Se fazer arte no Brasil nos anos 1980 já era difícil, a década de 1990 chegou com uma triste notícia para pessoas como os organizadores do Festival de Dança: o Plano Collor, com a promessa de acabar com a inflação, bloqueou as aplicações financeiras e cortou os incentivos à cultura. A situação apertou para o Festival e para os bailarinos. No evento, o patrocínio das empresas, que no ano anterior tinha sido recorde, simplesmente desapareceu.

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A ajuda veio do Governo do Estado que, pela primeira vez, disponibilizava uma verba para o evento e de ações como as da rede de hotéis de Joinville, que cobriu uma cota de patrocínios e, em troca, disponibilizou hospedagem. O número de bailarinos também caiu: apenas dois mil vieram ao Festival, a metade do ano anterior. Um dos motivos era a situação econômica do País, como lembra o coreógrafo Tíndaro Silvano.

– Já era difícil conseguir recursos para a dança. Minha companhia (Palácio das Artes) tinha acabado de conseguir um patrocinador e aí foi congelado. Todos os brasileiros estavam assustados. O meu salário, dos meus bailarinos, da equipe, todos foram congelados – recorda.

Por outro lado, quem fez parte do Festival de 1990 afirma que foi um dos melhores. A simplicidade da produção – que já não tinham cartazes publicitários ao fundo – deu o tom de bom gosto que moldaria o evento para o profi ssionalismo total.

O coreógrafo Tíndaro Silvano já fez de tudo: trouxe companhias para dançar, foi jurado, palestrante, professor e até uma espécie de “embaixador do Festival”.

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A primeira vez que veio a Joinville foi na segunda edição. Voltou em 1990, quando assustou as pessoas ao lado dele na coxia ao se empolgar com a apresentação de seus bailarinos do Palácio das Artes na noite de abertura.

Eles dançavam a coreografia “Pássaro de Fogo” e, no final, depois de 40 minutos dançando, arrancavam as próprias roupas. Aquele era um inverno rigoroso e, ao dançar de calção, calcinha e top, os bailarinos soltavam fumaça.

– Parecia um efeito especial digno da Broadway – afirma, aos risos.

De 1990 a 2003, Tíndaro não falhou nenhuma vez, já que integrou o conselho artístico do evento.

– O Festival se fez por causa das pessoas e da costura fina da organização – avalia Tíndaro.

Você sabia?

O frio daqueles dias criou uma moda curiosa. Quem começou foi a diva do balé Tatiana Leskova, que estava na banca avaliadora, uma das posições mais difíceis, já que os jurados não podiam sair do lugar nem se mexer para se aquecer.

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Leskova levou um cobertor do hotel para deixar as pernas quentinhas e logo foi imitada pelo júri e pela plateia.

Apesar da crise econômica, em 1990 os segundos e terceiros lugares começam a receber troféus, honra que até então só era direito dos premiados em primeiro lugar.