Moradores de Itajaí, São José e Palhoça relataram terem sentido um leve tremor de terra na manhã desta segunda-feira. O horário coincidiu com o terremoto registrado na Bolívia, que atingiu magnitude 6,8. Em Itajaí, a Defesa Civil do município recebeu pelo menos 15 ligações relacionadas ao evento.
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Todos os relatos partiram de cinco edifícios de Itajaí que ficam em bairros diferentes, especialmente na Fazenda, no Centro e na Vila Operária. Durante a tarde, engenheiros da Defesa Civil fizeram vistorias nos locais de onde partiram as ligações. Nenhum dano estrutural foi identificado.
A Defesa Civil do Estado também recebeu relatos de tremores em Palhoça e São José, na Grande Florianópolis. Mas o órgão não emitiu alerta porque não houve constatação de risco aos catarinenses. O secretário de Estado da Defesa CiviL, Rodrigo Moratelli, explica que o tremor que foi percebido em regiões de Santa Catarina é classificado como micro, decorrente das ondas sísmicas provocadas pelo evento na Bolívia.
—Tecnicamente, o abalo não aconteceu na nossa região. Temos protocolos para agir em colapso de edificação, para atender essa situação crítica. Porém, não é uma característica recorrente — reforça.
Outras cidades no país também sentiram o tremor de terra. Em São Paulo e em Brasília, prédios inteiros foram evacuados – entre eles a sede da Infraero, em Brasília, e o Ministério Público de São Paulo.
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O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) informou que o epicentro do abalo sísmico ocorreu a 13 quilômetros da localidade de Carandayti, no Sul da Bolívia, próximo ao Paraguai.
Fenômeno raro em Santa Catarina
A relação entre o terremoto na Bolívia e os relatos de tremor sentido em Santa Catarina indicam um fenômeno bastante raro. Doutor em Geociências, o professor José Gustavo Natorf de Abreu, da Univali, diz que é mais fácil haver reflexo no litoral catarinense quando o tremor ocorre no Oceano Atlântico. Cerca de cinco anos atrás, um terremoto nessas condições foi levemente sentido em Itajaí e Balneário Camboriú.
Para haver reflexo de um tremor ocorrido na Bolívia, explica o professor, é preciso atentar para a profundidade do fenômeno. Quanto mais profundo, maior o raio de propagação e, portanto, maior a possibilidade de sentirmos os reflexos do abalo. O USGS informou que o terremoto ocorreu a 557 quilômetros de profundidade, o que pode ter levado os efeitos para além do território boliviano.
Também doutor em Geociências, o professor da UFSC Luiz Fernando Scheibe observa que, por causa da grande profundidade, as ondas sísmicas do terremoto tiveram grande propagação, alcançando partes do Brasil e do Chile.
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Na avaliação do especialista, alguns moradores de cidades como Itajaí, São José e Palhoça sentiram o abalo por causa das características dos prédios onde estavam.
—A percepção depende muito da fundação dos prédios. Se estão ancorados firmemente em rochas, por menor que seja o movimento das ondas, ele pode sacudir um pouquinho. Mas não chega a ter problemas estruturais por isso — acrescenta o professor.
Quanto mais alta a edificação, observa Scheibe, mais fortemente esses movimentos podem ser percebidos.