O Irã denunciou nesta segunda-feira as novas sanções americanas contra seu programa de mísseis, enquanto prosseguem as discussões sobre a implementação do acordo histórico sobre o programa nuclear.

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O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, chegou a Teerã, onde deverá ser recebido pelo presidente Hassan Rohani no período da tarde.

A AIEA autorizou no sábado a entrada em vigor do acordo alcançado em julho entre o Irã e as grandes potências, ressaltando que Teerã tem mantido seus compromissos em vista de um levantamento das sanções internacionais.

Mas o entusiasmo foi atenuado pelas novas sanções anunciadas no domingo pelos Estados Unidos para protestar contra o programa de mísseis balísticos do Irã.

Estas sanções são muito limitadas porque dizem respeito a cinco cidadãos iranianos e a uma rede de empresas com sede nos Emirados Árabes Unidos e China, que foram adicionados à lista negra financeira dos Estados Unidos, de acordo com o Tesouro em Washington.

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Teerã considerou a ação como “ilegítima”, porque “o programa de mísseis do Irã não é concebido para ter capacidade para transportar ogivas nucleares”, explicou Hossein Jaber Ansari, porta-voz da diplomacia iraniana.

“Como a República Islâmica do Irã afirmou com determinação no passado, (…) irá responder a esses atos de propaganda, acelerando seu programa de mísseis balísticos legal e aumentando suas capacidades de defesa”, ele alertou.

O ministro da Defesa, Hossein Dehghan, acrescentou que as sanções americanas não terão “nenhum efeito sobre o desenvolvimento do nosso programa de mísseis”.

O programa de mísseis foi citado por Barack Obama para afirmar que “profundas diferenças” persistem entre Washington e Teerã, apesar do acordo nuclear que terminou com 12 anos de crise internacional.

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O presidente americano também denunciou “o comportamento desestabilizador do Irã”.

Ansari, por sua vez, disse que a política do Irã é a de “não manter qualquer discussão com os Estados Unidos” fora da questão nuclear.

Estas críticas não impediram uma aproximação entre as duas potências, que se concretizou com uma troca de prisioneiros envolvendo onze ex-prisioneiros, incluindo o repórter do Washington Post Jason Rezaian, detido há mais de 500 dias no Irã.

‘Novo clima’

Depois de sua chegada a Teerã, Amano encontrou o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (OIEA), Ali Akbar Salehi. “Discutimos a nossa cooperação futura neste novo clima e um roteiro foi quase definido”, declarou após a reunião Salehi, citado pela imprensa.

Amano anunciou no sábado que as relações entre o Irã e a AIEA entraram “numa nova fase”. “Muito trabalho foi concluído, mas um esforço similar precisa ser feito para concluir a ambição internacional de garantir a natureza pacífica do programa nuclear iraniano”, salientou o chefe da AIEA.

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“Amano vem a convite do Irã. A duração do acordo nuclear é de oito anos, mas queremos reduzir esse período e isso será possível com a ajuda da Agência”, declarou Behrouz Kamalvandi, porta-voz da OIEA.

Ele estava se referindo a uma cláusula no acordo que prevê um período de oito anos durante os quais o Irã limita o seu programa nuclear.

O segundo passo deve ser iniciado até 2023, mas o acordo prevê que, se a AIEA certificar, por exemplo, em cinco ou seis anos, a natureza pacífica das atividades nucleares do Irã, o período de oito anos pode ser reduzido correspondentemente.

Isso é importante para o Irã, ansioso em iniciar algumas atividades mais cedo.

Além disso, outras sanções americanas e europeias, especialmente sobre os bens de dupla utilização, softwares, o transporte de bens e tecnologias abrangidos pela lista militar europeia, as armas, ou visando pessoas, podem ser levantadas mais cedo.

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Sob o acordo nuclear, o Irã aplicará voluntariamente o Protocolo Adicional ao Tratado de Não-Proliferação (TNP), que permite que a AIEA realize uma verificação completa do programa nuclear iraniano.

No plano econômico, grupos estrangeiros vão disputar para serem os primeiros a se beneficiar do levantamento das sanções.

A filial fabricante de caminhões da alemã Daimler anunciou nesta segunda-feira ter assinado cartas de intenção com dois grupos iranianos.

“Há uma enorme demanda por veículos comerciais (…). Em breve retomaremos nossas atividades no mercado” onde o grupo esteve presente até 2010, comentou Wolfgang Bernhard, chefe da Daimler Trucks.

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* AFP