Lá, no último quarto da casa, o som predominante é o dos leves chiados da agulha sobre o disco de vinil. Embalada em ritmos das décadas de 1960 e 1970, a sala é recheada de relíquias de uma coleção que começou a ser montada ainda na adolescência e homenageia a nata do rock n?roll inglês. Se as bandas mais icônicas da época merecem espaço nas prateleiras, é o som progressivo do Pink Floyd que recebe os maiores destaques. Com 55 anos, o empresário jaraguaense Richard Peter Hermann é um dos maiores colecionadores de artigos da banda inglesa no Brasil.
Continua depois da publicidade
Discos, DVDs, CDs, ingressos, acessos ao back stage, camisetas, autógrafos e tudo que for antigo e relativo à banda ganham espaço nas prateleiras, paredes e teto. Richard não mantém uma contagem atualizada, mas na última verificação eram 2.200 itens no acervo, que inclui não apenas o Pink Floyd, mas outras bandas britânicas como Rolling Stones, Led Zeppelin, Queen, Deep Purple. Só do vinil do The Dark Side of the Moon (1973), são 29 exemplares, cada um prensado em país diferente.
– Comecei a coleção com o vinil aos 18 anos, por gostar de rock em geral. Do Pink Floyd, o primeiro álbum que ouvi foi o Animals (1977), com as faixas Pigs e Dogs.
Entre as relíquias de sua coleção está o primeiro compacto lançado pelos britânicos, com as músicas See Emily Play e Scarecrow. A peça é autografada pelos quatro integrantes originais do grupo, Roger Waters, Nick Mason, Richard Wright e Syd Barrett e é acompanhada de uma fotografia original do quarteto. Um violão autografado por Roger Waters (baixista da banda até 1985) em 2007 no Brasil e arrematado em um leilão é outro dos itens de destaque da coleção, que ainda conta com peças que somente os colecionadores entendem – como o disco da trilha sonora do filme Gigi, que aparece em um canto da capa do álbum Ummaguma (1969). Um disco de platina do The Wall, selos, fotografias originais e pequenos souvenirs como chaveiros, garrafa de vinho, palhetas e chinelos completam a coleção.
– O que tiver deles que eu ainda não tenho, eu compro. Eu gosto de colecionar tudo, não só vinis. Me considero um colecionador de coisas do passado – resume o fã.
Continua depois da publicidade
Internet ajuda no acervo
É comum que, a cada semana, uma nova peça seja incluída no acervo. A origem dos objetos é principalmente a internet: E-bay e Mercado Livre são fontes constantes. A troca com outros colecionadores também é comum, assim como a amizade criada com os fãs ao redor do mundo. Mais do que reunir seu acervo, Richard criou contatos que atravessam continentes, em um mapa pink floydiano que resgata as relíquias da banda.
Os mesmos percursos da banda
Se o gosto pelo rock não acompanhou a predileção musical de seus pais, que apreciam a música clássica, Richard seguiu ao menos a origem da família. Filho de uma inglesa, o contato com o país veio cedo.
– Eu considero que o berço do rock? n? roll é a Inglaterra. Os anos 1960 e 1970 são o auge – conta ele.
As visitas à Grã-Bretanhã para encontrar familiares serviram de plano de fundo para outras viagens. Richard busca percorrer os pontos marcantes e significativos pelos quais os integrantes do Pink Floyd passaram. Já visitou o cenário que aparece na capa do disco Animals, a Battersea Power Station. Visitou bares frequentados pelo grupo, o estúdio na Oxford Street e outros espaços que fizeram parte da trajetória pink floydiana. Mais que isso, procurou os integrantes em suas próprias casas. Foi à casa de Syd Barrett quando ele ainda era vivo, porém não encontrou-o – este é o único membro do grupo com o qual Richard nunca teve contato pessoal. Também procurou David Gilmour em sua residência, mas ele não estava lá.
Continua depois da publicidade
– Ele estava nas gravações deste último álbum, o The Endless River – conta Richard, adiantando que o guitarrista deve lançar um álbum solo em 2015.
Hermann ainda não escutou o The Endless River, álbum lançado em novembro deste ano, após um hiato de 20 anos sem um novo disco de estúdio do Pink Floyd. As músicas são sobras de estúdio da gravação do The Division Bell (1994) e foram regravadas ao longo do último ano. Toda a obra é uma homenagem ao tecladista da banda, Richard Wright, que faleceu em 2008 e participou das gravações originais. Sem ter escutado as músicas – algumas já disponíveis na internet – o jaraguaense Hermann aguarda a chegada de sua encomenda. No fim do ano, um amigo trará o pacote de CD, DVD e vinil do 15º disco de estúdio do Pink Floyd para completar a coleção.