A solidariedade é o sentimento que define os moradores do bairro Jardim Sofia, um dos menores de Joinville, na zona Norte da cidade. De loteamento em plena área rural na década de 1980, o local tem crescido como pode entre o rio do Braço, de um lado, e a Zona Industrial Norte, de outro. Mas um tanto ofuscado pelo vizinho Jardim Paraíso quando o assunto são investimentos e recursos, o bairro de quatro mil habitantes ainda convive com problemas básicos.

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O principal deles é a enchente. O rio Cubatão enche e represa o rio do Braço. Pode perguntar para moradores antigos, como o aposentado Ernesto Pettersen, de 72 anos. Ele conhece o lugar desde que era apenas uma picada perto do bairro Aventureiro.

– Já naquela época isso aqui alagava. Eu trabalhava no Centro e perdi a conta de quantas vezes tinha que passar lá por cima (onde hoje é a avenida Santos Dumont), pelo meio do mato, alumiando o caminho com um isqueiro -, lembra.

Ernesto foi morar há 20 anos na rua Dorothóvio do Nascimento, a antiga estrada para o Aeroporto de Joinville, e chegou a conhecer o antigo loteador do bairro, Affonso Nass, cuja mulher, Sophia, acabaria dando nome ao lugar. Criador de vacas leiteiras, num tempo em que o bairro ainda tinha uma acentuada cara rural, o aposentado conta que o teste de fogo para o loteamento foi a enchente de 1995.

Ninguém no lugar esquece o rompimento da barragem do rio Cubatão, às margens da BR-101, em Pirabeiraba. Chovia havia dois dias, na manhã de 9 de fevereiro, quando o pior aconteceu. A água subiu 25 centímetros por minuto no Jardim Sofia, um dos mais atingidos. Uma pessoa morreu, quatro desapareceram e 15 mil ficaram desabrigadas. Ernesto ajudou a resgatar mais de 200 moradores de suas casas.

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– Eu tinha bateiras [barcos] lá na Marina das Garças [bairro Vila Cubatão]. Quando vi a água subindo, fui para lá de caminhonete. Peguei quase um metro de água em alguns pontos. Trouxe dois barcos. Um emprestei e outro usei para socorrer os vizinhos. Para ter a ideia da altura da água, tirei um idoso do alto de um beliche e a água já batia no colchão. Socorri mulher grávida, criança. Tinha ponto de dois metros de água aqui na rua -, conta.

Após a calamidade, a barragem do rio Cubatão foi reconstruída, mas até hoje é “fiscalizada” por moradores. O fato de uma rua perto do local ter cedido nas chuvas deste ano, levando a Defesa Civil a interditar a passagem de carros, é um fator que preocupa. Além de alagamentos quase semestrais, o bairro também não esquece da cheia de 2008, que levou Santa Catarina a decretar emergência.

Moradores voltaram a ficar desalojados e desabrigados. A água demorou a baixar e muita gente dormiu em abrigos. Por conta disso, a solidariedade já virou instinto. Há até pequenos barcos nas casas, para auxiliar a vizinhança nas enchentes. Apesar dos transtornos, os moradores elogiam a tranquilidade do bairro e o fato de ter indústrias por perto. É que a maioria da população da região trabalha nelas. Cortada pelos braços do rio Cubatão, localidade da área rural sofre com as enchentes