— Construir é difícil, mas dá para reconstruir com o tempo. Já passei por coisa pior na vida, enfrentei a ferroada de uma arraia, e não é isso que vai derrubar.

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O desabafo é do aposentado Adolar Knetsch, que acompanhou uma das duas casas erguidas por ele no terreno da família, no Jardim Paraíso, depois de um incêndio na tarde de terça-feira (9), em Joinville. A residência de madeira e 45 metros quadrados pegou fogo por volta das 13 horas e consumiu roupas, móveis, eletrodomésticos e documentos dos netos e bisnetos, que ocupavam a moradia.

O incêndio foi o quarto envolvendo moradia residencial na cidade somente neste mês, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (CBVJ). Desde 1º de janeiro, foram 117, quantia que representa 54,9% do número de ocorrências do gênero envolvendo edificações no ano, no município (213 casos).

“É uma marca a mais”, diz morador ferido

Adolar reside com a esposa, Jurema Severino, e outros netos do casal na casa ao lado e ajudou a resgatar os parentes do meio do fogo após ouvir do neto Mikael Voit, aos gritos: “Vô, vô, fogo!”. O rapaz dormia em um dos quartos da casa depois de chegar do serviço e acordou com as chamas já tomando conta da casa, construída há 15 anos. Segundo os moradores, o fogo iniciou na sala e tomou conta de um sofá.

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Antes disso, porém, Adolar puxou o sofá para perto de uma das portas liberando espaço para que Mikael retirasse seus dois filhos de dentro do imóvel, um menino de três anos e três meses e uma menina de um ano e meio. Enquanto tentava retirar o móvel, o idoso foi atingido pelas chamas, no rosto.

— Puxei o sofá para perto de uma das portas para que ele conseguisse sair com as crianças pela outra. Nisso veio o fogo para cima de mim e atingiu meu rosto. É uma marca a mais, já tenho muita história e ainda tenho coisas para viver — afirma.

Apesar da queimadura na região da testa, Adolar recusou ser levado até o hospital e preferiu fazer o tratamento em casa. Os demais não chegaram a se ferir e outros dois moradores da casa, a mulher de Mikael, Vanessa Martins, e o primo dele, Rafael Amancio, estavam trabalhando no momento do incêndio. Ela perdeu os documentos pessoais e os pertences do casal, ele as peças de roupas que tinha.

— Me avisaram no serviço e o patrão me trouxe até aqui. Não sobrou nada, só a roupa do corpo — comenta Rafael, que hoje utilizava uma gravata como cinto para segurar a calça jeans entre o corpo.

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Fogo consumiu tudo em minutos

Os bombeiros voluntários chegaram a ser acionados, mas em questão de minutos o fogo já havia tomado conta da casa, conforme o relato da família. Foram gastos sete mil litros de água e, mesmo assim, restou apenas um pedaço de piso e parte de uma estrutura de alvenaria. O carro da família ficou chamuscado e foi salvo porque eles estouraram o vidro do veículo para tirá-lo da garagem que logo veio abaixo.

Na outra casa do imóvel, na Rua Doze Treze, que não chegou a ser atingida, parte da estrutura externa de um ar-condicionado derreteu e as roupas que estavam no varal foram perdidas. As árvores do quintal também tiveram as folhas queimadas e um pequeno rancho de ferramentas agora é limpo para receber futuras doações que começam a chegar aos familiares. Também é nesta segunda casa, que desde ontem todos passaram a viver – avós, netos e primos.

— O importante é que estão todos vivos e temos comida em casa, por enquanto. Eles vão ficar aqui até conseguirmos reconstruir o que foi perdido — comenta a avó de Mikael, Jurema Severino.

Mobilização por doações

Adolar Knetsch passou a manhã desta quinta-feira (10) limpando a área afetada pelo fogo e conta que pessoas da comunidade já começaram a se mobilizar para doar utensílios necessários. O que eles mais precisam nesse início de reconstrução é de roupas, louça e panelas. Móveis e outros materiais, conforme forem doados, serão guardados pela família no rancho. “Deus tem mais para dar do que o capeta para tirar”, refletia Jurema, que busca se conformar com o ocorrido por meio da fé.

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Vizinho dos moradores, seu Gilmar que é conhecido na região como “Mazinho”, mora há 30 anos na rua e diz que já presenciou cinco incêndios residenciais na localidade nos últimos sete anos.

— O que digo para eles é que tudo é superável e é preciso manter a cabeça em ordem, porque isso reconstrói. Só não há jeito para a morte, o resto dá para correr atrás.

Para quem desejar entrar em contato com a família e ou contribuir com doações, as informações podem ser obtidas pelo telefone (47) 3437-1027.

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