*Por Matt Phillips
A Dinamarca tem “hygge” (algo como “bem-estar”, em dinamarquês), felicidade e – diante de uma desaceleração global – um mercado de ações que vai muito bem.
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Os índices da bolsa da nação do norte da Europa, pequena e dependente do comércio, estão batendo com facilidade as empresas da S&P 500, que está ligeiramente em alta no ano, a Nikkei 225 do Japão e o índice Stoxx Europe 600, ambos em território negativo.
Os índices dinamarqueses, como o OMX Copenhagen 25, subiram mais de 15 por cento em 2020, ou mais de 21 por cento se seu retorno for calculado em dólares. Isso está bem perto de outros bons desempenhos do mercado, como a tecnológica Nasdaq Composite, que subiu cerca de 23 por cento com base na força de empresas que se saíram bem com a quarentena, como Amazon e Apple.
O que explica um desempenho tão estelar? Especialistas dizem que é uma combinação de vários fatores: uma resposta efetiva à crise do coronavírus (auxiliada pela robusta rede de segurança social do país), uma série de empresas bem posicionadas para enfrentar a crise e um talento para a gestão bem equilibrada.
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A principal contribuição para o desempenho das ações dinamarquesas é uma questão do que as empresas fazem, e não onde fazem: cerca de 50 por cento da capitalização de mercado das ações dinamarquesas está em empresas farmacêuticas e de saúde quase à prova de recessão – um portfólio sólido em meio a uma pandemia.
“A mistura do mercado dinamarquês é completamente diferente do que você vê no mercado global, e aí você tem, mais ou menos, a razão pela qual ele teve um desempenho muito melhor”, disse Carsten Jantzen Leth, chefe de ações dinamarquesas do Nordea Asset Management.
O valor das ações de grandes empresas de saúde dinamarquesas subiu, como o da Coloplast – um dos principais produtores de bolsas de colostomia, continência e tratamentos dermatológicos –, e o da Genmab, empresa de biotecnologia especializada em tratamentos contra o câncer. Os investidores que procuram segurança ajudaram a aumentar o valor das ações da Coloplast em mais de 25 por cento e o da Genmab em mais de 50 por cento no ano.
Mas acima de todas está a Novo Nordisk.
Valendo cerca de US$ 150 bilhões, a empresa sediada em Bagsvaerd representa, sozinha, cerca de 15 por cento da capitalização de mercado do índice OMX Copenhagen 25, que pertence à Nasdaq Global Indexes. É um dos principais fornecedores mundiais de tratamentos de insulina e diabetes, um negócio que está bem isolado dos altos e baixos da economia global.
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“Se as pessoas precisam de insulina, sempre vão precisar dela, haja uma recessão ou não”, declarou Henrik Drusebjerg, estrategista-chefe global do Danske Bank, o maior banco dinamarquês.
Embora as expectativas de lucro para o índice Stoxx Europe 600 tenham caído mais de 35 por cento, analistas que cobrem a Novo Nordisk esperam que os lucros subam cerca de oito por cento em 2020, mesmo durante a pior desaceleração global desde a Grande Depressão. Suas ações subiram cerca de cinco por cento este ano.
Grande parte dos negócios das empresas dinamarquesas – cerca de 20 por cento – vem dos Estados Unidos, país flagelado pela pandemia, mas uma parte significativa também vem de dentro das fronteiras do país. E os esforços locais para achatar a curva e retomar a atividade econômica também ajudaram os preços das ações.
“Ficou bem claro que a Dinamarca lidou rapidamente com o vírus. O país foi um dos primeiros a fechar e um dos primeiros a reabrir”, comentou David Oxley, economista focado em economias nórdicas na Capital Economics, consultoria de pesquisa em Londres.
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A Dinamarca tem um generoso sistema de desemprego em tempos normais, mas tomou medidas adicionais em resposta à pandemia. Sob um programa de ajuda de curto prazo, o governo pagava a diferença se um empregador cortasse o horário de um trabalhador. Só no fim de junho o governo retomou seus benefícios normais de desemprego, que pagam cerca de 90 por cento do salário de um trabalhador por até um ano – o que significa que os trabalhadores desempregados podem contar com apoio significativo até meados de 2021, segundo Oxley.
A pandemia teve seu efeito, é claro. O desemprego subiu para 5,6 por cento em maio, depois de estar em 3,7 por cento em fevereiro, e o Produto Interno Bruto caiu dois por cento no primeiro trimestre, o pior declínio em mais de uma década. Mas, em ambas as métricas, as mudanças foram ínfimas em comparação com outras nações desenvolvidas.
E há algo mais difícil de quantificar – a capacidade das equipes de gestão dinamarquesas de enfrentar com equilíbrio os tempos desafiadores.
O Ivy International Core Equity Fund, vendo as vantagens estruturais da Novo Nordisk, estabeleceu uma posição de cerca de US$ 30 milhões em junho, quando comprou mais de 500 mil ações. E manteve as ações da A.P. Moller Maersk, a gigante dinamarquesa de navegação duramente atingida pela forte desaceleração do comércio global.
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“É raro termos dois nomes na Dinamarca. É um peso muito grande para nós em relação ao normal”, disse John C. Maxwell, gerente de portfólio do fundo.
Maxwell e seus cogerentes acreditam que ambas as empresas são apostas sólidas em longo prazo – mesmo que a Maersk tenha perdido cerca de nove por cento este ano. (Caiu mais de 47 por cento no fim de março.)
Isso ocorre em parte porque a Maersk, como a Novo Nordisk, detém uma posição de comando em seu setor. Mesmo com o volume de fretes provavelmente caindo até 18 por cento no segundo trimestre, os lucros da Maersk podem permanecer estáveis em comparação com o ano passado, de acordo com analistas.
Na opinião de Maxwell, isso é um crédito ao talento das equipes executivas nórdicas para operar negócios cíclicos em um ritmo estável e lucrativo, que gerencia o fundo internacional de ações há 14 anos.
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Em sua experiência, afirmou ele, diferentes países podem ter diferentes abordagens de gestão. Os executivos alemães podem ser meio lentos demais para produzir resultados, enquanto as empresas americanas e britânicas talvez estejam demasiadamente focadas em ganhos de curto prazo em detrimento da estratégia de longo prazo.
Mas as empresas dinamarquesas e outras empresas nórdicas parecem ter descoberto uma maneira de combinar as duas abordagens. “Elas geralmente têm um bom ritmo na condução do negócio, tentando atingir metas trimestrais, mas não sacrificando o longo prazo para fazê-lo.”
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