Das lembranças da auxiliar de cozinha Maria Sutil Dolenga, os abusos sofridos na infância são os que mais doem. Nascida em Laranjeiras do Sul, no Paraná, ela nunca conheceu o pai. Aos seis anos, passou a ser abusada pelo padrasto, e foi abandonada pela mãe tão logo o assunto veio à tona. Mas a vida de Maria estava traçada para ganhar novos rumos. Na manhã deste domingo, 24 de março, Maria ganhou sete irmãos, uma nova família e uma outra história para viver.

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O pai de Maria era sanfoneiro e viajava o Brasil fazendo shows. Do primeiro relacionamento, no Paraná, nasceu Maria. Mas o casal se separou antes que o bebê nascesse. O músico casou outras duas vezes. Teve dois filhos em Lages (SC), e outros cinco em Curitiba (PR). Há três anos, o pai das famílias faleceu, e um dos filhos do segundo casamento decidiu encontrar Maria.

– O pai sempre quis conhecer a Maria, sempre falava nela e pedia pra gente encontrá-la. Faz dez anos que começamos a procurar por ela, e, depois que ele morreu, procuramos ainda mais – afirma Gildo de Souza Almeida, de Lages.

O primeiro contato foi feito com um tio de Maria, do Paraná, que informou o nome completo e as cidades onde ela poderia estar morando – Joinville ou Navegantes. Com essas informações, Gildo começou a pesquisar nas redes sociais por pessoas que tivessem alguma ligação com a irmã. Depois de muito tempo, conseguiu descobrir o local onde ela trabalhava.

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– Estava trabalhando e uma amiga disse que uma pessoa havia ligado para mim, dizendo ser meu irmão. Alguns dias depois, uma mulher ligou, falando em nome dele. Disse meu apelido, onde eu havia nascido, que meu pai era sanfoneiro. Foi quando acreditei que podia ser mesmo. Chorei o dia todo, de emoção. Não consegui dormir à noite. E agora estou prestes a conhecê-lo – contou Maira ao Diário Catarinense, por telefone, pouco antes do encontro.

Com alguns telefonemas, os irmãos combinaram de ir a Navegantes para conhecer Maria e seus quatro filhos. O encontro aconteceu neste domingo.

– A maior frustração da minha vida foi não ter pai nem ninguém que me protegesse. Cresci achando que ninguém me amava, sendo abusada por estranhos, morando de casa em casa. Eu era a filha rejeitada, que ninguém queria. O Gildo cresceu ouvindo falar de mim e sempre quis me conhecer. De uma certa maneira, eu era amada e não sabia – desabafa Maria.

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Para Gildo, conhecer Maria significa não apenas a realização de um desejo de seu pai, mas o fim de uma angústia e o começo de um novo tempo para a família.

– Estamos todos muito emocionados. Agora, vai acabar aquele medo da gente passar por alguém na rua, desse alguém poder ser a nossa irmã e a gente não saber – comemora Gildo.