A cerimônia de posse do novo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, foi marcada por algo que a diplomacia tem como uma das suas principais características: o protocolo.
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Em meio a elogios mútuos, Figueiredo e o ministro que ele substitui, Antonio Patriota (que ficou dois anos e oito meses no cargo), falaram na importância de se respeitar a hierarquia e trocaram elogios na presença da presidente Dilma Rousseff.
Figueiredo assumiu após a crise diplomática provocada pela operação que retirou o senador boliviano Roger Pinto de La Paz, no fim de semana – um caso classificado, justamente, como de desrespeito à hierarquia. O boliviano, que é opositor ao presidente Evo Morales e responde a 20 processos no seu país, estava abrigado havia um ano e três meses na representação brasileira. A decisão de trazê-lo ao Brasil teria sido tomada individualmente pelo então encarregado de negócios da embaixada em La Paz, Eduardo Saboia, sem quaisquer consultas a superiores hierárquicos da diplomacia brasileira.
– A hierarquia não exclui o debate de ideias. Queremos um Itamaraty arejado e aberto a novos conceitos, mas o debate de ideias não substitui a obediência à institucionalidade – disse ele.
O novo chanceler ocupava a função de representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Para a ONU, irá Patriota. Nos discursos de ontem, ambos se chamaram de amigos.
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Figueiredo também reconheceu que terá uma “tarefa desafiadora”, de cumprir “as diretrizes da presidenta Dilma Rousseff, tornar o Ministério das Relações Exteriores cada vez mais útil ao governo e mais próximo ao parlamento e à sociedade civil”.
E elogiou Patriota.
– Trata-se de suceder um dos maiores talentos da diplomacia brasileira, meu amigo Antonio Patriota. Nele me inspiro para enfrentar as variadas e complexas questões internacionais que cabe a um país do porte do Brasil – disse o novo chanceler.A respeito de Dilma, Figueiredo salientou o papel que a presidente desempenhou em conferências ambientais, tema para o qual ele dedicou boa parte do seu trabalho como diplomata. Antes de passar o cargo para Figueiredo, Patriota criticou o ato de Sabioa.
– A atuação independente de servidor em La Paz em assunto de grande sensibilidade, e sem instruções, representa conduta que não pode voltar a ocorrer – disse ele, evitando citar o nome do diplomata.
E, dizendo-se “eternamente grato” a Dilma por tê-lo escolhido chanceler, acrescentou, com a voz embargada:
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– É imprescindível o respeito à hierarquia e às cadeias de comando. Sem isso, correríamos os riscos de desencadear processos de consequências imprevisíveis, capazes de acarretar prejuízos à nossa coesão, nossa credibilidade, nossa capacidade de ação e habilidade para exercer influência e solucionar questões, até mesmo aquelas com componente humanitário e de proteção aos direitos humanos.
Depois, Patriota disse que “não poderia haver melhor escolha que a de Figueiredo” e o elogiou:
– O embaixador Figueiredo exibe um dos currículos de realizações mais expressivos entre os diplomatas de nossa geração. Talvez mais simples seja dizer que ele foi o diplomata que produziu o futuro que queremos na Conferência Rio+20 – disse, em referência à atuação do novo chanceler como negociador chefe da delegação brasileira no evento ambiental.
Evo Morales quer senador na Bolívia
No mesmo dia em que era trocado o mando da chancelaria brasileira, o presidente boliviano, Evo Morales, pronunciou-se pela primeira vez a respeito do caso do senador opositor foragido Roger Pinto, pedindo ao governo brasileiro que entregue o político para que ele possa se apresentar à Justiça boliviana.
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– É importante devolver Roger Pinto à Justiça boliviana para que seja julgado como qualquer autoridade envolvida em temas de corrupção – afirmou Evo em uma entrevista coletiva ontem à tarde.
Evo afirmou que Pinto “não é um perseguido político, mas um delinquente”, um “foragido da Justiça”.
O presidente pediu ao Brasil que cumpra os acordos internacionais em termos de asilo e anunciou que sua equipe jurídica analisará seriamente o tema do desrespeito a esses acordos.
– É importante que o governo brasileiro explique o porquê da operação (que permitiu a saída de Pinto).
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No Brasil, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, disse que a decisão pela concessão ou não de refúgio a Pinto não será política, mas técnica. O aval para a permanência do estrangeiro depende do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) e, em última instância, do Ministério da Justiça.