O primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda dissolveu nesta sexta-feira a Câmara dos Deputados, o que abre caminho para eleições legislativas antecipadas que devem fechar um período de três anos no qual a esquerda precisou enfrentar a crise global e o devastador tsunami de março de 2011.
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A dissolução proposta pelo chefe de Governo de centro-esquerda poucos meses antes do fim da atual legislatura foi aprovada pelo imperador Akihito e festejada pelos três “Banzai” dos deputados, que levantaram os braços como manda a tradição. Noda havia prometido aos partidos da oposição satisfazer sua demanda de convocar rapidamente eleições antecipadas se algumas leis importantes, incluindo a que autoriza o Estado a emitir novos bônus do Tesouro, recebessem o apoio da direita.
Nesta sexta-feira, dois textos essenciais foram adotados graças aos conservadores, que controlam o Senado e que bloqueavam a aprovação há vários meses.
Após uma campanha de duas semanas, as eleições legislativas acontecerão em 16 de dezembro, com novos partidos que poderiam semear a discórdia entre os dois maiores, o Partido Democrático do Japão (PDJ), no poder, e o Partido Liberal Democrata (PLD), líder dos conservadores.
Noda é o terceiro primeiro-ministro do PDJ, uma formação criada em meados da década de 1990 e que chegou triunfante ao poder em meados de 2009, depois de meio século de domínio quase ininterrupto da direita.
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Esta alternância história, no entanto, pode acabar nas próximas eleições legislativas.
A população, que colocou tanta esperança na esquerda, não tem mais confiança e, em três anos, o sonho do PDJ virou pesadelo.
Inexperientes e marcado por correntes hostis, o PDJ tem atraído a ira de seus vizinhos chineses, coreanos e russos, que não deixaram de usar a sua fraqueza diplomática e de um esfriamento das relações com Washington, multiplicando as provocações relacionadas a territórios em disputa.
Menos de um ano depois de sua vitória e de uma troca de primeiro-ministro, o PDJ perdeu as eleições para o Senado e passou a comandar um país ingovernável.
Diante de um iene nas alturas e afetado pela crise econômica mundial, o PDJ teve que desistir de suas promessas mirabolantes de gestão escrupulosa dos fundos estaduais e de redistribuição.
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Mas, acima de tudo, teve de enfrentar e gerenciar a pior tragédia vivida pelo Japão: tsunami, terremoto e acidente nuclear de 11 de março de 2011, uma catástrofe humana, ambiental e econômica da qual o país está longe de se recuperar plenamente.
Nesse contexto, a direita, liderada pelo ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, não deixou de criticar “as promessas irreais do PDJ”.
Este nacionalista convicto, que conduziu o país de setembro de 2006 a setembro de 2007, é o favorito para se tornar o novo chefe de Governo.
Em seus anos nas sombras conseguiu entrar em sintonia com o povo.
“Vamos acabar com o caos atual, devido a um mal-entendido do que é a administração de negócios”, declarou Abe nesta sexta-feira.
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Ele acrescentou: “A coisa mais importante é reconstruir a economia, a região afetada pelos desastres e as relações diplomáticas.”
Abe tem ainda mais chances de alcançar seus objetivos que o PDJ que está em frangalhos. Dezenas de deputados abandonaram o governo antes mesmo da dissolução para participar da criação de um novo partido de esquerda, ou compactuar plenamente com o “inimigo”.
Contudo, o novo premier terá que ser cauteloso com os líderes de partidos novos, que ainda não determinaram o seu lado, como o ex-governador de Tóquio Shintaro Ishihara e o prefeito de Osaka, Toru Hashimoto.
Para além dos destinos pessoais, o Japão continua a ser o reino de instabilidade política: a mudança de primeiro-ministro iminente será a sétima desde 2006.
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