– Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.

A frase, atribuída ao físico Isaac Newton e que virou um ditado popular, pode traduzir um fenômeno quase natural em Jaraguá do Sul, na região Norte de Santa Catarina. Muitas das pequenas empresas da cidade foram fundadas por antigos colaboradores de gigantes como Weg e Marisol, que levam para seus empreendimentos os valores e modelos de gestão das corporações.

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Este é um dos fatores apontados por especialistas para o alto índice de sobrevivência nos dois primeiros anos de operação de micro e pequenas empresas de Jaraguá do Sul, que chega a 83%. É o maior de Santa Catarina (cuja média é de 76%) e está entre os 15 melhores do Brasil (média de 75%), de acordo com levantamento do Sebrae feito em 2013.

No ano passado, 540 novas empresas foram abertas no município, que conta com mais de 11 mil empreendimentos formais, segundo dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) registra uma média de 30 novos pedidos ao mês e já soma 1.450 associados.

– Hoje, há mais chance de crescimento ao abrir um negócio do que um funcionário chegar ao posto de gerente ou diretor de uma grande empresa – diz o analista técnico do Sebrae Marco Antônio Murara.

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Outra razão para o bom desempenho das empresas, aponta Murara, é a motivação.

– Em Jaraguá do Sul, temos muito mais empreendedores por oportunidade, aqueles que identificam um nicho de mercado ainda pouco explorado, do que por necessidade, quando um funcionário perde o emprego e deve encontrar um meio para sobreviver.

Foi o caso das fundadoras da Loja Amei, de roupas femininas. Alexandra Schiochet, de 24 anos, formada em marketing, e Elaine de Moura, de 26, que atuava com comércio exterior, deixaram o emprego para apostar no próprio negócio. Quando abriram as portas, há dois anos, a loja ocupava uma sala de 8 m². Já houve uma ampliação e uma mudança de endereço, para atender melhor à clientela.

– Tivemos a ideia de montar a loja porque gostamos muito de moda, mas nos preocupamos em colocar a nossa identidade em cada detalhe da decoração e dos produtos – lembra Elaine.

A sócia Alexandra complementa:

– Apostamos nos detalhes e nos “mimos” para conquistar os clientes e transmitir coisas boas para quem passa por aqui, como a janela, onde escrevemos mensagens inspiradoras.

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Capacitação e união de forças

O corporativismo tem um peso forte quando se pensa no local onde o negócio está instalado. Entidades como a CDL e a Associação Empresarial de Jaraguá do Sul apostam na oferta de cursos para garantir a capacitação dos empreendedores antes e depois da abertura da empresa e na união de forças para buscar alternativas a problemas comuns à classe empresarial.

– Buscamos sempre a longevidade dos negócios, e nossos empreendedores vêm de empresas consolidadas, portanto, têm conhecimento empresarial. Por ser uma cidade de perfil industrial, o comércio e o setor de serviços de Jaraguá dependem e refletem o desempenho da indústria. Os lojistas precisam se adequar às necessidades geradas nesse cenário – reforça o presidente da CDL de Jaraguá do Sul, Eduardo Schiewe.

O município se destaca ainda por facilitar a abertura de novos negócios por meio da desburocratização. Um projeto da Prefeitura diminuiu de 45 para três dias o prazo para a formalização de empresas no ano passado. Em dezembro, começou a funcionar também a Incubadora do Empreendedor. No local, o prestador de serviço recebe orientação, capacitação e pode usar o endereço fiscal da incubadora para emitir notas por até quatro anos. Em menos de um mês, 35 ingressos foram formalizados com a iniciativa.

– Quanto pior o cenário macroeconômico, maior deve ser o esforço do poder público para incentivar o empreendedorismo. As micro e pequenas empresas respondem por 60% dos empregos no País e entre 20% e 24% da riqueza produzida. Mais do que a questão fiscal, a importância delas está no fator social – ressalta Márcio Manoel da Silveira, secretário de Desenvolvimento Econômico de Jaraguá do Sul.

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Empreender está no DNA jaraguaense

Ao diferencial da marca e ao bom atendimento, apontados pelas sócias Alexandra Schiochet e Elaine de Moura, soma-se o associativismo – peça-chave para o fortalecimento da rede na cidade. A capacitação e o apoio dado por entidades como Sebrae, CDL e Apevi ajudaram nos primeiros passos e na hora de traçar o plano de negócios.

O analista técnico do Sebrae-SC, Marco Antônio Murara, aponta como fatores decisivos para o alto índice de sobrevivência a inserção da disciplina de empreendedorismo e gestão em quase todos os cursos universitários e a cultura empreendedora do município.

– É um perfil da cidade, mas também percebemos que muitos empreendedores são bem jovens, da chamada geração Y. Eles enxergam as relações de trabalho diferente do modo como os pais viam. Já não se contentam em ficar sempre na mesma empresa, apenas a carteira assinada não basta, e eles têm propensão maior a assumir riscos – avalia.