar cada vez mais e investir na base e sei que há um projeto de expansão com um CT exclusivamente para a formação desses atletas. Isso é perfeito porque não há nada mais importante num time de futebol do que administrar a sua base."

Troca de informações

"O que houve hoje foi uma troca de ideias, na qual eu contei algumas passagens da minha administração e que acredito que podem ser úteis caso o Joinville venha a se defrontar com algum tipo de situação semelhante (das enfrentadas pelo Flamengo). Não existe receita de bolo, não tem mágica, acho que para você transformar uma organização é preciso profissionalismo, trabalho, dedicação e por isso tenho certeza que o Joinville vai conseguir (se reerguer)."

Exemplo carioca

"Numa equipe da dimensão do Flamengo, com 40 milhões de torcedores, existe uma pressão muito grande por resultados no campo, por formação de times poderosos, e a gente teve que fazer sacrifícios na área esportiva e social para conseguir resgatar a dignidade do clube, resgatar o passivo ético e moral que a gente tinha. É claro que isso gera algum tipo de reação, mas de uma maneira geral a grande parte da nossa torcida entendeu que era necessário fazer sacrifícios e eu tive muito apoio ao longo desses anos e tenho certeza que eles ficaram ou ficarão cada vez mais satisfeitos com os resultados."

Profissionalismo x paternalismo

"Fazer a coisa certa e adotar padrões de governanças compatíveis com organizações complexas como são os clubes de futebol hoje é um caminho sem volta. E para isso você tem imposições na legislação, o próprio Profut (programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) já foi um grande avanço nesse sentido. A gente ouve falar que a CBF está tentando implantar o Fair Play financeiro e acho que todos nós temos que torcer e trabalhar para que seja uma coisa séria e rigorosa. Quem não se adaptar a essa nova realidade vai ficar pelo caminho, não tenho a menor dúvida."

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Pé no chão

"Quanto a escolha do Joinville por apostar no time de base na disputa da Copa Santa Catarina, acho que estão absolutamente certos, qualquer coisa diferente disso seria uma irresponsabilidade. É muito melhor ir devagar, com segurança e fazendo aquilo que o clube consegue, pois com isso o JEC vai conseguir o apoio da torcida, do empresariado local e vai se conseguir novas receitas para que o clube consiga atingir os seus objetivos de maneira sustentável e que não seja o chamado "voo da galinha"."

Ex-presidente do Flamengo também conversou com os jogadores
Ex-presidente do Flamengo também conversou com os jogadores (Foto: Salmo Duarte/A Notícia)

Ações viáveis

"O clube precisa ter responsabilidade na gestão e isso implica em comprimir despesas ao máximo para não se fazer nada além do que a capacidade do clube permite; buscar novas receitas é fundamental também, que eu acredito que não é problema para o JEC, porque ele tem uma torcida apaixonada e vários executivos e empresários aqui da região – que é uma região dinâmica do Brasil -, que merece e tem condições de ter um clube poderoso.

Outra situação é investir na base, isso é fundamental, não tem nada mais importante que um clube de futebol, porque é a oportunidade que o clube vai ter de formar jogadores quase que em pé de igualdade com os grandes clubes brasileiros. Este é um investimento de longo prazo, você não faz o investimento agora para colher resultado daqui a 15 minutos ou de um ano a dois anos, é algo que leva 5, 6, 10 anos, mas que quando você consegue chegar no ponto desejado é um legado que fica para sempre. Outra questão é que as dívidas devem ser equacionadas de alguma maneira, porque não tem outro jeito senão pagar."

Equilíbrio da verba televisiva

"Grandes clubes x pequenos e médios: o último contrato da TV Globo com os clubes já apresenta uma divisão bem mais igualitária das verdades de TV aberta e TV fechada e por divisão por audiência, por desempenho e uma parte que é dividida igualmente entre todos os clubes. A única diferença que existe hoje é em relação ao PPV, que é por bilheteria remota, se você é Flamengo, faz assinatura e declara que é Flamengo, é natural que esse recurso vai para este time. Se você é Joinville, da mesma maneira. Inclusive atualmente se tem muito mais possibilidade de transmissão de jogos, a tendência, é usar daqui para a frente mais a internet e serviços de streaming e isso pode ser potencializado por quem estudar bem a questão e se preparar para isso."

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Transparência e atração de investimentos

"Se a torcida for apaixonada como a do JEC parece ser, ela vai se motivar com a transparência. Se o clube for transparente e mostrar exatamente o que está fazendo, qual ponto está e onde quer chegar, a torcida vai entender e vai apoiar; se associar; comprar os produtos licenciados. O JEC tem um potencial que muitos clubes não tem, que é uma torcida de um peso razoável. Isso é um sinalizador para investimentos, o importante em qualquer área que você vai investir é confiar na entidade que você está investindo, então se a diretoria do JEC for extremamente transparente e dizer "não estou fazendo agora o time que a torcida merece, mas estou caminhando por essa rota de responsabilidade e daqui algum tempo o JEC vai ter o tamanho e a força que merece", tenho certeza que a torcida vai comprar essa briga e vai colher os frutos adiante."

Tempo de retorno

"No comparativo com o que tivemos no Flamengo é difícil dizer, são realidades diferentes, mas seguindo uma rota semelhante pode chegar aos mesmos resultados. O tempo de duração também é difícil dizer porque tem que ver quanto será agregado em termos de novas receitas, mas sendo otimista, o Joinville consegue sair do buraco em menos tempo do que o Flamengo saiu (cinco anos)."