Desde que surgiu para o mundo da música, vestindo branco e vermelho na virada para os anos 2000, com o White Stripes, Jack White tem se empenhado em construir uma identidade musical própria. Se vai conseguir ou não, é puro exercício de futurologia, mas Lazaretto, seu recém-lançado segundo disco de estúdio, oferece algumas pistas.
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Ainda que tenha mudado o guarda-roupas (ele agora veste azul dos pés a cabeça), White segue reverente a algumas das pedras fundamentais da música americana _ não à toa, sua gravadora, a Third Man Records, vem se especializando em resgatar ídolos do passado, de Jerry Lee Lewis (rock) às cantoras Wanda Jackson (rockabilly) e Loretta Lynn (country). Em Lazaretto, o blues e o rock estão presentes, sim, embora em menor intensidade do que no anterior Blunderbuss (2012), sua estreia solo. Mas White se permitiu ir além.
O músico eleito um dos 20 maiores guitarristas do mundo pela revista Rolling Stone, estrela do documentário A Todo Volume (2008) ao lado de The Edge (U2) e Jimmy Page (Led Zeppelin), explora agora outras vertentes da cultura sonora dos Estados Unidos _ algo impensável nos tempos do White Stripes, quando o importante era detonar o punk rock com uma guitarra de plástico. Mas, justiça seja feita, foi com a baterista Meg White que ele tomou gosto pelo blues eletrificado, DNA das excelentes Three Women e Would You Fight for My Love _ duas pauladas setentistas de guitarras distorcidas e vocais histriônicos presentes em Lazaretto.
Uma indicação ao Oscar (pela trilha sonora de Cold Mountain, em 2004) e 25 ao Grammy, contudo, são conquistadas com mais do que uma guitarra e uma bateria. O apetite de White pela experimentação o levou ao Dead Weather, projeto que aperfeiçoou seu timbre e está presente em Lazaretto no petardo instrumental High Ball Stepper, em That Black Bat Licorice e na faixa-título.
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O que faltava era alguma justiça ao country, que ele havia pincelado no grupo Raconteurs _ banda que formou depois do White Stripes e antes do Dead Weather e da estreia solo. Em Lazaretto, essa falha parece ter sido corrigida em excesso, e a caipirice domina quase metade do disco. As cores do (velho) oeste americano se fazem presentes nas cordas de Temporary Ground, na pegada quase dançante de Just One Drink e nas gêmeas e delicadas baladas Alone in My Home e Entitlement. I Think I Found the Culprit poderia ser usada numa trilha sonora de faroeste moderninho, e Want and Able é toda carregada pelo pianinho de saloon.
O tom excessivamente country pode tornar Lazaretto de difícil digestão para quem está chegando agora ao universo de White, mas não deve causar estranheza para os antigos fãs. A exemplo dos trabalhos de Josh Homme (Queens of the Stone Age) e Nick Cave, o álbum tem a impressão digital indelével de seu criador _ que já se via desde os tempos do White Stripes. Para o bem e para o mal, Lazaretto é um disco que somente Jack White poderia fazer.
JACK WHITE EM CINCO CLIPES
Fell in Love with a Girl
Um dos singles do terceiro disco dos White Stripes, White Blood Cells (2001) e responsável por apresentar a banda ao mundo. O clipe, uma animação feita com Lego, é assinado pelo cineasta Michel Gondry, de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.
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I Just Don’t Know What to Do with Myself
Do disco Elephant, a versão roqueira do clássico de Burt Bacharach foi filmada por Sofia Coppola (Encontros e Desencontros) e estrelada pela modelo Kate Moss se perfazendo o pole dance.
Steady, As She Goes
Primeiro e maior hit dos The Raconteurs, projeto de White com Brendan Benson, Patrick Keeler e Jack Lawrence. O clipe foi dirigido por Jim Jarmusch (Flores Partidas).
Sixteen Saltines
Do primeiro álbum solo de White, Blunderbuss (2012). Remete a história de O Senhor das Moscas. Dirigido por AG Rojas.
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Lazaretto
Single do recém-lançado Lazaretto.