Para fugir do problema de falta de verbas que atinge a quase totalidade das prefeituras, um município no Norte catarinense encontrou uma solução de baixo custo, mas alta eficiência, para tratar do lixo. Em um ano, a coleta seletiva aumentou 66% e existe um projeto pioneiro para regularizar a situação de pessoas que trabalham diretamente com os materiais.

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Com um investimento inicial de R$ 200 mil, foram comprados 500 mil sacos verdes personalizados – estão impressos um rosto, o logotipo da Prefeitura e os dizeres “Material reciclável“. A população começou a receber as embalagens em dezembro de 2013 e acompanhar campanhas no rádio e outdoor explicando o que deveria ser descartado.

No primeiro mês, a quantidade saltou de 187,2 mil quilos para 256,1 mil quilos de materiais recicláveis recolhidos. E em dezembro alcançou a marca de 426,4 mil quilos, o que representa 22% do total de lixo produzido pela população do município – algo em torno de 2,3 mil toneladas ao mês. A estimativa é de que esse índice possa chegar aos 32%, ou seja, que todo o lixo reciclável seja recolhido e destinado ao reaproveitamento.

Estímulo

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– É um projeto simples, mas que tem um forte apelo junto à população, afinal, todo mundo já viu um catador passando com o carrinho na sua rua. Já existiam iniciativas semelhantes, e aqui nos comprometemos a fazer dar certo, principalmente, apostando na provocação aos moradores. Descobrimos que eles só precisavam de um estímulo para participar – explica o presidente da Fundação Jaraguaense do Meio Ambiente (Fujama), Leocádio Neves e Silva.

Apesar dos índices promissores, entre 20% e 30% do conteúdo encontrado nos sacos verdes é material orgânico, como fraldas sujas e animais mortos. Além disso, alguns materiais como isopor deixam de ser recolhidos por causa do volume que ocupa e da dificuldade de encontrar empresas interessadas em comprar e reutilizar a matéria-prima.

Um futuro adubado e com menos desperdício

– Estamos gastando em torno de R$ 10 milhões por mês para enterrar casca de banana. Isso é um desperdício muito grande – diz Leocádio Neves e Silva, presidente da Fujama, ao se referir ao valor destinado pelo município para a coleta e transbordo do lixo no aterro sanitário de Mafra. Um estudo feito pela Fundação Jaraguaense do Meio Ambiente (Fujama) revela que o lixo produzido na cidade é composto 52% de matéria orgânica, 32% de reciclável e 16% de rejeito.

Depois do sucesso em relação à coleta seletiva, a aposta de 2015 está na redução do lixo orgânico por meio do incentivo à compostagem. Escolas municipais e associações de moradores receberam orientações e algumas unidades conseguiram implantar um espaço destinado à transformação de restos de frutas, verduras e folhas em adubo para as hortas.

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Reciclagem incentiva uma renda que se multiplica

Atualmente, cerca de 200 pessoas distribuídas em 14 cooperativas ou associações de recicladores sobrevivem do material recolhido na cidade. As entidades se cadastraram na Prefeitura e são acompanhadas pela equipe da Fujama.

Nos próximos meses, vai entrar em funcionamento um sistema de credenciamento no qual as associações precisam comprovar que os profissionais estão trabalhando com a carteira assinada e que utilizam equipamentos de proteção individual e a sede deve ter alvará e habite-se.

– Sabemos exatamente quantas pessoas e quem são as beneficiárias. Agora, vamos começar um processo gradativo para estimular a regularização das entidades. No primeiro momento, 60% do material será destinado a quem está em dia com os documentos exigidos. Quem estiver ainda em processo de regularização recebe 40% e um prazo de seis meses para se adequar. Os índices depois passam para 70% e 30% até que todos os envolvidos cumpram as regras de oferecer condições dignas aos trabalhadores – salienta Leocádio Neves e Silva, presidente da Fujama.

Esgoto sanitário como prioridade

Com o objetivo de se tornar referência no tratamento de esgoto entre as cidades do mesmo porte, Jaraguá do Sul investe em uma nova estação e deve chegar a 82% de cobertura até o final do ano. Atualmente, 65% dos 160 mil habitantes são atendidos com coleta e tratamento em três estações (ETE) nos bairros Água Verde, Ilha da Figueira e Nereu Ramos.

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A quarta ETE, localizada no bairro São Luís, tem previsão de inauguração em agosto e com extensão de 114 mil metros de tubulação. A obra recebeu R$ 23 milhões por financiamento com a Caixa Econômica Federal e R$ 10 milhões de recursos próprios do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae).

– Queremos ser um município de ponta, não só na área econômica, mas também no saneamento. Hoje, temos 379 quilômetros de rede coletora e conseguiremos chegar a 464 quilômetros com a inauguração da nova etapa – afirma o presidente do Samae, Ademir Izidoro.

Projetos

Alguns bairros da cidade ainda não contam com o sistema, mas estão incluídos em projetos da autarquia, que faz planos de chegar aos 98% de cobertura. Alguns projetos já estão cadastrados no Ministério das Cidades para receber verba do governo federal. Para que a rede chegue aos bairros Jaraguá 99 e Jaraguá 84, são necessários R$ 6 milhões em investimentos. Outros R$ 7 milhões podem garantir o tratamento para os bairros Três Rios do Norte e Três Rios do Sul. Os valores são referentes à tubulação: o esgoto será direcionado à ETE já existente. Serão necessários R$ 10 milhões para modernizar o sistema.

A cidade foi escolhida para sediar a 46ª Assembleia Nacional da Associação dos Serviços Municipais de Saneamento em 2016. O evento reunirá cerca de dois mil especialistas e gestores públicos do Brasil para discutir temas como acesso a recursos públicos, as tecnologias de tratamento de esgoto e técnicas para reduzir as perdas dos sistemas e desperdício de água.

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– O saneamento é um tema de extrema importância mas que tem recebido pouca atenção em SC, basta ver que estamos em 23º no ranking dos Estados brasileiros. Quisemos trazer o evento a Jaraguá para mostrar que estamos no caminho certo.