Até os 24 anos, Jean Saint Clair Dorvilus não poderia imaginar que seu futuro estava na gastronomia. Enquanto vivia no distrito de Ganthier, no Haiti, o jovem trabalhava como pedreiro. Seria de se imaginar que, com esta profissão, ele teria muito trabalho desde que um terremoto atingiu a capital do País, em 2010, deixando 140 mil desabrigados e colocando abaixo hospitais, escolas e até o palácio presidencial.
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No entanto, as dificuldades econômicas e sociais do Haiti fizeram com que, em novembro de 2014, Jean deixasse a terra natal em direção a um novo lugar para reconstruir a vida. Da pequena ilha no meio do Oceano Atlântico, ele passou pela República Dominicana e pelo Equador, em uma tentativa de chegar ao Brasil.
Aqui, escolheu Joinville para morar e viu a sorte ao seu lado desde o início: não passou nem 30 dias sem emprego, já que conseguiu uma vaga de auxiliar de cozinha no restaurante de comida natural de um shopping no Centro da cidade. As conquistas seguintes, no entanto, vieram com a dedicação de Jean em montar uma base sólida no novo País.
– Ele aprendeu direto com o chef de cozinha e demonstrou que levava jeito desde o início. Foi se destacando e logo foi para a chapa, sempre se interessando em aprender mais – recorda a proprietária do restaurante, Patrícia Simões Wasilewski.
Tanta competência fez com que, com o tempo, Jean passasse a cuidar da cozinha à noite, chamando a atenção dos administradores para o potencial a ser desenvolvido.
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Quando a cozinheira – segunda na hierarquia da cozinha depois do chef – precisou se desligar da empresa, uma vaga foi aberta e até um profissional foi testado. A contratação de um novo funcionário implicaria em pelo menos dois meses de experiência até que pudesse, por exemplo, assumir a responsabilidade no dia de folga do chef. Mas Jean já estava lá, e estava pronto. Por isso, pouco mais de um mês antes do Natal, ele recebeu a primeira promoção no trabalho em terras brasileiras.
Trilhando este caminho, Jean também abriu portas para outros: no início de 2016, ele conseguiu trazer um dos irmãos, Odinel, para morar em Joinville e trabalhar em outro restaurante do shopping e, há três meses, o primo, Edner, para o mesmo restaurante onde trabalha, podendo ensinar o que aprendeu nestes dois anos de experiência.
– Ninguém vem aqui para brincadeira. Tem que trabalhar sério – afirma ele.
A vida está melhor agora que uma parte da família pôde se reunir novamente, mas, em Ganthier, ainda estão a mãe e o irmão mais novo. Nos planos de Jean, o Haiti não tem mais espaço: Joinville é o lar para onde ele quer trazer a todos – o grande desafio é não deixar ninguém sozinho, mas a documentação e a passagem para imigrar têm valores altos demais para trazer dois parentes de uma vez.
Essa é a meta para o futuro e, enquanto sonha e luta, ele se une aos outros haitianos que vivem na cidade: neste Natal, usará o talento culinário para celebrar as conquistas do ano com um churrasco.
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