No auge dos 70 anos, o aposentado Antônio Nedilha, que desde 1990 mora em Joinville, resolveu encarar uma aula de informática no Ipreville para aprimorar as noções no computador. Ele tem o equipamento há quatro anos e diz que esta foi sua melhor compra.
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– Hoje, a gente usa o computador e a internet até para conferir a segunda via de contas -, brinca.
Durante as aulas, em fevereiro deste ano, Antônio criou uma conta pessoal em uma das redes sociais mais populares da internet: o Facebook. Desde então, sua vida mudou.
Mesmo com o perfil já criado, Antônio entrou novamente no site da rede social apenas em 23 de maio. Na sua página, leu uma mensagem que fez seu coração acelerar. Uma mulher, chamada Maria Solange Goy, havia deixado um recado em seu mural.
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– Ela disse que morava em Irati, no Paraná, e que trabalhava com Luiz Nedilha [um de meus irmãos]. Fiquei muito feliz. Nunca mais tinha ouvido falar em ninguém da minha família -, revela o aposentado.
Antônio não tinha notícias de seus dois irmãos, Luiz, 67, e José, 63, desde que deixou a cidade de Cândido de Abreu, no interior do Paraná, há 55 anos. Os três moravam com os avós maternos, mas fugiram do local antes de se tornarem adultos.
– Corri de lá. Morei em casas de outras famílias e nunca mais os vi -, conta Antônio. A primeira notícia que teve foi em maio deste ano, quando viu a mensagem no Facebook.
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– Respondi o recado e disse que estava muito feliz com a notícia. Pedi para que ela entrasse em contato comigo de novo. Passaram dois dias e nada de ela responder. Mandei uma mensagem novamente com meu telefone. No outro dia, ela me ligou. Chorei muito -, revela Antônio.
Maria Solange combinou com o aposentado de fazer uma surpresa para o irmão Luiz.
– Liguei para ele no outro dia pela manhã, no trabalho. Ele não sabia que era eu ao telefone. Isso me marcou muito.
Muitas emoções
E as emoções não acabam por aí. Antônio e Luiz não haviam encontrado o irmão mais novo, José. Mas as amigas de trabalho de Luiz continuaram a caça de parentes dos Nedilha pelo Facebook. E encontraram um rapaz que morava em São Bento do Sul, que era filho de José.
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– Imagine. Ele estava morando com a mulher em Rio Negrinho. De vez em quando vinha para Joinville passear -, conta Antônio.
Mais uma vez, os irmãos se falaram por telefone e resolveram marcar o primeiro encontro após 55 anos. Ele ocorreu ainda em junho, em Irati, na casa de Luiz. Os filhos também participaram do almoço. Toda a emoção foi registrada em fotos.
– Foi incrível. Sou uma pessoa mais feliz agora -, comenta o aliviado Antônio.
Mudanças até chegar a Joinville
Antônio e os dois irmãos mais novos foram separados ainda crianças. Nascidos em Sangés, perto da divisa entre Paraná e São Paulo, deixaram o local após a separação dos pais. De Sangés, a mãe e os três pequenos seguiram para Cândido de Abreu, no Paraná, onde foram morar com os avós maternos.
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– A vida lá era difícil. Eu e minha mãe fomos morar em Ponta Grossa. Antônio e José ficaram com os nossos avós e depois fugiram. Cada um foi para um canto e perdemos os contatos -, relembra Luiz.
Sozinho na vida aos 12 anos, o hoje joinvilense Antônio morou em diversos locais, assim como os irmãos. Da fuga da casa dos avós ele foi para Manoel Ribas (PR), onde, mais tarde, casou-se. Tentou a vida em São Paulo, depois morou por dez anos no Paraguai. Voltou para Manoel Ribas, a pedido do sogro, mas foi um passeio em Joinville que o fez pensarem mudar novamente.
– Quando cheguei em Joinville, disse: é aqui que vou me arrumar. Voltei para Jardim Alegre, arrumei minhas coisas e vim para cá com a família.
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Há 22 anos na cidade, hoje, Antônio (separado e depois viúvo) mora sozinho no bairro Morro do Meio.
Ele que pensava que sua família se resumia aos três filhos, descobriu no mês passado que os dois irmãos de sangue estavam mais perto do que ele imaginava.