Um grupo de homens e mulheres que caminhava pela rua dos Búzios, em Jurerê Internacional, no Norte de Florianópolis, chamou a atenção do motorista de aplicativo que transitava no sentido oposto ao caminho trilhado pelos jovens.

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— Só podem ser gringos, mas não são argentinos — indagou o motorista.

A curiosidade foi a mesma de um grupo de funcionários que tentava ajudar um estrangeiro com dúvidas sobre as compras no mercado. Eles improvisaram em Espanhol, tentaram em Português com a ajuda de mímicas e soltaram as poucas palavras que pareciam saber em inglês. O forasteiro, por sua vez, lançou um repertório em hebraico e o diálogo tornou-se impossível.

O grupo que se destaca entre os turistas do tradicional bairro de Florianópolis costuma ir a festas eletrônicas, consome nos supermercados e provoca um boom imobiliário no bairro é de Israel. País longe mais de 10 mil quilômetros do Brasil.

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São mais de 2 mil os israelenses que vieram para Florianópolis passar o Carnaval. O número é uma estimativa feita por donos de imobiliárias da região.

— Sem eles, estaríamos vazios — diz Marcelo Godoy, dono da primeira imobiliária do bairro a fazer a ponte entre os estrangeiros e os donos de imóveis. Somente em sua empresa, 500 imóveis foram alugados para os israelenses.

O empresário conta que o primeiro grupo veio para o bairro em 2018. Segundo ele, os israelenses já vinham para a cidade, mas se acomodavam em outras regiões como a Barra da Lagoa.
A troca do Sul pelo Norte da Ilha acabou consolidando Jurerê Internacional como o ponto favorito dos estrangeiros. Há cinco anos, todo Carnaval é de lotação de israelenses.

— É muito bom ter eles aqui. Eu já fui para Israel para ter mais contato com a cultura deles — falou Godoy exibindo a camiseta que vestia com palavras em hebraicos.

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Os israelenses que ocupam Jurerê Internacional por pelo menos os próximos sete dias são, em sua maioria, jovens que terminaram o serviço militar. Lá todas as pessoas física e mentalmente aptas devem se apresentar ao Exército aos 18 anos. Homens servem por um período de três anos. As mulheres também prestam serviço militar obrigatório por dois anos. Abordados nas ruas de Jurerê pela reportagem, eles negaram-se a falar sobre o motivo da viagem e por que escolheram Florianópolis.

A vinda para cá, explicou Godoy e endossou também a corretora imobiliária Bernardete Platt, casa com o fim do trabalho como militar. Isso é cultural para os jovens: viajar neste período, segundo israelenses que vivem aqui.

— Eles aproveitam para passear. Um grupo vai para o Leste Asiático, mas tem outro que gosta daqui e viaja para o Brasil. Começa por Florianópolis e vai subindo até Morro de São Paulo (BA) — comenta Godoy.

Quem também celebra a vinda dos israelenses é a associação de moradores de Jurerê Internacional. Segundo o presidente Sérgio Rodrigues, um panfleto com instruções sobre segurança foi elaborado em três idiomas (inglês entre eles) e distribuído aos israelenses.

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Mas o choque de cultura Brasil-Israel tem causado, também, conflitos. Falta no bairro acessibilidade para os israelenses, afirmam os corretores. Os bancos não estão preparados para a demanda, os cardápios não têm opção em Hebraico, como é feito em outros lugares do país que também recebem o contingente de israelenses.

E falta aos estrangeiros, jovens e festeiros como são descritos, mais adequação à calmaria do bairro residencial. Um pedido de ajuda foi encaminhado à Embaixada e aos consulados de Israel no Brasil.

— Eu encaminhei um e-mail relatando os fatos e buscando orientações do consulado/embaixada de Israel de como proceder com uma não conduta social adequada que possa infringir a legislação brasileira — disse o presidente da associação Sérgio Rodrigues.

A reportagem tentou contato com a Embaixada e o Consulado, mas não obteve retorno até a publicação.

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