O amor cultivado por três irmãs de Indaial durante décadas resultou em um “presente” inesperado do destino para a família. Maria, de 38 anos, Clara, 20, e Beatriz, 17, irão participar juntas, pela primeira vez, dos Jogos Abertos de Santa Catarina, em Concórdia. Todas estarão representando Blumenau no judô, esporte que começou a ser praticado pela mais velha e que conquistou as outras duas, inspiradas pela primogênita.

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Pela diferença de idade entre elas, o sonho de disputar a mesma competição parecia inalcançável. Neste domingo (17), porém, elas vão, finalmente, sentir a tão aguardada emoção de pisarem no tatame, uma ao lado da outra.

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Com aptidão para atividades físicas desde pequena, Maria Aparecida Machado Krauss conta que iniciou no judô quando tinha apenas 12 anos de idade. O esporte teve de ser escolhido por ser uma das poucas opções em Indaial para meninas, à época, já que a maioria das modalidades exigia equipe e nunca havia integrantes suficientes para formar um time feminino, conforme relembra.

A experiência deu mais do que certo e não demorou para que Maria logo se encantasse pelo judô. Aos 18 anos participou do primeiro Jasc enquanto atleta e, já na estreia, conquistou o segundo lugar no pódio. Naquele mesmo período, a jovem indaialense também descobriu que queria seguir profissionalmente nesse meio, vindo, mais tarde, a se formar em Educação Física.

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No ano seguinte, em 2005, Maria passou a fazer parte da academia Schultz Team, em Blumenau, que oferece aulas gratuitas de artes marciais. Desde então, não saiu mais de lá. Já são quase 20 anos no lugar que a recebeu para a prática do esporte. O que ela não imaginava é que, no futuro, duas das três irmãs mais novas também encontrariam a mesma paixão nesse local.

— Eu sempre dizia para elas: “Espero que um dia a gente consiga ir para os Jogos Abertos”, porque, às vezes, pela idade ou por causa de lesões vamos parando, né? Vamos indo para outros caminhos. Mas eu sempre falei que seria muito legal. Isso lá quando elas era pequenas ainda…Mas eu pensava “Será que vou aguentar?”. E agora estamos aqui, nesse ano — conta Maria.

Maria, Beatriz e Clara, ao lado do marido de Maria, Jonathan Douglas Reinecke, em 2016 (Foto: Arquivo pessoal)

Clara Tereza Machado Schramm e Beatriz Vitória Machado Schramm são cerca de 20 anos mais novas que a primogênita. Elas entraram para o judô aos nove e seis anos, respectivamente, porque sempre viram na irmã uma referência. O orgulho em acompanhar, de perto, as vitórias de Maria acendeu, nas duas, uma vontade de seguir os mesmos passos da irmã.

A família costuma brincar que Beatriz, a Bia, “nasceu no tatame” por estar nas competições desde que chegou ao mundo. Primeiro, como telespectadora. Hoje, como uma atleta que leva a modalidade a sério e que pretende continuar ganhando inúmeras medalhas nas disputas, assim como a irmã mais velha.

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— Como eu sempre estive envolvida desde pequena, fui criando gosto, uma vontade de sempre querer mais, buscar mais. A gente sabe que demanda muito treino, muito esforço, mas ver tudo o que ela [Maria] já conquistou dentro do tatame faz a gente almejar isso também — diz Bia.

Beatriz já lutando com Maria quando era apenas uma criança (Foto: Arquivo pessoal)

Clara, por outro lado, foi atrás de outros sonhos. Atualmente mora em Navegantes, no Litoral Norte, e cursa fonoaudiologia em Itajaí, na Univali. Distante dos treinos e da família, ela confessa que sente falta da modalidade e, sempre que possível, tenta manter alguma ligação com o judô. No começo do ano, por exemplo, participou de um projeto social para crianças em situação de vulnerabilidade, relacionado ao esporte. Para Clara, é como se ficasse “um espaço vazio” na rotina quando não pratica artes marciais.

Por isso, ela não pensou duas vezes ao receber o convite da academia Schultz para disputar o Jasc ao lado das irmãs.

— O judô ensina muita coisa para a gente. A respeitar, ter disciplina. Eu caí, mas aí eu levanto, peço ajuda para os meus colegas, e isso vai fazendo diferença a longo prazo. Quando a gente é criança parece que é só brincadeira. E ter a dinda [Maria] como referência, era um exemplo muito próximo, que cativava, sem ser uma pressão — conta Clara.

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Clara começou a praticar judô ao 9 anos de idade (Foto: Arquivo pessoal)

Maria reforça que, por mais que se sentisse honrada em servir de inspiração para as irmãs mais novas, sempre deixou claro que as duas não tinham qualquer obrigação em seguir o mesmo caminho que o dela no judô. Só que, no fim, tudo aconteceu de uma forma muito natural, conforme contam as três, e cada uma acabou construindo a própria trajetória de um jeito bem particular dentro do esporte.

— A gente sempre falou que ela é uma referência para a gente dentro do tatame e fora do tatame. E sempre nos deu suporte para que fizéssemos do nosso jeito, dando liberdade para a gente voar. Tanto que eu sempre pensei muito no que eu ia fazer da vida porque ela tem muito amor pelo o que faz — explica Clara.

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Não à toa, o destino se encarregou de fazer com que elas se encontrassem na mesma competição para transbordar todo esse amor que sentem pelo judô e uma pela outra. Neste ano, Beatriz atingiu a idade necessária para finalmente participar dos Jogos Abertos no Estado. As três estarão entre os cinco mil atletas de 115 cidades catarinenses que disputam modalidades individuais e coletivas desde terça-feira (12).

Maria explica que participar junto com as irmãs do Jasc será um desafio, já que é a competição pela qual se preparam o ano inteiro para disputar. O nervosismo até pode surgir no domingo quando colocarem o judogi — vestimenta usada pelos atletas no momento da prática do esporte —, mas as três sabem que terão o apoio uma da outra nesse momento tão especial, aguardado por anos.

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Hoje, além do tatame, cada uma também luta pelos próprios objetivos, conforme os caminhos que escolheram para seguir. E um deles — que foi idealizado por todas durante tanto tempo — elas terão o privilégio de viver juntas, neste domingo, como sempre sonharam.

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