A corrida pela ivermectina fez o medicamento acabar no estoque de muitas farmácias em Santa Catarina, o que tem levado à busca pelo remédio em agropecuárias. Propagandeado como um suposto tratamento para o coronavírus – embora sem comprovações científicas -, o medicamento também é usado para tratar sarna e verminoses em animais, e são esses medicamentos sem qualquer indicação para uso em humanos que muitas pessoas estão comprando, segundo entidades da classe veterinária.

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Em nota, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) alerta que os remédios de uso animal não devem ser usados por humanos “sob nenhuma hipótese”, pois podem trazer “reações adversas graves e efeitos colaterais severos”. Para o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina (CRMV-SC), Marcos Vinícius de Oliveira Neves, a prática é “completamente inadequada”:

– Os medicamentos veterinários não podem ser usados por humanos porque não passaram pelos testes previstos para aprovação de medicamentos humanos. Ele não traz a garantia da segurança e da eficácia daquele princípio ativo para quem toma. Temos percebido o aumento na procura e estamos providenciando que o Ministério Público atue em alguns estabelecimentos que foram denunciados por comercializar o medicamento para uso em humanos.

Uma das denúncias envolve um vídeo que circula nas redes sociais, gravado em uma agropecuária na Serra catarinense, que mostra um homem bebendo uma dose de ivermectina injetável para animais de grande porte (bovinos e suínos). Com uma dosagem alta – a recomendação é de 1 ml para cada 50 quilos de um boi – o remédio em seu uso correto deve ser injetado no animal, para uma liberação lenta. Ao beber o líquido, a pessoa se arrisca a ter uma série de efeitos adversos, conforme explica o médico veterinário Luiz Fernando Schuch, que atua na Grande Florianópolis:

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– Teve uma demanda grande [pela ivermectina nas agropecuárias] quando acabou nas farmácias humanas. O pessoal começou a usar primeiro em comprimidos, usada em cães, mas o produto logo acabou porque as agropecuárias não tem grandes estoques. O remédio é muito usado também em bovinos, só que é injetável, e o pessoal começou a demandar esse, para tomar o líquido. É preocupante.

Em maio, quando os primeiros estudos relacionados à ivermectina foram publicados, muitas farmácias começaram a ficar sem estoque da droga. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) chegou a receber denúncias de que a procura estaria aumentando em outros estabelecimentos, como agropecuárias e clínicas, o que motivou a entidade a emitir uma nota sobre essa situação.

No texto, o CFF diz que a consequência do uso de remédios veterinários em humanos são efeitos colaterais, “como dores de cabeça, diarreia e vômitos, ocasionados pelo consumo de produtos desconhecidos em suas formulações” e fez um apelo para que as pessoas não consumam esses medicamentos “por conta da não eficácia e segurança”.

Uso da ivermectina para tratar a covid-19

A ivermectina é um vermífugo indicado para o tratamento em humanos de parasitas e piolhos, e que vem sendo um dos medicamentos já existentes pesquisados no combate ao novo coronavírus – como a cloroquina. A publicidade em cima do remédio surgiu após resultados positivos da Universidade Monash, na Austrália, onde pesquisadores atestaram a eficácia da ivermectina contra o coronavírus em testes in vitro.

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Todos os resultados até agora, no entanto, foram em células dentro de laboratórios. Conforme a própria universidade, ainda não há informações suficientes sobre o uso do vermífugo em humanos com covid-19 – e essa é a fase seguinte da pesquisa, que está em curso. Antes de resultados confiáveis em pessoas, a automedicação com a ivermectina não é recomendada para pacientes com sintomas ou na forma de prevenção.

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