Nem que eu viva 100 anos vou esquecer daquele dia. Primeiro inverno morando na Praia do Rosa, ainda me adaptando à nova vida em Santa Catarina, recém-chegada de Porto Alegre, onde tinha morado até então. Urbana confessa, deixava a vida na cidade grande para abrir, junto com meu marido, uma pousada.

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O ano era 1996 e aquele o nosso primeiro inverno. Mês de agosto, céu cinza, tempo frio, mar tranquilo e pousada vazia. Olhava para o horizonte e questionava-me se tinha feito a escolha de vida certa. Que o verão nos reservaria coisas maravilhosas nesta bela e Santa Catarina, isso qualquer gaúcho sabe desde pequeno. Praia linda, mar cristalino, areia branca e os hóspedes que viriam compor esse sonho. Mas e o inverno? Olhava o mar e pensava como seria o “para sempre”aqui na Praia do Rosa. Perguntava-me onde estaria a “magia” do inverno?

E veio então a cena que eu jamais vou esquecer: uma baleia saltou fora d?água e desfilou inteira na frente dos meus olhos. Cabeça, corpo e cauda negros! Pisquei e olhei em volta para me certificar que mais alguém também tinha visto. Mas eu estava sozinha na minha conversa com o horizonte.

Cheguei a pensar que era uma alucinação. Baleias? Elas não estavam extintas? Há muito não se viam baleias por aqui. Só que ela saltou mais uma vez. E outra ainda. Majestosa, imensa, uma enorme massa negra claramente definida contra o céu cinza. Como se quisesse me dizer “sim, vai dar tudo certo”.

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Corri para contar para todo mundo, ninguém acreditou, ninguém mais tinha visto. Foi só pra mim. Foi um recado da vida. Foi uma resposta do horizonte às minhas perguntas naquela manhã fria de agosto. De lá para cá, todos os invernos mais e mais baleias francas retornaram arrancando sorrisos, encanto e admiração de todos.

Mesmo assim, guardo aquela primeira vez para sempre num lugar especial da memória, vívida como se fosse hoje, lembrando que a mágica e a força da vida estão em todos os lugares. Em qualquer estação. Basta querer ver.

* Jackie, 52 anos, hoteleira, gosta de curtir a Praia do Rosa nesta época do ano pela tranquilidade, o clima de praia durante o dia e o de serra à noite. Escreveu esta crônica especialmente para a Revista de Inverno do Grupo RBS.

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