Quem passa por Itaquera, bairro da Zona Leste de São Paulo, tem de olhar com cuidado por onde anda: blocos de cimento, cavaletes, redes de proteção e operários apressados, de capacetes e ferramentas em mãos, são armadilhas fáceis para transeuntes distraídos. Desde o começo de 2011, quando foi escolhida como a sede paulista para a Copa do Mundo de 2014, a região vive clima de reforma. Por ali, de segunda à segunda, 1730 funcionários se revezam para erguer a Arena Corinthians, o palco de seis partidas no Mundial – incluindo a abertura, em junho.

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Entre bate-estacas e poeira, Itaquera espera uma transformação social. Com população predominante da classe C (58% em 2008, segundo pesquisa da Folha de S. Paulo) e afastado dos grandes centros de emprego, o bairro assiste à construção de um pólo comercial nos entornos do estádio. Até a Copa, serão criadas faculdades técnicas do governo, uma rodoviária, um fórum judiciário, um centro de convenções e laboratórios de tecnologia. A missão, dizem os governantes, é desenvolver a região periférica em tempo recorde – até março de 2014, às vésperas da estreia do evento.

Para Renato Anelli, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos, o planejamento está “mais ou menos correto”, mas não servirá para tirar o atraso da região.

– Fórum, centros tecnológicos, áreas com serviço, tudo isso é ótimo, mas foi pensado em 78, 79. Já deveriam ter ocorrido há muito tempo, trazendo oferta de emprego para Zona Leste – diz Anelli.

Segundo o professor da USP, o ideal seria fazer como Barcelona-ESP, sede da Olimpíada de 1992: aproveitar o evento para investir pesado em planos novos que trouxessem mais ofertas de trabalho.

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Outro problema apontado por arquitetos que estudam o projeto da Copa está na mobilidade. São Paulo está investindo em obras viárias – R$ 478,2 milhões com recursos do governo do estado e da prefeitura – e deixando de lado o metrô e outras soluções que desafogariam o insustentável volume de carros na região. Para o grupo, a medida demandará o surgimento de inúmeros estacionamentos em Itaquera em vez de espaços de conveniência.

Especialistas também mostram preocupação com a lentidão das desapropriações requeridas para as obras de acesso ao estádio. Em fevereiro, o secretário estadual de Transportes e Logística, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou que se as famílias não mudarem de residências até abril, é provável que o cronograma atrase. Um mês depois, Nádia Campeão, vice-prefeita e autoridade responsável pela organização do Mundial na capital paulista, afirmou a Zero Hora que “as obras exigem poucas desapropriações e estão no prazo”.

Em 5 de março, a Arena Corinthians atingiu 66% de conclusão. A previsão é de que o estádio fique pronto até dezembro. Nas últimas semanas, porém, o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez foi a público dizer que as obras correm risco de serem interrompidas por questões financeiras. A arena custa oficialmente R$ 820 milhões – R$ 420 vindos de títulos imobiliários da Prefeitura de São Paulo e R$ 400 milhões de empréstimo do BNDES. Segundo Sanchez, os documentos necessários para o financiamento estatal ainda não foram emitidos. Se não houver logo a liberação, afirma Sanchez, o Corinthians não terá como arcar com os gastos.

SÃO PAULO

Estádio: Arena Corinthians (R$ 820 milhões)

Conclusão: 66%

Investimentos na cidade: R$ 478,2 milhões em obras viárias, sendo R$ 345,9 milhões do Estado e R$ 132,3 milhões da prefeitura. Devem terminar no primeiro semestre de 2014.

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Problemas: as desapropriações do entorno de Itaquera não foram concluídas. De acordo com engenheiros, se não completadas até abril, pode haver atraso na entrega do estádio.