Seguindo o principio do pai da química moderna, Antonie Lavoisier, de que na ‘natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’, a Prefeitura de Jaraguá do Sul pretende instalar nos próximos anos uma usina de incineração de lixo – conhecida mundialmente como waste-to-energy (WTE), que quer dizer ‘resíduos em energia’. O projeto audacioso está sob o comando do Instituto de Pesquisa e Planejamento Físico-Territorial de Jaraguá do Sul (Ipplan), mas deverá envolver uma parceria público-privada com os municípios da região Norte do Estado.
Continua depois da publicidade
O presidente do IPPLAN, engenheiro eletricista Benyamin Parham Fard, especialista em gestão ambiental, estudou o WTE por cinco anos, visitou usinas ao redor do mundo e, por isso, considera a incineração a melhor forma de destinar os resíduos. Ele conta que um anteprojeto está pronto e que falta apenas o convencimento das partes.
– O nosso desafio é montar um modelo jurídico onde as Prefeituras serão sócias – informa.
A previsão é de que, se o trabalho for intenso, em quatro anos a usina entre em funcionamento. – E não precisaremos mais pagar para enterrar dinheiro – avalia.
Continua depois da publicidade
Na incineração, o lixo é incinerado a 1300 graus em um ambiente controlado e a troca térmica gera a energia elétrica por meio de turbinas. A usina deverá operar 24 horas por dia e será capaz de absorver todos os resíduos sólidos urbanos das cidades da nossa região, 850 toneladas, que devem gerar energia para atender a 75 mil casas de famílias de classe media por dia.
Benyamin conta que pelos menos três prefeitos das cidades mais populosas da região (Joinville, Jaraguá do Sul e Guaramirim) têm interesse na execução do projeto. O prefeito de Jaraguá, Dieter Janssen (PP), que também é presidente da Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali), é um dos que defendem a implantação do WTE.
– Precisamos provocar esta discussão de forma regional, com alternativas que seja eficientes, com custo menor e sustentável – opina.
Continua depois da publicidade
A Celesc Geração também já assinalou positivamente em ser parceira do projeto, que será pioneiro em Santa Catarina.
Na visão de Benyamim a cidade ‘enterra’ dinheiro no aterro sanitário de Mafra desde 2004. O custo do município é de R$ 12 milhões ao ano para realizar a destinação de 80 toneladas de lixo por dia. Além desses gastos, o resíduo que vai para o aterro, se fosse incinerado, geraria dinheiro.
– Se for pensar a rigor, quando manda o lixo para o aterro está enterrando energia, dinheiro e problemas para as futuras gerações. O lixo no aterro perdura, no mínimo, por cem anos e produz gases de efeito estufa e chorume, que pode contaminar o solo e a água que nós bebemos – contesta.
Continua depois da publicidade
O especialista acredita que enterrar o lixo não traz benefícios à sociedade, a não ser o conforto de imaginar que aquele resíduo jamais existiu. A alternativa do WTE, segundo Benyamim, reduz o volume do lixo em até 90% o peso, em 80%. As cinzas provenientes da incineração também podem ser reutilizadas na fabricação de asfalto e na construção civil.
Preço pela alta tecnologia é de R$ 200 milhões
O presidente garante que a estrutura possui baixos níveis de emissões atmosféricas. Um dos motivos para que o custo de instalação da WTE seja de quase R$ 200 milhões, por causa a alta tecnologia empregada. Porém, assegura que com apenas cinco anos de funcionamento a usina já terá sido paga.
– Teremos um retorno de 24% ao ano e isso no mercado financeiro é excepcional, sem contar os custos aos cofres públicos com a destinação, como ocorre hoje, e consequentemente a todos contribuintes – enfatiza.
Continua depois da publicidade
Ele informa ainda que existem linhas de créditos específicas no BNDES que cobrem até 100% do valor do projeto e, dessa forma, os parceiros do projeto não precisariam tirar dinheiro do bolso e sim assegurar a capacidade de endividamento. Enquanto a estrutura não sai do papel, Jaraguá do Sul e as cidades da região continuam depositando os dejetos em aterros nas cidade de Mafra e Brusque.
Reciclagem é dever de casa, diz especialista
Mas a incineração de resíduos não é uma unanimidade mundial. Existem grupos que atuam contra a queima do lixo por entenderem que o sistema econômico estimula a demanda por novos objetos e que a questão pode ser resolvida com a compostagem e reciclagem. Além de colocarem em cheque a poluição do ar. Benyamim defende dizendo que será feito um trabalho rigoroso de conscientização sobre a importância da reciclagem e que a tecnologia empregada no WTE faz da estrutura menos poluente possível.
– Tem um dos controles de emissão atmosférica mais modernos do mundo e cerca de 30% dos investimentos da usina são dedicados a sistemas de tratamento das emissões. Conheço usinas como essas que operam ao lado da residências, pois não têm odor. É como qualquer outra termoelétrica mas com baixos níveis de emissão – esclarece.
Continua depois da publicidade
A reciclagem, segundo o especialista, é encarada como um ‘dever de casa’.
– Em paralelo queremos fazer um trabalho grande de conscientização da reciclagem. Vamos dizer que no melhor dos mundos a usina esteja inaugurada em quatro anos. Nesse tempo as pessoas já devem estar reciclando para que incinere apenas o necessário e se recicle ao máximo – prevê.
ENTENDA O CASO
– Em 1999, foi assinado um termo de ajustamento de conduta entre Prefeitura e Ministério Público Estadual (MPE) para regularizar o aterro residencial e industrial de Jaraguá do Sul.
– O aterro sanitário localizado na Vila Lenzi, onde hoje é a Arena Jaraguá, na época, completou 30 anos de operação e por consequência extrapolou o tempo e capacidade de uso.
Continua depois da publicidade
– Em 2002, Jaraguá do Sul tentou implantar o Centro de Reciclagem e Destinação de Resíduos (CRDR), na Tifa do Funil, mas a alternativa apontada pelo município não vingou.
– Um dos motivos para a não instalação do CRDR foi a interferência da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) que recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF) que alegou falta de condições técnicas e agressões ao ambiente na Tifa do Funil. Associações e entidades da região também foram contra.
– Em 2004, o MPE interditou 266 aterros sanitários o que incluiu as cidades da região, por não cumprirem normas ambientais determinadas pela Fatma ou por causa de superlotação.
Continua depois da publicidade
– Com isso, Jaraguá do Sul e as outras cidades da região tiveram de buscar novas soluções o que incluiu a destinação do lixo para aterros em Mafra e Brusque, situação que perdura até hoje.