Um dos acusados pela morte do tenente-coronel reformado Paulo Malhães, em abril, foi preso na manhã desta sexta-feira, no Rio de Janeiro. Anderson Pires Teles é irmão do caseiro Rogério Pires, que está preso desde o dia 29 de abril, sob a acusação de envolvimento no caso. A polícia segue procurando Rodrigo Pires, também irmão do caseiro e suspeito de ter participado da morte do militar.

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Segundo a Polícia Civil, o caseiro e seus irmãos invadiram o sítio da vítima, em Nova Iguaçu, para roubar armas. Durante a ação, o ex-torturador acabou morrendo. A polícia suspeita de latrocínio – roubo seguido de morte -, mas existe a hipótese de que Malhães tenha sofrido um infarto durante o assalto.

Para os representantes de organizações defensoras dos direitos humanos, Malhães foi assassinado por saber muito sobre a repressão política durante o regime militar, o que caracterizaria uma queima de arquivo. O coronel reformado morreu pouco depois de ter admitido participação em atos de tortura e morte de presos políticos, quando era oficial da ativa do Exército.

O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), Wadih Damous, informou ainda que a prisão de Anderson é mais um ingrediente para o inquérito que apura a morte do coronel e segue na linha de roubo seguido de morte. Mas, segundo ele, a CEV-Rio não concorda com a investigação por acreditar que a morte do coronel representa queima de arquivo.

– Nós não nos conformamos em aceitar a tese de latrocínio. Pode até ter sido, mas precisamos de apuração. É preciso ter transparência. Pode ser queima de arquivo – analisou.

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Damous questiona também a decisão que declarou segredo de Justiça para o inquérito. Ele informou que ainda nesta sexta-feira vai manter contatos com integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado para requerer o fim do sigilo.

– A nossa intenção é pedir ao juiz que reconsidere esta decisão e caso não reconsidere nós vamos recorrer ao Tribunal – explicou.

Em março de 2014, Malhães admitiu torturar e matar durante a ditadura

– Quantas pessoas o senhor matou?

– Tantas quantas foram necessárias?

O diálogo travado entre o ex-ministro José Carlos Dias e o coronel reformado Paulo Malhães ocorreu no dia 25 de março, durante o depoimento do militar à Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Malhães estarreceu o país com suas revelações. Em pouco mais de duas horas de depoimento, o coronel respondeu às perguntas com frieza e sem demonstrar arrependimento.

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No dia 21 de março, quatro dias antes de falar à CNV, o militar também havia declarado à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro que jogara os restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva no mar fluminense, depois de os desenterrar de uma praia, onde fora sepultado clandestinamente em 1971.

Mas Malhães voltou atrás no depoimento à CNV. Negou que tivesse escondido o corpo de Rubens Paiva e disse que sustentou a versão apenas para conformar a família do parlamentar.

Logo após a notícia da morte do militar, suspeitas de queima de arquivo começaram vir à tona. Pelo Twitter, a ex-ministra dos Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), disse que “soa estranho que após essas revelações o militar tenha sido assassinado”. O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, também disse acreditar na hipótese de queima de arquivo e defendeu “rigor nas investigações”.

– Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época.

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Malhães foi agente do Centro de Informações do Exército (CIE) e chegou a ensinar técnicas de tortura a repressores gaúchos. Ele também foi um dos agentes mais ativos da chamada Casa da Morte de Petrópolis, um centro clandestino mantido pelo regime militar no início da década de 1970.

O depoimento de Malhães à CNV:

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* Zero Hora, com agências