Margarida, Violeta, Dália, Malva, Hortênsia, Rosa. Nomes de batismo, que fazem parte do jardim da minha infância. O buquê de violetas do jardim, amarrado com um laço branco de fita de seda, era o que tinha de mais lindo, marca registrada para aqueles que aniversariavam na época da sua florada. A demonstração concreta de um amor verdadeiro.

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Extremamente delicadas, eram transportadas debaixo de uma sombrinha para que o sol ou a chuva não as castigassem. Um dia, ao chegarmos em casa, encontramos um ramalhete murchinho, no peitoril da varanda dos fundos, pedindo por socorro, denunciando a visita daquela que, num dia que deveria ser especial, encontrou a casa fechada. Deixou-as em um cantinho, protegidas. Mensagem de carinho para a aniversariante que fugiu do abraço.

Dálias. Para elas, um vaso especial: alto o suficiente, estreito na base e com a boca larga para um efeito digno delas, coloridas, exuberantes, lindas. Disputando o espaço na mesa da sala, em cima de uma toalha engomada; saindo e voltando a cada refeição, ocupando o lugar de honra, que naquela época do ano era seu.

Malva. Parente dos gerânios, decorava nossas unhas numa mistura de cores, rosa e vermelho. Colada com saliva, não ficava muito tempo, eram delicadas demais. Tinham um canteiro só para elas.

Hortênsias. Eram muitas, pois lá para as minhas bandas, não há jardim em que não more uma hortênsia. Fortes e robustas vão-se criando meio que sozinhas. Quando floresciam, também disputavam o lugar de honra.

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Rosas. Ah, as rosas. Em pencas, em cima do portão que fazia divisa com o pomar. Sempre que eu passava por elas, fechava os olhos e aspirava seu perfume delicioso, embriagando-me naquelas tardes mornas de primavera (não custava um Chanel).

Não posso esquecer-me da grinalda de noiva. Morava dentro de uma caixa de areia. Arbusto delicado, quando florescia se debruçava em cima de nós, crianças, protegendo-nos do sol. Como uma cascata de flores brancas quando a brisa sacudia, caía em flocos, enfeitando nossas cabeças.

Amor-Perfeito. Seu lugar era especial: luz e umidade na medida certa, tratamento vip. Depois de ocupar o lugar de honra, iam muitas e muitas vezes, morar espremidos dentro dos meus livros escolares para que eu pudesse curti-los por mais tempo, enchendo-me os olhos e a alma de alegria!

Margaridas, estas não podiam faltar, homenagem a minha oma, nome da dona desse jardim. Até hoje, quando as encontro, trago-as para o lugar de honra.

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