Lá para os cafundós em que fui criado se usava com muita naturalidade a expressão inticar. Que vem a ter a função de provocar. Então, para mexer com um desafeto ou para levantar alguma questão, abrir uma discussão sobre algo, inticava-se. Ó, como intiquei com parceiros de incursões à mata de estilingue na mão, como intiquei com adversários que depenava nos jogos de bolinha de gude, com a turma do futebol no campinho à beira da rua e até com a professora. Neste caso, inticadas mais conceituais, discussões sobre coisas que ela dizia que eram “assim” e a gente achava que era “assado” e, desta forma, corria-se o risco de vê-la levantar sisuda, empunhar régua de madeira e caminhar em direção à nossa ousadia. Normalmente, tudo acabava bem e no dia seguinte ainda lhe trazia uma maçã ou uma flor.

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Pois bem, andei inticando com uma meninada que está firmando os pés no segundo grau. Acho legal chegar neles, jogar um assunto mais duro, tentar que discutam uma “factualidade hard” etc. Aproveitando o ajuntamento, tentava tirar deles percepções, observações, críticas sobre esta tal reforma do ensino médio com a qual o governo está gastando tanto verniz. Poucos tinham ouvido falar do tema e, quem ouviu, quase nenhuma bola deu, aprofundamento zero. “Quando rolar, o professor deve dizer alguma coisa”, falou uma pessoa da turma.

Mal empregada inticada, diria a saudosa Isabel Barreto.

Ou seja, é assunto que não empolga nem a quem atingirá diretamente. Provavelmente, culpa da pouca clareza que o tema tem. A coisa deveria ser autoexplicativa. Ter tamanha importância na vida das pessoas que se explicasse sozinha e empolgasse a todos. No momento em que se gasta o tempo que se está gastando tentando explicar conceitos e efeitos, não é bom sinal. O assunto está nos jornais desde sexta passada (nos sites, TVs e rádios, desde quinta) e ainda é um monstrengo. Os noticiários estão cheios de conteúdo que revelam mais dúvidas do que certezas. Mais perguntas do que respostas, como registrava o “AN” de ontem.

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A arte de complicar – parece – continua firme e forte. Nada do que se lê ou ouve é suficientemente esclarecedora.

E assim o assunto, que deveria empolgar por se tratar, em tese, de reforma na educação, perde em interesse para tudo – liderança do Palmeiras, Lava-Jato, a corda-bamba do JEC, separação de famosos…