A menos de uma semana do fim do inverno, as hortaliças na localidade da Colônia Japonesa, em Itajaí, estão mais verdes do que normalmente se espera para a estação mais fria do ano.

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Em 2012 a extensa área cultivada por ali praticamente não sofreu efeitos de baixas temperaturas ou de geadas, que prejudicam as plantações e o sustento das famílias que vivem da terra.

O veranico de julho e agosto também foi bom para a rede hoteleira, satisfeita com a ocupação dos hotéis no último feriado. Mas nem tudo são flores – embora elas tenham florescido antes este ano. O comércio e a pesca amargam prejuízos com a falta do frio neste inverno.

– Esse inverno teve algumas características diferenciadas. O aumento nas temperaturas se deu principalmente nas mínimas registradas, então não fez tanto frio. A temperatura média histórica da nossa região é próxima dos 18°C e tivemos neste ano uma média 0,9°C acima desse índice – explica o professor coordenador do Laboratório de Climatologia da Univali, Sergey Araújo.

Dona Amélia Mafra Cujik, que ao lado do marido e do filho caçula planta alface, cheiro verde e manjericão, entre outras verduras, não tem o que reclamar do tempo mais quente durante o inverno. Pelo contrário. Para ela a colheita na propriedade de dois hectares foi tranquila – e melhor do que em anos anteriores para o mesmo período.

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– Foi um inverno bom. Não fez tanto frio para causar estragos na plantação e também não teve clima tão seco e sem chuva, como o que prejudicou os agricultores do Oeste – avalia.

Assim como a vizinha, César Augusto Lana, dono de seis hectares na Colônia, observa que Santa Catarina teve um inverno tropical neste ano e que isso contribuiu para as hortaliças chegarem com grande qualidade ao principal destino da produção: a merenda das escolas municipais de Itajaí.

– O clima foi bom este ano e com isso conseguimos fazer uma boa colheita. O tempo neste inverno colaborou bastante – diz.

O bom desempenho da agricultura, e também da pecuária, é um dos reflexos do calor fora de época e do frio pouco rigoroso que fez no Litoral em 2012 entre junho e setembro. Cerca de 450 famílias são envolvidas direta ou indiretamente com o setor agrícola em Itajaí, desde a subsistência até a produção comercial, a maioria com cultivos já voltados para o clima litorâneo.

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De acordo com o secretário municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Itajaí, Carlos Alberto Rebelo, as condições atípicas acabaram sendo boas para o setor, com verduras mais saudáveis e melhores pastagens para as 10 mil cabeças de gado existentes no município.

– Os arrozeiros, por exemplo, que têm costume de começar o plantio mais cedo, se beneficiaram com este clima. Na pecuária a situação foi melhor ainda porque o calor manteve uma vegetação mais verde e nutritiva e evitou perda de peso do gado, que costuma ocorrer no inverno – destaca.

Safra de tainha fica abaixo da expectativa

A pesca em Itajaí e Navegantes teve, até agora, um ano para ser esquecido, muito em razão do inverno fraco nos dois municípios. Com o calor e pouco vento a quantidade de peixes que vêm da Argentina e do Uruguai, entre eles a tainha, uma das espécies que movimenta a economia pesqueira, tem grande redução.

Dados do Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali (GEP) mostram que em 2012 foram capturados apenas 778 toneladas em Santa Catarina, o que representa cerca de 30% da média histórica do Estado. No Litoral Norte a situação é semelhante, com queda de mais de 50% na safra, em comparação ao ano passado.

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– A pesca em Itajaí e Navegantes foi muito fraca e com isso não gira a economia, os barcos ficam parados, as peixarias não vendem. Afeta toda a cadeia pesqueira e traz problemas aos 20 mil empregos diretos e 40 mil indiretos gerados pela indústria da pesca nestas cidades – ressalta o presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Giovani Genázio Monteiro.

Em contraponto ao prejuízo com os peixes, os pescadores comemoram as boas safras do atum e do camarão-rosa, influenciadas também pelo clima mais quente. Só o crustáceo, por exemplo, teve aumento de produção de quase 50% no mês de junho e mais de 100% no mês de julho, em relação aos números de 2011. Mesmo assim, conforme o presidente do Sindipi, isso não é suficiente para anular o déficit da tainha.

– Fazendo o balanço, o prejuízo é maior que o benefício e não compensa a safra da tainha, que é importantíssima para o setor na nossa região – pontua Monteiro.

Pior inverno dos últimos oito anos para o comércio

Ao contrário da agricultura de Itajaí, o comércio de Balneário Camboriú sofre o impacto negativo dos chamados veranicos de inverno.

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Lojistas que encheram estoques com roupas pesadas aguardando o frio intenso, se depararam com temperaturas elevadas e um bom número de pessoas procurando mais bermudas e camisetas e menos casacos e blusas de lã. O jeito, então, foi liquidar tudo abaixo do preço de custo, considerando os gastos com frete.

– Foi o pior inverno dos últimos oito anos para o comércio. Não deu o frio esperado e mesmo o setor investindo em liquidações e promoções, o comércio não está conseguindo esvaziar o estoque de inverno. Os estoques estão com boa parte encalhada e nossa estimativa é que os comerciantes deixaram de ganhar em torno de 40% comparando com valores do ano passado – afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Balneário Camboriú (Sincomércio), Hélio Dagnoni.

O comércio em geral, que conta com aproximadamente 3,5 mil empresas no município, teve redução de 13% no movimento neste inverno em relação a 2011. A expectativa, reforçada pela lotação das praias no feriadão de 7 de Setembro, é que a temporada de verão 2012/2013 apresente um crescimento comercial superior aos 13%, ao menos cobrindo o prejuízo dos meses anteriores.

Turismo lucra com o calor

Em uma cidade que tem na praia o principal atrativo, não poderia ser diferente: o setor turístico de Balneário Camboriú comemorou e muito o verão antecipado, que trouxe grande fluxo de pessoas e movimentou a economia do Litoral.

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Segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sindisol), o melhor termômetro disso – e também da temporada de verão – foi o feriado de 7 de Setembro, que registrou entre 80% e 90% de lotação nos mais de 20 mil leitos oferecidos na cidade.

– Os veranicos de inverno ajudam muito a rede hoteleira, só trazem benefícios. Com esse calor fora de época conseguimos concorrer com os destinos turísticos do Nordeste brasileiro em igualdade – aponta a presidente do Sindisol, Karina Peters.