Espalham-se os relatos de quem perdeu seis, sete, oito, até 12 horas. Famílias com crianças, motoristas com cargas perecíveis, ônibus de transporte intermunicipal cheios. Todos parados no mesmo local: a BR-101, na região do Morro dos Cavalos, ou até 30 quilômetros dali, que é o tamanho das filas em somente um dos sentidos da rodovia mais movimentada de Santa Catarina.

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Com o deslizamento de pedras sobre a estrada na noite de 13 de abril, o trecho segue com restrições depois de ficar três dias totalmente fechado. Até o fechamento desta edição, o congestionamento seguia, no sentido Norte do Estado, com relatos de espera de até 12 horas. Um episódio que poderia ser chamado de isolado se não fossem outros recentes envolvendo a infraestrutura rodoviária catarinense.

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Assim como na BR-101, a sequência dela para quem vai ao Paraná, a BR-376, vive um drama igual. Por conta dos riscos de deslizamento, há interdições frequentes pela falta de segurança no trecho paranaense. Já na BR-470, que corta o Vale do Itajaí e o Meio Oeste catarinense, uma cratera gigante que se abriu no mês de fevereiro deixou a estrada por quatro semanas totalmente fechada. Caminhões nem sequer podiam passar por ruas menores na região e tinham de utilizar caminhos alternativos distantes — e, como consequência, mais caros do ponto de vista logístico. 

Trabalhadores foram mobilizados ainda no domingo para liberar o trecho bloqueado (Foto: Lucas Amorelli)

Para se entender o tamanho do problema enfrentado com as chuvas e fenômenos climáticos na infraestrutura rodoviária, um número é fundamental: somados os levantamentos dos governo do Estado e federal, chega-se perto de R$ 1 bilhão somente para os reparos de episódios do último ano. Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar Aguiar, a entidade propôs que seja feito um plano para Adaptação às Mudanças Climáticas para mitigar os efeitos dos eventos severos.

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— Neste plano deverá ser incorporada uma análise de risco identificando os pontos críticos das rodovias, rotas alternativas e plano emergencial. Esta ação deve ser uma iniciativa da concessionária em conjunto com a Defesa Civil, a Polícia Rodoviária Federal, entre outros entes relacionados ao tema. Este plano deveria ser adotado para toda a malha rodoviária catarinense — explica Aguiar.

Túnel do Morro dos Cavalos está nas mãos do governo federal e vai aumentar pedágio

Destacada pelo presidente da Fiesc, a necessidade de rotas alternativas entra em uma das principais fragilidades do Estado. Santa Catarina possui poucas rotas constantes e de qualidade, sem opções seguras para momentos de crise. Para o presidente da Federação das Transportadoras de Cargas (Fetrancesc), Dagnor Schneider, a queda de barreiras Morro dos Cavalos, e o consequente bloqueio do trânsito na principal rodovia federal de Santa Catarina revela, mais uma vez, “a situação angustiante a que todos os catarinenses estão suscetíveis quando se trata de mobilidade e de infraestrutura rodoviária em nosso Estado”. Ele ainda ressalta a fragilidade diante das chuvas de alto volume:

— É urgentíssima a necessidade de melhorias, de ampliação da malha viária, da construção de novas vias alternativas e de investimentos constantes em manutenção. Sem isso, continuaremos presos em filas, sem atendimento às necessidades mais básicas do ser humano.

Para o coordenador do Fórum Parlamentar catarinense em Brasília, o deputado Valdir Cobalchini (MDB), a infraestrutura é “absoluta prioridade” da bancada nas discussões junto ao governo federal. Ele cita projetos de duplicações que estão sendo licitados, como no trecho do Alto Vale da BR-470 e na BR-282, que corta o Estado. Segundo ele, nos próximos dias, os deputados e senadores estarão com o ministro dos Transportes, Renan Filho, para debater alternativas ao Morro dos Cavalos.

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Santa Catarina começa a ter “ilhas” e isolamento pelo caos nas estradas

Em SC, ministro diz que governo federal quer acelerar obras

Ao participar de inaugurações em Santa Catarina, nesta semana, o ministro dos Transportes, Renan Filho, respondeu a questionamentos sobre investimentos na BR-101 e em outras rodovias federais. Segundo ele, a solução para a 101 passa pela repactuação do contrato da rodovia no trecho Norte. O processo já está em andamento, e agora a sociedade catarinense será chamada a debater quais obras precisam ser incluídas.

— Então a gente precisa fazer uma discussão que permita acelerar essas obras, como está feito no Brasil inteiro, e em breve nós faremos aqui em Santa Catarina, ouvindo a sociedade, a classe política, o governo do Estado, é assim que a gente tem promovido nos outros Estados.

Cidade que virou alternativa ao Morro dos Cavalos faz apelo ao governador

A novidade trazida por Renan é que, diferentemente do que se sabia anteriormente, não necessariamente será a Arteris Litoral Sul que fará as obras acordadas no plano de repactuação. Um novo leilão será feito na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa que oferecer o menor preço de pedágio para executar os serviços vai ficar com a concessão, podendo ser a atual concessionária ou não a ficar com a responsabilidade.

É pelo menos a segunda vez no ano em que uma rodovia federal no Estado é bloqueada por conta de desmoronamentos (Foto: Lucas Amorelli)

Planos para outras rodovias

Em relação aos demais trechos catarinenses de rodovias federais, que não são concessionados, o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes em Santa Catarina, Alisson de Andrade, diz que há obras previstas ou projetos em andamento. Além das duplicações das BRs 470 e 280 e das obras na 163 e 285, todas em andamento, estão avançando também os estudos para mais duplicações, como na 282. Para outros serviços, ele admite que precisa de “espaço no orçamento” do governo federal.

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Nas rodovias estaduais, o governo catarinense lançou em 2023 o programa Estrada Boa, com a promessa de fazer obras em 10 meses para recuperar situações pontuais e em até três anos de grandes serviços nas SCs. A previsão é de R$ 2,16 bilhões. Além disso, o governo do Estado pretende lançar um programa de infraestrutura com a participação do setor privados através de concessões ou parcerias público-privadas, mas não para administração das atuais rodovias, e sim nos casos de outros projetos, como uma via paralela à BR-101, entre Biguaçu e Joinville.

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