As forças iraquianas tomaram o controle da sede do governo da província de Kirkuk nesta segunda-feira, sem ter que enfrentar combatentes curdos, alcançando em 24 horas boa parte de seus objetivos nesta região em disputa.

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Também retomaram, sem confrontos, um campo de petróleo, uma base e um aeroporto militares.

A rica província de Kirkuk (nordeste), que não faz parte da região autônoma do Curdistão iraquiano, está no centro de uma ação entre Bagdá e Erbil, que o recente referendo de independência curdo acentuou.

Içando a bandeira iraquiana em frente à sede do governo, de onde foi retirado o pavilhão curdo, Bagdá quis marcar a volta de sua autoridade a esta província.

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Seu governador, o curdo Najm Edin Karim, também organizou o referendo ali, contra a opinião de Bagdá, que o destituiu.

O presidente americano, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos “não tomam partido” na crise, “mas não gostamos do fato que se enfrentem”.

“Nós continuamos apoiando um Iraque unificado”, declarou um porta-voz do Pentágono. O coronel Rob Manning qualificou de “infeliz” a decisão de organizar um referendo e apontou que o diálogo continua sendo a melhor opção para diminuir as tensões.

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Na segunda-feira, enquanto as forças iraquianas chegavam à cidade de Kirkuk, capital da província, famílias inteiras fugiam dos bairros curdos para o Curdistão iraquiano.

“Vivemos em paz, mas os políticos de Bagdá e Erbil se enfrentam pelo controle do petróleo e as vítimas somos nós, os habitantes de Kirkuk”, declarou Himen Chuani, de 65 anos, que foge com sua família desta cidade de 850.000 habitantes, dos quais dois terços são de origem curda.

A coalizão internacional anti-extremista, que apoia tanto Bagdá como os curdos em sua luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), pediu a ambas as partes “evitar uma escalada” da violência.

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– ‘Dever constitucional’ –

O Exército iraquiano tomou o controle de várias zonas e infraestruturas de Kirkuk desde domingo à noite, das quais os curdos haviam se apoderado em meio ao caos provocado pelo avanço do EI. Entre estas está um dos seis campos de petróleo da província.

Exceto pelos disparos de artilharia durante a noite, o avanço das forças iraquianas foi facilitado pela retirada dos combatentes curdos (peshmergas) da União Patriótica do Curdistão (UPK) das posições que controlavam ao sul de Kirkuk.

O UPK é rival do Partido Democrático do Curdistão (PDK), do presidente curdo da região autônoma, Massoud Barzani.

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Para o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, comandante em chefe das Forças Armadas, o referendo curdo de 25 de setembro criou um “risco de cisão” do Iraque e, por isso, tem o “dever constitucional” de “impor a segurança e a autoridade federal” em Kirkuk.

À noite, o Comando Conjunto de Operações (JOC), que reagrupa o conjunto de forças iraquianas que participam na operação, anunciou que tomaram “a base militar K1”, a mais importante da província de Kirkuk, de onde foram expulsas em 2014 pelos combatentes curdos.

Depois, segundo o JOC, tomaram o controle do aeroporto militar de Kirkuk, o quartel-general da North Oil Company (NOC, instituição pública a cargo do petróleo) e a jazida de Baba Gargar.

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Os combatentes curdos controlavam até agora seis jazidas de petróleo na região de Kirkuk, dos quais bombeavam 340.000 dos 550.000 barris por dia de petróleo que o Curdistão exporta em média, apesar da oposição de Bagdá.

Os curdos geriam diretamente três das jazidas, com uma produção de 250.000 barris por dia. O bombeamento dos dois principais – Havana e Bay Hasan – fechou nesta segunda à tarde, afirmou um responsável de alto escalão do Ministério iraquiano do Petróleo.

“Os operários curdos (…) deixaram os poços antes da chegada das forças iraquianas”, afirmou.

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Os outros três, incluindo o de Baba Gargar, eram administrados oficialmente pela NOC, mas a renda ia para os curdos.

O JOC assegurou “querer proteger a vida dos habitantes curdos, turcomanos e árabes” da região e pediu que as pessoas “fossem trabalhar (…) normalmente”.

– Rivalidades curdas –

Esta ofensiva deixa exposta a crise entre o UPK, que preferia suspender o referendo de independência de 25 de setembro e iniciar negociações com Bagdá com a ajuda da ONU, e o PDK de Barzani, que começou a consulta que obteve um apoio majoritário à independência.

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O sul da província de Kirkuk está até agora controlado por peshmergas filiados ao UPK, enquanto o PDK controla o norte e o leste.

Hemin Hawrami, assessor do presidente Barzani, denunciou no Twitter “problemas internos e acordos ambíguos” que levaram “os comandantes a ordenar seus peshmergas a abandonar suas posições” ocupadas há três anos.

Vídeos mostraram comboios de combatentes curdos do UPK abandonando suas posições enquanto os habitantes cuspiam neles e lançavam pedras.

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Embora os combates tenham sido muito poucos, duas pessoas morreram por disparos de artilharia em Toz Khurmatu, afirmou um médico do hospital dessa cidade.

* AFP