A irmã de Kerby Tingue, Marie Tingue, foi nesta segunda-feira (10) reconhecer o corpo da vítima no Instituto-Médico Legal (IML), em Florianópolis. O irmão dela, de 32 anos, foi morto na madrugada do dia 3 de junho, após ser empurrado e atropelado. O crime aconteceu em uma via marginal da BR-101, na cidade vizinha, São José.
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Marie saiu do Haiti para realizar o procedimento necessário para que os restos mortais sejam liberados e possam ser levados de volta ao país natal da família. No entanto, como o caso é investigado pela polícia, a retirada do IML ainda não foi autorizada. De toda forma, mesmo com a liberação, a família diz que não tem dinheiro para fazer o traslado do corpo até o Haiti, já que trata-se de um procedimento caro.
Ainda abalada com as circunstâncias da morte de Kerby, Marie se reuniu nesta segunda-feira com entidades de apoio a imigrantes, logo após ir ao IML e ao cartório, para fazer o atestado de óbito do haitiano. O encontro foi promovido pelo vereador de Florianópolis Lino Peres (PT). O parlamentar diz que foi procurado por testemunhas, na quinta-feira (6), que reclamavam da atuação policial sobre o caso.
Inicialmente, a morte do haitiano era tratada como um atropelamento comum, em via pública. Somente na sexta-feira (7), o delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de São José, Manoel Galeno, teve acesso a um vídeo, que mostra Kerby sendo empurrado e atropelado. Depois disso, ele resolveu abrir um inquérito para apurar o crime.
Segundo Peres, as testemunhas contaram que Kerby se envolveu em uma briga, que culminou no empurrão fatal. Conforme o relato, a confusão começou na saída de uma festa. O haitiano esperava um motorista de aplicativo, quando decidiu urinar. Algumas pessoas presenciaram a cena e teriam começado a discutir e a agredir a vítima e alguns amigos que o acompanhavam.
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A Polícia Civil diz que essa é uma das várias versões do crime que estão sendo investigadas. Galeno não quis dar detalhes sobre a apuração do caso, mas já descartou a hipótese de que a morte tenha sido motivada por racismo.
Ajuda para o traslado
Durante a reunião, Marie praticamente não falou. Cabisbaixa, as poucas palavras que disse foram com uma voz fraca. Segundo ela, era pela falta de forças, diante de toda a situação. Ela conta que precisou de ajuda de parentes para conseguir juntar o dinheiro necessário para viajar ao Brasil e reconhecer o corpo do irmão.
— Quando eu recebi a notícia, falei com a família para completar a passagem para vê-lo aqui. Mas o que eu mais preciso é dinheiro para mandar o corpo para o Haiti e Justiça para o meu irmão — diz.
Marie tem um filho de 11 anos, que morava com o tio Kerby, no Brasil. Ela diz que tinha voltado para o Haiti para cuidar da mãe, que está muito doente. Logo após a morte, o menino foi acolhido pelo Conselho Tutelar. Depois da reunião, ela iria rever o garoto.
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Pedido de proteção
Segundo o vereador Lino Peres, algumas testemunhas do crime receberam ameaças. Os amigos do haitiano, por exemplo, praticamente não saem de casa desde o dia do crime. Um grupo de ativistas se comprometeu a ir até a Defensoria Pública da União, junto com representantes do gabinete do parlamentar, tanto para relatar o assassinato, como para pedir proteção às pessoas que presenciaram o caso, como para Marie e o filho dela.
Além disso, ficou definido durante a reunião que a Haibra Sociedade Beneficente Cultural Brasil Haiti deverá dar apoio à família. Além de cobrar uma apuração célere do caso, as entidades de suporte aos imigrantes também devem organizar uma arrecadação de fundos, para ajudar Marie a voltar ao país natal com o corpo do irmão para o sepultamento.