Na Blumenau de povo ordeiro e trabalhador, o termo Carnaval soa quase como um estrangeirismo. Alguns arriscam dizer que a versão da festa na cidade rola em outubro, nos seus 18 dias de folia. Na noite de sábado, quando completaram-se 167 anos da chegada dos 17 laboriosos imigrantes alemães por aqui, o furacão Ivete Sangalo veio a Blumenau pela segunda vez em 10 anos para provar que, mesmo respeitando as diferenças culturais, o blumenauense também gosta de diversão. O setor 2 da Vila Germânica, mesmo longe de estar lotado, virou uma mistura de balada e micareta em pleno setembro.
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A noite começou com talento local. D’Lara esbanjou domínio de palco e emoção começando a dar o ritmo da festa. Às 23h, a Cavalinho fez lembrar porque o zique-zaque agrada tanto quem é daqui e já deixou todo mundo ansioso para outubro.
Para o promotor de merchandising Rafael Souza, 20 anos, porém, a alegria começou muito antes dos shows de abertura. Às seis da manhã, quando nem o desfile da Rua XV tinha começado, ele encostou na grade para garantir o melhor lugar da noite, ainda que 19 horas depois, para assistir com cartaz em mãos ao nono show da musa do axé. O 10º, aliás, já tem data marcada: dia 15, no Rock in Rio.
– Adoro a energia que ela transmite nas músicas, é o que mais me cativa – conta.
Duas ou três fileiras imaginárias atrás estavam Sinara Buerger Cardoso, 36 anos, e as 14 amigas com camiseta de Veveta que a acompanharam ao show. Ansiosa para ouvir Céu da Boca e ver de perto a simplicidade da cantora que admira.
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Um presente para todos
Quando subiu ao palco, com o figurino preto e azul com o brilho do que a olhos pouco treinados parecia paetê, Ivete fez o que prometera minutos antes em entrevista no camarim:
– Vou fazer um show de presente para Blumenau, mas de presente para mim também, porque eu mereço – brincou.
“Farol” abriu o set-list fazendo todo mundo pular enquanto ainda publicava as primeiras stories no Instagram. Dali pra frente foi só tempo de alegria, festa de gueto mesmo, que levanta poeira. No primeiro papo com o público, a simpatia extrema apareceu com elogios à cidade e promessa de não ficar mais 10 anos sem pintar por aqui. Depois a folia seguiu com Arerê, Pra Frente – que fez namorados se desdobrarem para acompanhar o pique das meninas. Os nove músicos, com forte peso da percussão e metais, davam o arranjo necessário para a festa.
Durante o show Ivete ganhou flores, ursinho, boneca. Guardou, agradeceu e contou histórias como quem conversa com amigos. Antes de O Doce e de um verdadeiro pot-pourri de Carnaval, que teve da clássica Beleza Rara até a mais recente Faraó, Ivete convidou todos para se sentirem como convidados em seu trio elétrico em Salvador. Sem se dar conta, mesmo como visitante na cidade que aniversariava, já havia virado anfitriã de um bloco genuinamente blumenauense.
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