“A política vai mal, um time no Nacional”. Esta frase era uma ironia, na década de 1970, que ilustrava uma prática muito comum dos dirigentes esportivos à época.

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Aproveitando a anestesia que o esporte propiciava às grandes massas (e o Carnaval também ajudava muito), se promovia o inchaço do Campeonato Brasileiro. Quanto mais times e jogos, mais se iludia o povo com circo e se diminuía o pão. Chegamos a ter competições com absurdos 992 jogos (1978) e com até 96 clubes na primeira divisão (1979).

Em pleno 2017, vendo jogos disputados no mesmo dia pelo mesmo time, equipes mistas num campeonato, titulares em outro, Libertadores com equipes alienígenas, estaduais se arrastando, cai a ficha: quase meio século depois de uma ilusão de grandeza dos anos 1970, que na verdade era um projeto que não visava organizar o esporte no país a longo prazo, vemos recrudescer em prática semelhante.

O país, seja com a cor partidária que for, vai de mal a pior em qualquer cenário: na economia, na política, na segurança, na educação, na cultura e, claro, no Esporte.

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É um conjunto desanimador com reflexos claros no dia a dia, que dispensam enumeração aqui. Saia de casa, leia o noticiário e a realidade cospe na sua cara.

No que concerne ao futebol, além de episódios recorrentes de violência entre torcidas, estádios vazios (tá, tem um clássico que outro que enche, mas não é a regra) e descrédito absoluto dos dirigentes, com ápice de desconfiança na CBF, vemos a volta do fisiologismo e casuísmo no calendário.

Enquanto a Europa consolida, ano a ano, suas megacompetições, a Ásia molda ligas sólidas, o mundo árabe constróis infra-estrutura absurda e os EUA fortalecem esportistas, agremiações e marketing, por aqui vamos na direção oposta. Nós e a Conmebol, diga-se de passagem.

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Incha a Copa do Brasil, cria-se sistema para clubes grandes entrarem em tudo que é competição (menos mimimi, mais fácil de garantir-se no poder, mesmo com barbaridades sendo investigadas), cria-se competições onde não há datas (Primeira Liga, que surgiu para combater a CBF, tanto que não é reconhecida), aumenta-se a Libertadores, que ganhou aspecto sem graça nas primeiras fases e insiste-se em estaduais caducos.

Este bolo vai crescer até ficar insustentável. Uma hora a casa cai, é muita melancia dentro do caminhão… Ou o veículo vai quebrar o eixo, ou melancias vão cair ao chão.

Como consequência, o futebol brasileiro vai perdendo força organizacional. Por sorte, surgiu um Tite, para segurar uma bronca em nível de Seleção e salvar a lavoura. Mas Tite é quase mágico, porém não é Santo, milagre o tempo todo não rola. Ele só acomodou bem os nomes que estão fora do país, recuperou um eixo interno, psicológico, mas não de estrutura.

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O país exportador de talento segue seu rumo parasita. Queima lavouras para colheitas rápidas, mas o solo fértil vai se exaurindo.

Uma adequação dos estaduais, estes sim com formulismo para não desgastar os times em séries A, B e C nacionais, classificatório para Série D e Copa do Brasil; a própria Copa do Brasil (pode até ser grande, sim), mas com sistema simples de classificação, via estaduais e sem garantir vagas a qualquer custo para os grandes, respeitando os rankings, sem agregar Libertadores, etc; e uma Libertadores revalorizada. Este mundo dos sonhos é algo inatingível no momento.

Pessimismo da parte do cronista? Sim, absoluto. Como mudar o quadro? Não vejo solução sem que o país mude num todo. Previsão para o futuro? Como diria aquele narrador… o caos!

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