Em três anos, Jaraguá do Sul deu um salto de qualidade no serviço de tratamento de esgoto, passando a integrar um seleto grupo de municípios brasileiros que conseguiram estender à grande maioria da população um serviço essencial para a saúde pública. Até julho, a cidade vai coletar e tratar 80% do esgoto doméstico produzido, devolvendo água limpa para os rios Jaraguá e Itapocu.

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A melhoria na qualidade da água é certa e será sentida com a redução do odor e de poluentes, cujos níveis serão monitorados. Atualmente, 54% do esgoto gerado recebem tratamento, índice alcançado em 2013, informou o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) de Jaraguá do Sul.

O feito chama a atenção porque, ao longo dos anos, o País vem evoluindo lentamente e o índice da população urbana atendida com tratamento de esgoto é de 40,8%, em média. Os dados são do diagnóstico dos serviços de água e esgoto de 2014, divulgado em fevereiro passado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.

Comparando com as cem maiores cidades brasileiras reunidas no ranking de saneamento do Instituto Trata Brasil, somente cerca de 20 apresentam índice superior ao de Jaraguá do Sul. Há casos invejáveis, como os de Limeira, São José do Rio Preto e Piracicaba, todas no Estado de São Paulo, que alcançam 100% do tratamento de esgoto. Maringá, no Paraná, chega a 93,70%.

Em Santa Catarina, onde somente 21,88% da população têm esgoto tratado, Jaraguá do Sul serve de exemplo. Na região Norte também. Para se ter uma ideia, Joinville, embora esteja acima da média estadual, coleta e trata apenas 31% do esgoto doméstico, segundo dados da Águas de Joinville – a estatística nacional mostra 18,61%, com dados de 2014. Em várias cidades da região, a situação é ainda pior.

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Fossa séptica é alternativa

A fossa séptica tem sido a principal opção na ausência de um sistema de coleta e tratamento coletivo. O diagnóstico nacional de 2014 mostra que a fossa séptica é o principal destino do esgoto doméstico de Corupá (60%), São Francisco do Sul (80%), Araquari (83%), Mafra (98%) e Itapoá (100%).

Em Guaramirim, o mesmo relatório mostra que 50% do esgoto doméstico vão para fossas sépticas e galerias pluviais. Em Garuva, 60% do esgoto são despejados em valas a céu aberto, lançados em cursos d?água e em galerias pluviais.

A Águas de São Francisco do Sul informou que tem como meta iniciar a implantação da rede de esgoto neste ano, com início de atendimento pela região das praias. A primeira a sentir o impacto positivo deve ser a praia de Ubatuba. Em sete anos, a empresa quer atingir os 52% de esgoto coletado e tratado.

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Ganho ambiental

Melhoria gradual da qualidade da água dos rios e preservação da fauna e da flora. Segundo o Samae, o fluxo dos dois rios que cortam a cidade se encontra na Vila Lalau, onde o rio Jaraguá se une ao Itapocu, e de lá seguem pelo bairro Centenário rumo a Guaramirim e Barra Velha. Portanto, o tratamento adequado do esgoto sanitário em Jaraguá vai refletir na qualidade da água dessas duas cidades também.

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Joinville espera tratar 70% do esgoto doméstico até 2023

Joinville se prepara para subir de 31% para 41% o alcance do tratamento de esgoto na cidade até 2018. Este é o tempo necessário para conclusão das obras nos bairros Guanabara, Parque Guarani, Itaum, Fátima, Jarivatuba, João Costa e Petrópolis, iniciadas em maio de 2015.

De acordo com a gerente de projetos de engenharia da Águas de Joinville, Clarissa Campos de Sá, o sistema é muito antigo, da década de 1980, utiliza lagoa de estabilização, que gera odor e não é eficiente. Toda a expansão custará R$ 80 milhões.

A principal mudança ocorrerá com a construção da nova estação de tratamento de esgoto no Jarivatuba, que vai utilizar uma tecnologia mais moderna, de lodo aditivado, e custará R$ 52 milhões. Clarissa diz que será a maior estação de tratamento de esgoto (ETE) de Santa Catarina – 600 litros por segundo no primeiro módulo.

Até 2023, a meta é alcançar 70% de cobertura no tratamento, incluindo obras previstas no Sistema Jardim Paraíso (inclui os bairros Jardim Sofia e Vila Cubatão) e Vila Nova, ainda sem recursos garantidos. Em 2016, a Águas de Joinville tenta expandir a rede coletora no bairro Boa Vista.

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Organização nas instalações

A quarta estação de tratamento de Jaraguá do Sul está localizada próxima ao Parque Malwee, no bairro São Luís. A obra custou R$ 31 milhões, dos quais R$ 22 milhões financiados. Após a inauguração, no dia 28 de março deste ano, percebe-se que não se trata de uma obra feita às pressas. Destacam-se a organização e capricho das instalações e a total ausência de odor durante todo o processo de tratamento, que dura cerca de duas horas.

A tecnologia empregada (anaeróbia e aeróbia) e a instalação de um biofiltro são responsáveis pela ausência de cheiro.

– Nenhuma estação antiga era projetada para tratar o cheiro – explicam técnicos do Samae.

A estação também é automatizada. As condições operacionais podem ser visualizadas de qualquer lugar remotamente.

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– Com recursos, priorização e fiscalização, é possível fazer tudo em três ou quatro anos – afirma o presidente do Samae, Ademir Izidoro.

Como Jaraguá atingiu a meta

O custo elevado é um dos principais entraves para expansão da rede de esgoto. Segundo cálculos da Águas de Joinville, a “obra para implantação de uma rede coletora de esgotos pode ser três vezes mais cara do que uma obra de rede de distribuição de água”, diz Clarissa Campos de Sá, da Águas de Joinville.

Isto explica por que, no Brasil, a população urbana atendida por rede de água chega a 93,2% em média, contra 40,8% de tratamento de esgoto. Mas se há tamanha dificuldade, como Jaraguá conseguiu avançar?

O principal fator foi o planejamento. O município se antecipou, elaborando o projeto da nova estação enquanto aguardava a oportunidade de abertura de financiamento. Futuras melhorias nas estações também já estão previstas em projeto, só aguardando recursos. Para executar o plano da nova estação, os técnicos do Samae enfrentaram o desafio da topografia da cidade, que apresenta diferentes relevos.

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O poder público, por sua vez, teve de lidar com as reclamações por causa dos transtornos das obras. A estratégia não foi recuar, mas apostar na informação. Visitas domiciliares e confecção de cartilhas ajudaram na conscientização. Uma pesquisa realizada na cidade mostrou que 99% da população consideram o saneamento importante para a cidade.

Os números da nova estação

Cobertura: 10 mil residências até julho.

Bairros atendidos: Vila Lenzi, Nova Brasília, Jaraguá Esquerdo, São Luís, Tifa Martins, Barra do Rio Molha, Barra do Rio Cerro e Jaraguá 99. Estes bairros eram atendidos até então com fossa-filtro.

Extensão da rede de coleta: 84,8 km.

Investimento: R$ 22 milhões, financiados pela Caixa Econômica Federal, e R$ 9 milhões de recursos próprios.

Contrapartida da população: Pagamento de taxa correspondente a 80% do valor da fatura de água.