O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. As participações serão selecionadas para publicação no jornal impresso. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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REJEIÇÃO À POLÍTICA
Entre as razões que ajudam a explicar as bruscas mudanças registradas na campanha presidencial nos últimos dias, muitas podem ser atribuídas a uma má vontade acima da habitual por parte dos eleitores em relação aos políticos. O desinteresse, manifestado de forma mais clara a partir dos protestos de junho do ano passado, se mantém mesmo depois de os candidatos com mais chance de vitória na disputa pelo Planalto terem incorporado em seus slogans variações da palavra mudança. E ajuda a explicar o fato de o país ter chegado a meados de agosto de um ano eleitoral com um percentual recorde de indecisos. É importante que essa insatisfação possa levar a um aprimoramento e não a mais desgaste da política e da democracia.
O desinteresse que os brasileiros, de maneira geral, vêm demonstrando no cotidiano, é captado também por estatísticas. O primeiro debate eleitoral entre presidenciáveis mais citados em pesquisas de opinião pública, por exemplo, alcançou a média de cinco pontos de audiência, bem distante da registrada no período pela emissora líder com sua programação normal, de acordo com o Ibope. No dia a dia, apenas 39% dos brasileiros vêm acompanhando o horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão, conforme a mais recente pesquisa CNT. Esse tipo de comportamento dá uma ideia da dificuldade de os candidatos em campanha transmitirem o seu recado a potenciais eleitores. Mas, acima de tudo, demonstra que os políticos não vêm conseguindo atender às reais demandas da sociedade, interessada principalmente melhores serviços públicos.
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Com poucas exceções, o desfile de candidatos nas ruas, nos meios de comunicação e nas redes sociais ajuda a reforçar essa impressão, ao insistir em desgastadas fórmulas de marketing e de comportamento. Em São Paulo, o Estado mais avançado do país, um candidato a deputado federal pelo Partido Ecológico Nacional (PEN) pede voto de turbante e barba comprida, anunciando: “Pode anotar aí: o Bin Laden vai ser o Tiririca desta eleição”. Entre outros candidatos com inspiração humorística ou bizarra por todo o país, há até quem se apresente como Dengue, Presidente THC, Jesus e Barack Obama, o que não combina com a postura esperada de um político.
Os excessos, somados à insistência de quem não desiste de pedir voto mesmo tendo ficha suja, demonstram a dificuldade de o país atrair o interesse dos cidadãos para a escolha consciente de seus governantes e representantes políticos, o que se constitui numa temeridade. Quando os políticos não convencem e os eleitores perdem a confiança em seus representantes, o risco é o de que os ganhos fiquem com os oportunistas, pouco ou nada interessados no bem comum e na democracia.