O silêncio obrigatório que precede o pleito de domingo teve início ontem à noite na Itália, depois de uma campanha ruidosa.

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Entre os quatro principais candidatos, o cenário é turvo: segundo as pesquisas, não há favoritos para compor um governo estável em um dos países mais endividados da zona do euro.

As sondagens mais recentes apontam a vitória de Bersani com quase 34% das intenções de voto, seguido pela coalizão de direita de Silvio Berlusconi, com quase 30%.

O comediante Beppe Grillo, do Movimento Cinco Estrelas (MCE), ficaria com 17% e a coalizão de centro de Mario Monti, entre 10% e 12%. A preocupação dos partidos e da comunidade internacional sobre um risco de ingovernabilidade na terceira maior economia da União Europeia é provocada pelas particularidades da legislação eleitoral italiana.

Pela lei, ganha maioria absoluta na Câmara dos Deputados a coalizão vencedora, mesmo que seja por apenas um voto. No Senado, a maioria é concedida a cada uma das 20 regiões, o que torna impossível prever a composição final da Câmara Alta.

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– Ainda há 10% de indecisos, que devem definir os votos no último minuto em função da televisão ou do conselho de alguém, além de 20% de abstenção – disse Renato Mannheimer, analista de pesquisas.

Em caso de vitória, Bersani deve firmar uma aliança com o atual primeiro-ministro Mario Monti, convocado pelo presidente Giorgio Napolitani para conter os rumores de colapso do país depois da renúncia de Silvio Berlusconi no final de 2011.

Conheça o perfil dos quatro principais nomes na disputa pelo Parlamento italiano:

Beppe Grillo, comediante ‘antissistema’ que ameaça políticos italianos

O comediante e ator genovês Beppe Grillo ameaça a classe política da Itália com seu midiático Movimento Cinco Estrelas e com seus ataques antissistema, que fazem tanto a direita quanto a esquerda e o centro político italiano tremerem.

– Eles nos atacam, morrem de medo, sabem que estamos obtendo algo excepcional – clama Grillo, de 64 anos, em declarações feitas, como é habitual, a gritos diante de milhares de jovens e indignados reunidos nas praças públicas da península.

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Respeitando seu estilo corrosivo e histriônico, por vezes vulgar, “o profeta Grillo”, como é chamado pelo jornal La Stampa, avança sem parar e alcança um surpreendente consenso, que, segundo as pesquisas, o situa com 13% a 18% dos votos.

O ator, de cabelos brancos e voz alterada, rejeitou participar dos debates televisivos e prefere se comunicar através das redes sociais e de seu famoso blog, criado em 2000, que se converteu em tempo recorde no mais consultado e influente da Itália: a revista americana Forbes o considera o sétimo mais importante do mundo.

Ele que conta com o apoio público do irreverente prêmio Nobel de Literatura Dario Fo, prometeu criar o “politômetro”, com o qual controlará a riqueza dos políticos.

Seu programa inclui, além de internet grátis para todos, a implementação de uma economia verde e a redução da semana de trabalho a 20 horas.

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Silvio Berlusconi, a fênix da política italiana

O multimilionário Silvio Berlusconi é o que se pode chamar de ‘especialista em retornos’, aquele político que consegue constantemente renascer das cinzas, apesar dos escândalos judiciários e sexuais que teriam ameaçado sua carreira em qualquer país ocidental. Menos na Itália. Em 12 de novembro de 2011, o país estava à beira da asfixia e o Cavaliere, desacreditado após sucessivos processos, deixa o poder sob vaias, passando o cargo para o técnico e respeitado Mario Monti.

Em fevereiro de 2013, fazendo campanha eleitoral já há alguns meses, tem cerca de 18% das intenções de voto, e obtém um crescimento espetacular de 28,5%, diminuindo a diferença para seu adversário em quatro ou cinco pontos.

– Berlusconi é como James Bond: nunca diga nunca – comenta o professor de filosofia Giacomo Marramao, enquanto o jornalista de esquerda Marco Travagli o apelidou de “Senhor Voltei”.

Seu segredo? Uma cara de pau que o deixou dizer que seu sucessor e agora rival Mario Monti “mergulhou a Itália na recessão”. No dia seguinte, Berlusconi chegou a sugerir que o adversário poderia votar nele. Além disso, ele prometeu aos italianos que não somente baixará os impostos, mas reembolsará o que foi pago no ano passado.

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Mario Monti, o tecnocrata transformado em animal político

Mario Monti, de 69 anos, o sóbrio tecnocrata de sorriso inexpressivo que dirigiu a Itália por pouco mais de um ano até “virar político” no final de dezembro, sofreu nesta ocasião uma mudança radical de sua imagem.

Na península, é como se todo mundo tivesse esquecido o estado em que se encontrava o país em 16 de novembro de 2011, quando Mario Monti, ex-comissário europeu pouco conhecido, substituiu Silvio Berlusconi. sempre envolvido em escândalos e afundado na crise da zona do euro.

Na época, este discreto professor de economia, apelidado de “cardeal” por sua personalidade calma e impenetrável, fez papel de herói e foi o último recurso de salvação, enquanto os mercados especulavam sobre um colapso do país por sua enorme dívida de mais de 2 trilhões de euros.

Em um ano, ele restaurou a credibilidade da Itália, baixou o spread (diferença entre as taxas italianas e alemães) chegando a menos de 300 pontos, a metade do seu nível no final do mandato de Berlusconi. Mas, ao custo de uma austeridade draconiana marcada por uma reforma previdenciária dura e aumentos de impostos.

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Sua metamorfose em um animal político começou pouco depois com o anúncio surpresa da sua entrada para a arena política, em 23 de dezembro.

Monti tornou-se tão presente nos meios de comunicação quanto o especialista midiático Silvio Berlusconi, que, aos 76 anos, está em sua sexta campanha em 18 anos e aposta todas as fichas na televisão e no rádio.

Pier Luigi Bersani, ex-comunista de tendência liberal

O secretário-geral do Partido Democrático (PD), Pier Luigi Bersani, favorito nas pesquisas para o cargo de chefe de Governo da Itália após as eleições de 24 e 25 de fevereiro, é um veterano político formado no antigo Partido Comunista Italiano (PCI), aberto ao liberalismo econômico, que ama o cigarro toscano e fala com franqueza inusual.

Secretário do PD desde 2009, sua vida foi marcada pela figura inovadora do então secretário do Partido Comunista, Enrico Berlinguer, o pai do “eurocomunismo”, como muitos jovens de sua geração.

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Fã de rock, com uma fisionomia séria mas afável, superou no fim do ano passado nas eleições primárias o principal adversário, Matteo Renzi, o jovem prefeito de Florença (37 anos), e conquistou o respeito dos cidadãos e da classe política em geral.

Foi ministro da Indústria durante o primeiro governo de Romano Prodi, em 1996. Posteriormente foi nomeado ministro dos Transportes em outro governo Prodi e ministro do Desenvolvimento Econômico entre 2006 e 2008, ano da derrota da esquerda para Silvio Berlusconi.

Graças aos cargos, ganhou projeção nacional e virou uma personalidade apreciada nos meios econômicos e industriais.

Também se distinguiu por promover uma onda de privatizações em setores diversos, como a energia elétrica ou a venda de medicamentos nos supermercados.

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Em seus discursos mais recentes afirmou que manterá o rigor pregado pelo atual chefe de Governo, o tecnocrata Mario Monti, mas destacou que suas prioridades serão “o emprego e reduzir a brecha da desigualdade”.