Experimente fechar os olhos no meio do Centro de Florianópolis e tentar se localizar. Pense como seria andar dentro do Terminal de Integração do Centro (Ticen) sem conseguir enxergar absolutamente nada. Sua única percepção de ambiente seria a audição. Como saber qual ônibus pegar até seu bairro? Onde é a área de embarque para subir no veículo?
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Dificuldades encontradas pelos cegos e pessoas com baixa visão nos terminais de Florianópolis

Muito barulho e pouca educação
Como o professor Igor da Acic observa, 80% de percepção de ambiente é feita pelo contato visual. Quando você não tem isso, outros sentidos são explorados, como a audição. Escutar os detalhes do local é a maior força que a pessoa sem visão possui.
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— Os ambulantes gritam, falam alto. Isso quando não tem pessoas cantando e fazendo apresentações musicais. Mal conseguimos escutar o semáforo sonoro — relata Maurício Aparecido.
Outra situação são os ambulantes que estendem toalhas no chão e expõem produtos nas calçadas. Eles ficam exatamente em frente à faixa de segurança do Ticen e obstruem a passagem. Se já fica difícil, muitas vezes, para você caminhar por ali, imagine para a pessoa cega que não identifica se há algo ou não no chão ou em frente dela.
— Nós já conversamos com alguns ambulantes e explicamos que o espaço é trajeto de pessoas com deficiência visual. Mas eles preferem tirar a pessoa do caminho do que sair daquele lugar — conta o professor Igor.
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— É muito desconfortável. Você está caminhando e de repente alguém pega em você, te agarra para te tirar do caminho. Isso quando não reclamam quando você pisa nos produtos — complementa a estudante Ana Maria.
O que vai ser feito e o que dá para fazer

A moradora de São José, Ivone Hinckel, 44, ficou cega há 15 anos e somente agora está dando seus primeiros passos na rua. De São José, chega ao Ticen, onde o professor Igor a espera. Ela ainda tem muito medo de andar sozinha na rua, por conta de tantos empecilhos. Com paciência, ela vai se orientando e aprendendo a usar o piso, a bengala, e a conhecer o ambiente.
Para a vida de Ivone, Aparecido e Ana Maria ser mais fácil, você não precisa segurar na mão deles na hora de atravessar a rua, por exemplo. Desobstruir o trajeto do piso podotátil, não encostar nos corrimões e ajudar quando eles pedem alguma informação já o suficiente e ainda garante o empoderamento da pessoa cega.
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Ao poder público, cabe agilizar a reforma da acessibilidade nos terminais urbanos. A Acic instaurou no Ministério Público um inquérito civil para garantir a acessibilidade dos espaços em Florianópolis. O promotor Daniel Paladino já notificou prefeitura, Cotisa e o Consórcio Fênix.
A Cotisa, responsável pela administração dos terminais de integração de Florianópolis, informou que já participou de uma reunião preliminar com a prefeitura e o Ministério Público sobre o assunto, e que aguarda novo encontro para debater as adequações necessárias nos terminais.
A prefeitura, através da Secretaria de Mobilidade Urbana, acompanha o caso e deve exigir as mudanças necessárias apontadas pelo MP e indicadas pela Acic. Ainda não há data para o encontro, mas o cronograma de trabalhos, de acordo com o secretário Vinicius Cofferri, tem prazo de 30 dias.
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Sistema inovador de alto-falantes
O Consórcio Fênix informou que, de acordo com a licitação realizada em 2013, tem até novembro deste ano para implantar um sistema sonoro em todos os ônibus que avisa, através de alto-falantes, o próximo ponto de parada. O que facilitaria e muito à pessoa cega e até aos demais, principalmente turistas. Segundo Cofferi, o centro de controle para este novo projeto tecnológico, com o sistema de monitoramento dos ônibus e alto-falantes, está sendo construído.
O presidente da Acic, Jairo Silva, ainda sugere a adoção de um aplicativo, via celular, que avise o usuário por áudio se o ônibus está perto de seu ponto, como já é usado em algumas outras cidades do país, como São Paulo. Hoje, explica Jairo, o cego possui muita dificuldade em identificar o ônibus. Ou é preciso parar e pedir ao motorista, ou pedir ajuda a alguém.
Por enquanto, pois não está previsto em licitação, o Consórcio Fênix não irá adotar a utilização de um aplicativo, mas informa que, com o novo sistema de GPS que será instalado, muito aplicativos já existentes serão compatíveis e poderão ajudar o usuário.
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A empresa ainda informou que todos os tripulantes das operadoras do Consórcio Fênix são “orientados às boas práticas de operação que respeitem os deficientes visuais. Eles passam, inclusive, por simulação de embarque e desembarque vendados e com bengala”.