Os Soldados de Odin, sob as ordens de um delinquente neonazista, patrulham as ruas finlandesas com o pretexto de proteger a população local dos imigrantes. Em contrapartida, mulheres e palhaços distribuem sorrisos e mensagens de paz.
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O termômetro marca – 15º C. Nesta noite de fevereiro, um esquadrão de homens musculosos vigiam os “invasores islâmicos” pelas ruas nevadas de Kemi, uma cidade industrial da Lapônia, reconhecida por suas chaminés de fábricas de celulose.
Os Soldados de Odin, o deus nórdico e germânico do furor e da guerra, desfilam com o rosto descoberto em uniforme negro bordado com o acrônimo “S.O.O.” (Soldados de Odin).
Se estes grupos de auto-defesa ainda não encontraram uma presa é porque está frio, afirma seu líder, um caminhoneiro de 29 anos. Mas quando o tempo melhorar, os banhistas aparecerão nas margens dos lagos e “as agressões terão início”, diz a um jornalista da AFP.
Mika Ranta criou uma milícia nesta localidade a uma hora de carro do Círculo Polar Ártico quando milhares de refugiados iraquianos cruzaram a pé a fronteira sueca até o sul do país. São 600 membros ativos em vários municípios.
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Em 2015, a Finlândia, com uma população de 5,4 milhões de habitantes, acolheu mais de 32 mil solicitantes de asilo, uma das proporções mais altas da Europa.
Um pesadelo para Ranta, um militante neonazista condenado por violência de caráter nazista em 2005, que afirma não ser necessário que as milícias Odin compartilhem de sua ideologia.
“Se eu, seu fundador, sou quem sou, não significa que todo o grupo também o deve ser. Não somos mais do que uma organização de patrulheiros de rua”, insiste.
O jogador de futebol francês, David Bitsindou, que atua na defesa do clube local, reconhece que se respira um ar deletério. “É verdade que é um pouco triste porque a polícia existe para fazer seu trabalho”, lamenta.
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Irmãs de Kyllikki
Ainda que sem grande afinco, a polícia finlandesa desaprova a iniciativa dos Soldados de Odin e o ministro do Interior, Petteri Orpo, denuncia o que considera um movimento de tendência “extremista”.
Mas há quem lide com a questão migratória de forma diferente. As Irmãs de Kyllikki têm esse nome a partir da figura feminina, jovial e pacífica da mitologia nacional. Estas “irmãs” são mulheres -mães e filhas de Kemi; aposentadas ou em atividade- que se conheceram no Facebook.
Sempre que podem, reúnem-se no centro da cidade para compartilhar bom humor e “vales” para “um mimo”.
Tal iniciativa suscita, às vezes, desconfiança neste país imerso em pudor, onde falar com um estrangeiro e expressar afeto não são comportamentos habituais.
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“Estamos aqui para demonstrar que Kemi é segura e tranquila, que as pessoas deveriam cuidar umas das outras”, explica a “irmã” Katja Hieala. “Há pelo menos oito anos temos um centro de acolhida (para solicitantes de asilo) e nunca tivemos problemas”, explica.
“Tenho mais medo dos Soldados de Odin; são muito mais assustadores”, afirma uma jovem transeunte.
Mervi Sotisaari, de 56 anos, discorda, contando que uma vez foi seguida por um refugiado pela rua.
“Não me incomodaria se eles (os Soldados de Odin) patrulhassem com mais frequência pela noite, contanto que se comportem bem. Não é agradável viver com medo”, afirma esta mãe de três filhos.
Em outras cidades finlandesas como Tampere (sul), pessoas anônimas se disfarçam de palhaço e desfilam fazendo barulho para dar as boas-vindas ao imigrantes. São chamados de “Loldiers of Odin”, um jogo de palavras com o nome “Soldados de Odin” e o vocábulo LOL, que significa “rindo em voz alta” em inglês.
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