O fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, 45 anos, já fotografou ao longo da carreira um bom número de artistas e figuras públicas para campanhas publicitárias e editoriais de moda. Sempre reservou um clique para si. E agora 150 deles estão reunidos no livro Público (Editora Livre, 220 páginas, R$ 250).
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> Confira galeria com fotografias de personalidades feitas por Jairo Goldflus
Zero Hora – O senhor começou este projeto para ter imagens em seu estúdio das pessoas com quem havia trabalhado. O que o levou a transformar o material em livro?
Jairo Goldflus – Sempre trabalhei com publicidade e editorial, nunca fazia coisas para mim. Há uns oito anos, comecei a fotografar quem trabalhava comigo para ter uma imagem para a minha parede. Meu estúdio é um galpão, então enchi uma fileira na parede com as imagens, enchi duas, e quando vi, a parede estava lotada. E as pessoas que vinham trabalhar aqui gostavam muito, diziam: “Nossa, quero estar nessa parede”. Aí começaram a me cobrar: “Por que não faz um livro?”. E aí decidi fazer, mas queria mais um tempo ainda para correr atrás das pessoas que, tecnicamente, não viriam trabalhar comigo por não fazerem publicidade ou editorial. Comecei a convidá-las para vir ao meu estúdio. Essa segunda parte do processo levou três anos.
ZH – O livro mescla retratos minimalistas e produções com figurino, em que o fotografado é convidado a interpretar um personagem. Essa ideia do personagem surgiu para as fotos ou veio incorporada a coisas que o senhor já estava fazendo na sessão fotográfica que estava contratado para fazer?
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Goldflus – O critério era não ter critério. Este livro está saindo sem patrocinador, sem Lei Rouanet, porque eu queria fazer o livro do meu jeito do começo ao fim. O que eu queria, inclusive dos retratos mais simples, era pegar um movimento de olhar, de sorriso, algo diferente, não simplesmente fotografar essas pessoas da maneira como elas são vistas normalmente. No conjunto, essas imagens não seriam editadas comercialmente. Cada caso foi um caso.
ZH – Houve alguma situação em que essa caracterização não funcionou e o senhor precisou partir para um retrato mais simples?
Goldflus – Houve troca de personagens, eu diria. O Marcelo Tas, por exemplo. Eu estava com uma determinada ideia, e ele me lembrou que foi aeronauta, fez três anos de academia de voo. Então, em cima disso já comecei a trabalhar.
ZH – Muitos fotógrafos falam de como conseguir uma imagem que seja fiel ao retratado mas que mostre algo novo. Como o senhor trabalha essa relação?
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Goldflus – Há muitos métodos, você escolhe aqueles com os quais mais se adapta. No meu caso, gosto de conversar, gosto de falar. Eu sou o primeiro a chegar no estúdio, recebo a pessoa, converso com ela, e nesse momento já começou o trabalho fotográfico. O fato de não estar clicando não significa que não estou pensando na imagem. A minha função é fazer dessa sessão fotográfica “o dia da noiva”, criar um ambiente confortável para que, quando a pessoa estiver no set, eu já saiba o que quero. Demoro uma hora e meia para preparar a pessoa para o set: conversamos, sirvo um café, um chá, acertamos o figurino. Na hora do clique, levo uns cinco ou 10 minutos, não passa disso. Quero naturalidade, quero aquele sorriso e aquela montagem de verdade. Quando a pessoa começa a repetir os gestos, já começa a não funcionar. Por mais que a pessoa esteja dentro de uma caracterização exercendo um personagem, quero que aquilo seja único. Cabe a mim saber o momento. A função do fotógrafo é saber o momento de dar a ferroada para tirar essa essência.