O sorriso no rosto e o gracejo de boas vindas são o cartão de visitas da irmã Ilda Miranda de Almeida, católica da ordem Carmelita Missionária Teresiana que, nesta quinta-feira, 15, celebra 60 anos de religiosidade. Há mais de duas décadas na Paróquia de Coqueiros, em Florianópolis, Ilda carrega consigo uma mensagem de solidariedade e fraternidade entre as pessoas.

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— Eu fico alegre quando vejo o outro alegre e, assim, a gente se sente com ânimo — resume a religiosa.

A vida de dedicação a Deus e aos mais necessitados levou Ilda ao trabalho ativo nas áreas de Educação, Serviço Social e Saúde. A carmelita costuma visitar famílias para levar palavras de conforto, mas também atua junto a voluntários para proporcionar cursos profissionais e atendimentos médicos a quem mais precisa.

— A nossa congregação é voltada ao atendimento aos pobres, infelizes e marginalizados. Temos que conhecer o ambiente familiar, mas depois procurar remunerar essa gente, fazer com que vivam com dignidade. Eles precisam de alimento, mas também precisam de formação — afirma Ilda.

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Atuar junto a comunidades em áreas de vulnerabilidade social não é fácil, mas a irmã Ilda mantém firme o ofício mesmo prestes a completar 90 anos de idade — “a minha maior fortaleza é Deus, é minha força interior”, justifica. É claro que Ilda também tem suas fraquezas. Em um momento de audácia jornalística, conseguimos uma confissão desta simpática senhora.

— Eu só confesso com o padre, mas, para a gente se conhecer, vou me confessar com você: a gente se sente limitado, tem coisas que queremos fazer e não podemos, mas esta é uma limitação física. A limitação moral é que, quando a gente convive com alguém, às vezes nos falta um pouco de paciência e caridade. Mas logo em seguida vem o perdão e o abraço — confessa Ilda.

O título de sua ordem religiosa vem da palavra carmelo, que significa jardim e dá o nome de uma cadeia de colinas em Israel. Em meio às rosas do quintal de sua morada, a irmã carmelita comenta sua confissão ao repórter e transmite um abraço fraterno de reconciliação aos brasileiros, especialmente neste momento coletivo em que faltam paciência e caridade e sobram discursos de violência.

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— Cristo deu a vida por todos nós, temos que respeitar os irmãos, tratar todos bem, nunca com maldade. É muito doloroso (ver esse discurso de violência). Como isso é possível? Parece que Deus está surdo… mas não está. Deus fez o homem livre, a escolha é nossa — comenta Ilda.

Uma vida de viagens

No dia 27 de fevereiro, Ilda completará 90 anos. Sua caminhada terrena começou em New Bedford, uma pequena cidade do estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Seu pai, português da cidade de Viseu, e sua mãe, portuguesa da Ilha da Madeira, se conheceram lá. Dois anos depois do nascimento de Ilda, porém, as dificuldades em viver como imigrantes fizeram com que a família voltasse à Ilha da Madeira. No arquipélago do Atlântico Norte, Ilda estudou e trabalhou como professora até os 29 anos. 

— Eu fui a primeira professora da região, então todos os rapazes queriam casar comigo, mas esse não era meu ideal. Meu ideal era ser religiosa, levar as almas para Deus — lembra a irmã.

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Decidida a entregar sua vida à religiosidade, Ilda foi a Tarragona, na Espanha, fazer o noviciado e professar sua fé, até que no dia 15 de novembro de 1958 fez os votos perpétuos. No mês seguinte, embarcou em navio chamado Conde para missionar na América do Sul.

 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 14.11.2018: A Irmã Ilda Miranda de Almeida comemora 60 anos de vida dedicada a missão de levar fé na congregação Carmelita (Foto: Diorgenes Pandini/Diario Catarinense)Indexador: Diorgenes Pandini
Foto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense

A memória de Ilda lembra a dos elefantes. Além do nome do navio em que embarcou para atravessar o Oceano Atlântico, a irmã carmelita recorda em detalhes o tempo que passou em Buenos Aires, na Argentina, e em Montevidéu, no Uruguai, antes de chegar em Porto Alegre no dia 20 de novembro de 1959.

Em 21 anos de morada na capital gaúcha, Ilda ajudou a fundar o Instituto de Assistência Social do Espírito Santo e uma escola que atendia crianças e adolescentes do Jardim de Infância ao Ensino Médio. Também fez cursos de reciclagem para transmitir o ofício a jovens carentes. Após outra passagem de dois anos em Buenos Aires, veio pela primeira vez a Florianópolis e, logo em seguida, morou por 13 anos em Gravatal, no Sul de Santa Catarina. Foi só em 1995 que Ilda fincou os pés definitivamente na capital catarinense.

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Irmãos manezinhos

Entre 1995 e 2018, Ilda se distanciou da capital catarinense em poucos momentos — o maior deles foi em 2013, quando foi a Curitiba tratar de sua saúde. Em Florianópolis, instalou-se na residência da ordem Carmelita Missionária Teresiana, no bairro de Coqueiros, e fez amizade com as outras irmãs.

— Ela é uma pessoa muito sociável e solidária, sempre está ajudando o próximo. É um testemunho muito grande que nos inspira — comenta a irmã Verônica, natural do Chile.

 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 14.11.2018: A Irmã Ilda Miranda de Almeida comemora 60 anos de vida dedicada a missão de levar fé na congregação Carmelita (Foto: Diorgenes Pandini/Diario Catarinense)Indexador: Diorgenes Pandini
Foto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense

— Ilda é um exemplo de coragem e entusiasmo que nos leva a pensar que existe algo maior. O que eu vi na irmã Ilda foi que basta nos abrir e deixar que Deus nos ajude — conta a irmã Florida, de 48 anos, natural de Ruanda.

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Entre os membros da paróquia, o sentimento também é de gratidão por todo o trabalho realizado pela irmã Ilda ao longo das últimas duas décadas. O aposentado Paulo Celso de Souza, de 64 anos, conta que enxerga nela uma fonte de inspiração.

— A irmã Ilda é um amor de pessoa, sempre nos leva a buscar algo diferente, cada dia com uma alegria nova. Ela não mede esforço para buscar a solução que está a seu alcance, em todos os momentos — afirma Paulo.

Homenageada pela paróquia na última terça-feira, 13, por conta dos 60 anos de vocação religiosa, a irmã Ilda diz viver um “momento sublime, de muita emoção, louvor e agradecimento a Deus”. De sua morada, agradece todo o acolhimento que recebeu neste pedacinho de terra perdido no mar.

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— Eu me sinto muito feliz aqui, em meio a um povo amigo e acolhedor. É um povo que descende dos portugueses, assim como eu. Somos todos filhos de Deus, amo a todos, mas por conta dessa descendência portuguesa temos uma grande aproximação. Eu amo Florianópolis — resume a irmã carmelita.

 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 14.11.2018: A Irmã Ilda Miranda de Almeida comemora 60 anos de vida dedicada a missão de levar fé na congregação Carmelita (Foto: Diorgenes Pandini/Diario Catarinense)Indexador: Diorgenes Pandini
Foto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense

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