Uma diária de R$ 24 é o que o Estado vai fornecer à itajaiense Monique Ramone Dunka, 23 anos, enquanto ela estiver em São Paulo para acompanhamento médico. Grávida de gêmeas siamesas, a consultora de vendas está no sétimo mês de gestação e ainda não recebeu atendimento de um especialista.
Continua depois da publicidade
Monique informa que o dinheiro é para alimentação e hospedagem. Ela recebeu R$ 144 para os três dias que, a princípio, deve ficar em São Paulo com a mãe. Segundo ela, há 10 anos essa diária do SUS (Sistema Único de Saúde) não é atualizada.
Com passagens aéreas custeadas pela Secretaria de Estado da Saúde, Monique embarca hoje à tarde para a capital paulista.
_ Se for internada fico mais aliviada, porque aí terei cama e comida. Posso pedir para a minha mãe voltar para casa (Itajaí) e retornar quando for para eu ter as bebês _ planeja.
Ela acredita que a cesárea possa ocorrer em breve. Um médico que a consultou no início da gestação, disse que o ideal seria que o parto ocorresse por volta do sétimo mês. Amanhã de manhã, a jovem mamãe vai ser avaliada por duas médicas do Ambulatório de Gemelares do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Continua depois da publicidade
Na consulta, ela espera saber qual é a condição real de saúde de Isabela e Isabeli e se é viável a cirurgia de separação.
_ Fico me questionando, porque como as duas dividem o mesmo pericárdio (membrana que envolve o coração) uma pode morrer, e aí?
Além de compartilharem o tórax e o abdômen, uma das meninas tem problema grave no coração e a outra nos rins. Uma delas também não tem os braços e os pés estão dentro de um dos fêmures da outra.
_ Nunca imaginei passar por isso. A minha vida era completamente diferente. Mas a gente está preparado de tanto elas nascerem e logo morrerem, como de nascerem e viverem por três meses _ diz Monique, que já é mãe de Isadora, três anos.
Continua depois da publicidade
“Saí do consultório desesperada”
Monique estava há dois meses morando em Campo Grande (MS) com o marido Pedro Henrique Bezerra Ajala, 25 anos, quando soube que estava grávida. Apesar de não ter sido planejada, a gestação foi comemorada pelo casal.
_ A gente ficou muito feliz. Quer ver quando vimos que eram duas _ conta.
A consultora de vendas havia se mudado com a intenção de cursar uma faculdade em uma Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mas após saber que seria mãe pela segunda vez, adiou o plano dos estudos.
Apenas no quinto mês de gestação, durante uma visita a família em Itajaí, é que Monike soube que as meninas eram siamesas.
_ Saí do consultório desesperada, achando que o médico era louco. Andava pela rua chorando e gritando _ lembra.
Continua depois da publicidade
Sob o choque da notícia, Monique chegou a procurar um defensor público e deu entrada no pedido de aborto, mas desistiu antes que a solicitação fosse apreciada pelo juiz.
_ Foi por amor, a gente se apega. Elas não têm culpa e eu não tenho direito de tirar a vida delas. Como ela soube das meninas um dia antes de retornar a Campo Grande, ela está em Itajaí com a filha há três meses. Enquanto isso, o marido permanece no Mato Grosso do Sul trabalhando como recepcionista. ???
Contraponto
A Secretaria de Estado da Saúde informou via assessoria de imprensa que o valor da diária do Tratamento Fora do Domicílio (TFD), de R$ 24, é definido pelo Ministério da Saúde. Conforme a pasta, o valor é oferecido pelos estados para ajudar com as despesas de alimentação e pernoite do paciente. Sendo igual para todos.
SAIBA MAIS
Como ocorrem os gêmeos siameses?
A professora do curso de medicina da Univali Ana Comin esclarece que os gêmeos siameses ocorrem quando o estágio inicial do que vai ser o embrião, a blástula, leva mais de oito dias para se dividir. Após a formação do embrião, com os órgãos já em desenvolvimento, surgem os gêmeos siameses. Quando a divisão acontece em menos de uma semana, surgem os gêmeos univitelinos.
Continua depois da publicidade
Neste caso é possível abortar?
A professora de direito penal da Univali Adriana Spengler, explica que no caso de siameses o aborto só é autorizado pela Justiça quando há risco de saúde para a mãe. Ainda assim, ela frisa que é necessário um laudo médico atestando o problema. ?