O sangue que insiste em permanecer no rejunte e no contra piso do quarto que pertencia ao casal Flores, há exatos 30 dias do crime bárbaro que vitimou Carmem Cunha Flores, 69 anos; Luiz Nilo Flores, 72; a filha do casal, Leopoldina Carmem Flores, 41; e o neto deles, Pedro Henrique Flores, de dez anos, demonstra o quão difícil será para a família apagar as manchas da tragédia que marcou para sempre as suas vidas na pacata Penha, no Litoral Norte do Estado.
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Na ânsia de se livrar das marcas da chacina, encontradas em quatro dos sete cômodos da casa simples de alvenaria, na rua Tijucas, em Armação, o filho mais novo dos Flores, Márcio Luiz Flores, 26, já arrancou o piso, mudou a posição dos móveis e queimou todos os pertences do irmão Luiz Carlos Flores, 35, conhecido como Liquinha, que confessou os assassinatos menos de 48 horas depois de ter matado a marretadas a mãe e a marteladas a irmã, o pai e o sobrinho. O plano de Márcio é que, um dia, a casa abrigue uma pousada.
Márcio, que mora com a namorada em uma casa atrás da qual vivia a família, no mesmo terreno, se diz ferido pela ausência dos quatro.
– Chego, não vejo ninguém. Um silêncio profundo. Por mais que eles fossem quietinhos, sabia que tinha alguém ali -, confidencia, contendo as lágrimas que ameaçam cair.
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Ele voltou a cuidar do gado e dos outros animais criados no pasto nos fundos do terreno, mas admite que há dias em que é dominado pela tristeza.
– Pensei em desistir de tudo, vender. Mas retomei minhas atividades porque eles gostavam muito daquilo ali -, conta.
O constante assédio de curiosos, querendo saber a respeito do crime é outro desafio a ser vencido.
– Evitei ir à academia por três semanas -, revela Márcio, que conta que o apoio dos amigos está sendo fundamental na superação da tragédia.
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Liquinha está preso preventivamente em local não divulgado por motivos de segurança e será submetido a exame psiquiátrico. À espera de laudos periciais, a entrega do inquérito deve ser prorrogada por mais 60 dias. Luiz Carlos já tem advogada designada desde o fim de semana, mas a Polícia Civil de Piçarras não soube informar o nome da defensora.
O irmão mais velho, Roberto Luiz Flores, 50, que é pescador, está retomando a rotina aos poucos, mas admite que não esquece um minuto do que ocorreu.
– Você dorme com isso, acorda com isso, toma café com isso. É doído, não tem explicação -, diz, com o olhar marejado.
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O filho de Roberto, Julian Roberto Flores, 17, que vivia grudado com o primo Pedro Henrique, encontrou uma forma de lidar com a dor e até esboça sorrisos ao lembrar de histórias com o menino.
– Venho aqui (na casa) todo dia. Se não venho parece que dá uma saudade.
Apesar do pouco tempo que passou, os três acreditam que o melhor caminho para se desprender da tragédia é ser otimista e lembrar de dona Carminha, de seu Lica, de Preta e de Pedro Henrique com amor e alegria.
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