Para eles, não há época certa do ano. Basta um pouco de calor e lá está a nuvem de maruins, rondando os trabalhadores. Na propriedade de Alberto Carlos Uecker e de seu pai, Nelson Uecker, no Ribeirão das Pedras, o trabalho de embalagem da banana é assim: acompanhado das picadas constantes. Calças são fundamentais, independentemente da temperatura. E os braços até já se acostumaram aos ataques.
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Agora, porém, um estudo traz esperança para reduzir a incidência do inseto e garantir sossego a quem mora no campo – e com isso controlar os maruins, que se tornaram problema de saúde pública na região.
O estudo é realizado pela Fundação 25 de Julho, de Joinville, em parceria com a Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente e a secretaria de Agricultura. Na etapa que começou semana passada, três produtores que se voluntariaram para participar da pesquisa receberam em suas propriedades dois tipos de armadilhas. Outros quatro produtores ainda terão o equipamento instalado, somando os sete que fazem parte do estudo.
Outro tipo de contagem do maruim é um tanto mais pessoal e sofrida. O próprio biólogo da Fundação 25 de Julho, Luiz Américo de Souza, serve de cobaia para a “contagem de densidade de picadas”. Com a perna de uma calça puxada até o joelho, ele mantém a canela expostas e deixa os maruins chegarem. Então, conta quantos insetos pousaram em sua perna e quantas picadas levou. No primeiro dia do experimento, foram 325 picadas em uma hora. No segundo, 850. E isso que, conforme Luiz, as condições não estavam ideais: com mais calor, seriam ainda mais picadas.
Luiz conta que as duas contagens servem para conferir, primeiro, o número de insetos por propriedade e, depois, o efeito das técnicas de controle que serão aplicadas. Serão quatro tipos de técnicas. Três delas visam o caule da bananeira, local identificado como criadouro do maruim, onde 62% das larvas eclodem.
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Enrolar o caule com um saco plástico, evitando a chegada do maruim, é uma das técnicas. As outras duas envolvem o uso de um fungo, o Beauveria, para controle. Serão testados dois tipos diferentes do fungo. A quarta medida não é direta no caule e será aplica se um produtor se voluntariar: galinhas caipiras são soltas próximas às áreas de incidência. Elas se alimentariam da pupa (estágio entre a larva e o inseto), reduzindo o nascimento de maruins.
Clorofila alemã
Uma das maiores expectativas para reduzir o maruim, porém, reside em um estudo realizado por um professor de Joinville, da Univille, Gilmar Sidnei Erzinger, na Alemanha. Lá, o pesquisador desenvolveu um produto biológico a base de clorofila. O inseto ingere o produto e, ao pegar Sol, a fotossíntese resultante gera uma ensina que mata o maruim. Em insetos alemães, o produto funcionou. Agora, ele será testado nos maruins.
– Se der certo, até o fim do próximo ano temos a expectativa de uma solução para o maruim. Vamos aproveitar o calor do verão para a captura e faremos testes em laboratórios _ conta Luiz Américo.
Na Alemanha, 98% dos insetos comeram o produto. Aqui, se der certo, ele seria borrifado nos bananais para o controle. O objetivo não é exterminar a espécie, mas controlá-la, já que eliminar o maruim poderia gerar um descontrole na cadeia alimentar.
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Vida tranquila
Estudando o inseto há oito anos, o biólogo Luiz Américo percebe a importância de reduzir a espécie, cuja população saiu do controle. Além de estudar o inseto, ele já planeja uma pesquisa do impacto sócioeconômico das picadas, já que produtores e até proprietários de pousadas abandonam locais devido ao número de maruins. Alberto Carlos e Nelson Uecker confirmam isso. O trabalho, realizado em movimento, até espanta as mordidas, mas ainda assim há dias nos quais não há fuga.
– Quando picam demais, passo uma escova com água para aliviar. Tem dias que eles estão fora de controle mesmo _ conta Alberto.
Ainda assim, não é no trabalho que o maior impacto é sentido. Nascidos na propriedade que conta com três hectares de bananas, eles sentem a segregação social que o inseto traz.
– Temos uma família grande, mas ninguém vem nos visitar por causa do maruim _ lamenta Nelson.
– Se diminuir o maruim, aí sim teremos sossego _ completa Alberto.
Receita de repelente natural, por Luiz Américo de Souza
Coloque dois pacotes de cravo-da-índia em meio litro de álcool (70%) e deixe a solução descansando em lugar escuro por 48 horas, mexendo algumas vezes. Depois, retire o cravo e misture com um hidratante de sua preferência. Pode ser aplicado em intervalos de uma hora e meia.
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