O olhar desenvolvimentista de Luiz Gonzaga Belluzzo já serviu de luz-guia para um vasto leque de governantes: foi secretário de política econômica do Ministério da Fazenda no governo José Sarney, liderou a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo durante a gestão de Orestes Quércia e foi consultor pessoal de economia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Professor da Unicamp, o economista continua em alta no Palácio do Planalto: volta e meia suas ideias são debatidas em reuniões da equipe econômica de Dilma Rousseff. O prestígio que tem no governo é recíproco: Belluzzo diz confiar na recuperação da Petrobras (se não tivesse de pagar o Carlos Simon, investiria meu dinheiro na Petrobras, disse em evento em Porto Alegre, na semana passada, referindo-se a um processo de R$ 60 mil que perdeu para o ex-árbitro gaúcho em razão de uma ofensa proferida quando era presidente do Palmeiras) e considera atraentes os programas do governo de concessão de obras de infraestrutura.

Para Belluzzo, apontado por publicações especializadas como o maior economista heterodoxo do Brasil, as críticas ao intervencionismo do governo são conversa mole, e o investimento voltará a crescer quando o país se adaptar à era do juro baixo.

Zero Hora – O senhor sempre defendeu a queda do juro como fator essencial ao desenvolvimento do país. Agora, com a inflação ameaçando superar o teto da meta, é hora de voltar subir a Selic?

Luiz Gonzaga Belluzzo – Defendi a queda do juro quando estava em 16% ao ano. Quando estourou a crise internacional, o Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central) manteve em 16% a taxa básica de juros. Você acha que tem cabimento? A economia caiu (para 0,2%) em 2009, depois de ter subido (5,1%) no ano anterior. A queda foi violenta, e o Meirelles manteve a taxa alta. Acompanhar a taxa de juro não é como torcer no futebol, é você usar alguns instrumentos para controlar a inflação. A política monetária, o juro, são importantes sim, mas não pode ter uma anomalia de um juro de 16% e o país ter crescimento negativo.

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ZH – Por que mesmo com os juros em 7,25% o país cresceu menos de 1% no ano passado?

Belluzzo – As taxas de juro caíram recentemente, e não é bem assim para o país crescer. Estamos em um momento de transição, os fundos de pensão, que antes emprestavam a taxa de título público, terão de buscar outro cálculo. Os bancos agora pegarão os recebíveis, terão de estruturar em mercado e fazer operação de mercado de capitais, talvez com os próprios fundos de pensão. A taxa de juro em alta é ruim por que desestimula o setor.

ZH – O investimento caiu no ano passado. Onde está o problema?

Belluzzo – O governo demorou para definir os projetos que tinha de entregar em cooperação com a iniciativa privada. É isso. Agora, para acompanhar esse investimento, terá de montar um núcleo junto da presidente ou do Ministério do Planejamento. Não temos hoje esse instrumento. O que se fez com o Estado brasileiro? Destruiu-se. A ideia da reforma administrativa foi a ruína do Estado. Você tinha antes o Geipot, que cuidava dos transportes, o sistema Eletrobras, que cuidava do setor elétrico. Destruíram-se as instituições que faziam o mercado funcionar. Agora, tem de reconstruir.

ZH – Mas os empresários dizem que a intervenção do governo brasileiro no mercado é demasiada. Fortificá-la não iria espantar investidores?

Belluzzo – Isso é conversa mole. Quando se fala aos investidores que a taxa de retorno dos projetos (de infraestrutura) é de 14%, eles vão se perguntar: qual investimento paga isso? Se eu tivesse dinheiro, eu investiria. Ainda mais com financiamento do BNDES a uma taxa de 5%. Essa conversa de intervencionismo é baboseira, não é isso que está travando o investimento. O Estado americano não interveio? Claro que sim, protegeu a indústria desde o Relatório sobre Manufaturas, de Hamilton (Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos). E agora não deixou a GM quebrar. Essa discussão é fora da realidade.

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