A água que deu fama à qualidade da cerveja produzida pela Antarctica, em Joinville, poderá voltar a ser explorada depois de 14 anos. O título que autoriza a pesquisa da água mineral será leiloado no dia 19 pelo Instituto de Trânsito e Transporte (Ittran). A empresa que oferecer o melhor preço em leilão presencial será, a partir do ano que vem, a responsável por explorar a água.

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Antes de explorar comercialmente, a empresa precisa estudar a qualidade da água mineral e definir a quantidade que pode ser retirada. A exploração exige licenciamento por parte do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

Os poços de onde vinha a água usada na fabricação da cerveja estão localizados em um terreno na rua Padre Anchieta, no bairro América. O terreno e o complexo da cervejaria foram comprados pelo município que, em 2010, entrou com processo de tombamento, transformando o espaço em patrimônio cultural. Este pode ser um dos empecilhos para dar continuidade ao processo.

O diretor técnico operacional do Ittran, Renato Godinho, garante que o tombamento não impedirá a exploração da água que, segundo ele, é responsabilidade da União. Para fazer uso da água, Godinho explica que não há necessidade de explorar o terreno, porque o trabalho é feito por meio de tubos que dão acesso ao subsolo.

– Existe uma lei que determina que a água mineral seja explorada – completa.

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Ainda segundo o diretor, quando a empresa iniciar a exploração, o município poderá ser beneficiado com royalties da água mineral.

O coordenador de Patrimônio Cultural, Raul Walter da Luz, diz não ter conhecimento sobre o leilão, mas acredita que o tombamento não impediria a exploração. Ele ressalva que qualquer atividade feita em propriedade tombada precisa passar pela aprovação da Comissão de Patrimônio que vai averiguar se a intervenção é ou não apropriada.

O processo

Desde setembro de 2011, a autorização estava sob a responsabilidade da extinta Conurb, que até julho se tratava de economia mista e, portanto, tinha o direito de permanecer com o título. Com a mudança jurídica, tornando-se uma autarquia, o Ittran precisou se livrar da autorização. Conforme a regulamentação do DNPM, o município não pode se responsabilizar pela portaria de lavra que permite a exploração de mineral. Por isso, desde que a fábrica deixou de atuar em Joinville, a autorização dos poços permaneceu no nome da extinta Conurb.

– A concessão deve gerar lucro, o título de lavra não é para ser exercido por entidade pública e sim para gerar renda – explica o superintendente do DNPM, Marcos Zunblick.

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A empresa que ganhar o leilão, por sua vez, só poderá iniciar a pesquisa e futura exploração, se for autorizada pelo departamento. Segundo o superintendente, esse tipo de negociação ocorre, geralmente, por meio de processo licitatório.

O DNPM ainda não foi informado sobre a mudança jurídica do instituto, nem sobre o leilão. O superintendente diz que é importante consultar o órgão para saber o procedimento adequado.

– Seria interessante que fizessem uma consulta antes de vender uma coisa que, de repente, não pode ser transferida – analisou.

Poços que guardam história

O terreno que abriga os poços responsáveis pelo sabor da cerveja da Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, em Joinville, está abandonado. O poço artesiano e uma espécie de cisterna ainda estão lá, nas imediações do Morro Alto. Cobertos pela vegetação, os compartimentos não parecem conter a fonte preciosa que fez a fama da cerveja.

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A moradia do antigo caseiro está desocupada e deteriorada e a água escorre por um pequeno cano quebrado e encharca o terreno, cristalina e gelada. Funcionários de uma empresa terceirizada pelo Ittran passaram a sexta-feira roçando o terreno onde ficam os poços.

Nos anos 40, a Antarctica comprou a Cervejaria Catharinense. A água não precisava ser tratada e ia direto para a fabricação. A empresa encerrou a sua história em Joinville em 1998.