O ano é 2003 e um problema de osteoporose incomodava uma moradora da cidade de Laguna, Sul do Estado. Durante 12 meses foram viagens constantes ao município vizinho de Tubarão para tratamento médico. Desenganada por sua médica, ela buscou ajuda na fé. Com uma imagem de Irmã Dulce pediu amparo para que se livrasse da doença.
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A cura teria chegado meses depois graças a uma provável intervenção da religiosa baiana que neste domingo, 13, será canonizada em cerimônia na Praça São Pedro, no Vaticano, no ato celebrado pelo Papa Francisco. Ela agora passa a se chamar Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil, já que Madre Paulina, apesar de ter feito história no Brasil, nasceu na Itália.
Este relato da catarinense – nome foi preservado por sigilo canônico – é um dos mais de 14 mil testemunhos de graças alcançadas por intervenção da religiosa. Todos devidamente catalogados por uma equipe das Obras Sociais Irmã Dulce fundada pela freira.
As histórias chegam por cartas, e-mails e publicações em redes sociais. Muitas delas vêm acompanhadas de exames, laudos médicos, fotografias, terços e até desenhos com imagem da freira. Fora do Brasil, a devoção tem uma presença forte no Norte da Itália, na Espanha e nos Estados Unidos.
A reportagem obteve acesso a relatos de devotos da Santa Dulce dos Pobres em Santa Catarina. Há testemunhos de cidades como Itaiópolis, no Planalto Norte, Rio do Sul, no Vale do Itajaí, e dezenas de Florianópolis. Os testemunhos vão desde a sonhada aposentadoria até problemas dentários, como foi o caso relatado por uma carta de Itaiópolis.
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– Há um mês atrás eu tive com um problema sério com meus dentes. Teria que fazer cirurgia. Fiquei muito preocupada e aflita. Entrei em uma igreja e encontrei um folheto da Irmã Dulce. Então fiz a ela um pedido que se dentro de um ano eu tivesse alcançado a graça eu mandaria meu testemunho. E graças a Deus a irmã Dulce recebi e estou bem – diz trecho de uma carta enviada em outubro de 2004 por uma devota de Itaiópolis.

Entre os devotos e admiradores das obras sociais da Santa Dulce dos Pobres está o padre Ivam Francisco Macieski, que junto com oito fiéis da sua diocese percorreu os 2.484 km entre Joinville e Salvador (BA) após a decisão do papa de canonizar Irmã Dulce em maio deste ano.
– Fomos buscar inspiração e força. Irmã Dulce é um exemplo de bondade em um mundo que está desumano. Sempre tive admiração por ela, que deixou uma grande obra social. A partir da canonização vai se difundir mais o pensamento dela, o ideal de vida que ela teve – comentou o pároco, conhecido em Joinville pelo trabalho social.
Segundo o padre Ivam, a canonização de Irmã Dulce fará com que a vida e o trabalho da religiosa baiana, muito conhecida no Nordeste brasileiro, se expanda em todas as comunidades cristãs no país.
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– Ela pode trazer para Igreja Católica no Brasil, não só ser essa intercessora junto a Deus, mas mostrar que católico não é só ir a missa, rezar e voltar para casa. Temos que ter mais amor ao próximo. Precisamos de mais Irmãs Dulces aqui no Sul do país.
Homenagem ao Criador
O blumenauense Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil, que ocupa a presidência de honra das Obras Sociais Irmã Dulce, afirma que a canonização da religiosa passa a ser um compromisso dos católicos repetir os gestos de bondade dela.
– Todo o Brasil se alegra. Poderemos contar com alguém no céu intercedendo por nós com muito mais razão. Nós aprendemos que as obras de Deus devem ser reveladas, portanto, ao falar de Irmã Dulce, ao prestarmos essa homenagem a ela, estamos prestando uma homenagem ao Criador – disse.
Dom Krieger enfatiza que o diferencial de Irmã Dulce foi o amor que ela colocou naquilo que procurou fazer a cada dia e que cabe a todos também, portanto, fazer florescer a sua herança e tentar desabrochá-la.
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– Deus lhe deu um coração sensível, capaz de se condoer com a situação dos pobres.
Como ela sentia a força de Cristo em seu coração, esquecia-se de seus próprios sofrimentos, para debruçar-se sobre a dor dos pobres que encontrava ou que a procuravam. E Deus lhe concedeu um coração ousado, capaz de dar passos que o bom senso humano não recomendaria; ela precisou enfrentar incompreensões e sofrimentos.
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