Quando a morte passou pela fazenda de um canto de São João da Boa Vista, em São Paulo, levou não somente o pai Francisco Simões Vaz, mas as memórias de vida de cinco irmãos. Uma delas, Oníris, fugiu, viveu pelas ruas e morreu antes de sentar à mesa com os irmãos. Nenhum dos quatro viu o recém-nascido Chico, que leva o nome do pai, crescer. Ele também não participou da reunião porque um AVC o impede de fazer viagens. Mas três pedaços que restaram da família Vaz fizeram um reencontro neste final de semana, em Joinville, para esquecer dos anos de ausência e relembrar a infância.

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Aparecida assistiu às consequências da morte do pai com os olhos de nove anos. Viu a distância abrir caminho entre os irmãos Renato e Tereza. Ele tinha cinco anos e Terezinha três. Cada um foi embora com uma família. Aparecida, hoje com 76 anos, guarda na memória as mais de seis décadas de ausência.

Antes de Terezinha se mudar para outra fazenda mais distante, conseguia se encontrar com Aparecida. Os irmãos cresceram em direções diferentes, mas nunca desistiram de um reencontro. Eles viram o rádio crescer como meio de comunicação. O marido de Aparecida pedia sempre para o radialista anunciar “Terezinha Simões Vaz, sua família lhe procura”. Nunca surtiu resultado.

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Rede social ajudou os irmãos a fazerem contato

Quando a era da internet chegou, o nó do distanciamento dos irmãos começou a se desfazer. A esposa de Renato, Alice Costa Vaz, encontrou a filha de Aparecida, Ana Rosa Passafaro, no Facebook. Ana deixou uma foto antiga como isca, para ver se alguém a reconhecia. No perfil de Terezinha, Renato viu a cidade onde Terezinha morava. Ligou para todos os telefones da lista. Mas foi Aparecida quem conseguiu fazer contato primeiro.

Sentados à mesa, na falta de dois irmãos, Aparecida, Renato e Terezinha relembraram o dia em que a vida deles mudou. Os dois mais velhos eram muito apegados ao pai, que os levava para o trabalho todos os dias.

Em um desses dias de trabalho, o grito que ecoou e ecoa na vida dos irmãos: era o anúncio da morte do pai.

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– Até hoje lembro do meu pai deitado e o cabo da enxada cruzado sobre as pernas – conta Renato, que viu o pai enfartado.

O luto pela morte do pai foi o refúgio da mãe dos cinco, Maria Custódio Vaz. O que eles sabem é que nas fantasias da mãe não havia lugar para os filhos. Foi assim que a mãe deixou as crianças e a família se distanciou.