O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Serão selecionadas para publicação no jornal impresso participações enviadas até as 19h de sexta-feira. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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NINGUÉM TEM RAZÃO

O lamentável confronto ocorrido terça-feira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que levou nosso Estado e a instituição de forma negativa ao noticiário nacional, poderia ter sido evitado se o bom senso e o diálogo tivessem imperado. A intransigência de todos os lados levou ao triste cenário de praça de guerra, com agressões, bombas de gás, depredação de veículos públicos e ocupação irresponsável da Reitoria.

Os fatos que se desenrolaram depois do confronto físico, nos dias seguintes, foram ainda mais lamentáveis, pois envolveram servidores públicos de alto escalão pagos justamente para ter o bom senso na mesa de cabeceira. Chega-se ao final de semana com uma triste constatação: a instituição UFSC foi maltratada do começo ao fim por parcela de agentes policiais, de professores, de estudantes e até por quem dirige a universidade.

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O que era para ser uma operação elogiável, a de investigar o consumo e o tráfico de drogas no seio de uma casa do saber, não foi bem concluída quando se estabeleceu o confronto e o próprio superintendente em exercício teve dificuldade em dialogar. Usou, como se diz no popular, o “by the book”. Seguiu as leis e a cartilha da corporação policial, um procedimento que naquele caso poderia colocar vidas em risco. As autoridades perderam a oportunidade de priorizar a diplomacia no sentido de fazer com que o panorama voltasse ao clima de normalidade. Mais do que isso, passaram do ponto ao enlamear em cadeia nacional a instituição atribuindo a ela a pecha de “república de maconheiros”, uma expressão desastrada.

Ao rebater essa postura, a Reitoria iniciou a sua série de equívocos. A começar por se dizer surpreendida por uma operação da qual a administração da universidade tinha conhecimento. Era só ouvir o chefe de Segurança, que este passaria detalhes do ocorrido. O equívoco mais grave, no entanto, foi permitir que o campus e a sede da universidade que abriga 43 mil estudantes ficassem à deriva, com radicais comandando assembleias nas quais exigiam o fim do policiamento no campus, desrespeitando a bandeira nacional em detrimento de um pano vermelho e determinando quem deve entrar ou não no ambiente universitário.

Só mesmo a imaturidade de alguns jovens e a má formação de outros explica que o protesto dos universitários contrariados com a ação policial de terça-feira tenha sido canalizado para a depredação de veículos, conduta inadmissível e cujos autores devem ser punidos. Além disso, é impensável cogitar atender a principal reivindicação dos jovens que ocuparam a Reitoria: veto à polícia no campus.

Houve, é verdade, gestos de bom senso, como o diálogo de um professor com o superintendente da PF, esforçando-se pela saída negociada. Mas o que dizer da atitude da professora que sentou-se no capô de uma viatura policial para impedir a saída do veículo?

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O desafio é fazer com que a universidade reveja a sua postura de isolamento e assuma o seu papel de fomentadora de debates propositivos e plurais. Para isso a gestão atual deve refletir sobre posições que, aos olhos da sociedade, soam sectárias, seja para discutir a mobilidade urbana ou para liderar um debate sobre a tolerância ou a repressão às drogas, já que políticas repressivas por parte do poder público, como as adotadas na maioria dos países, têm se mostrado ineficazes.

À Polícia Federal, igualmente, cumpre fazer a lição de casa. Se no seu papel não se inclui o diálogo permanente como regra para atuar no combate ao crime, não podem seus agentes se considerarem imunes a contrapontos e, muito menos, se acharem no direito de desqualificar instituições. Num episódio no qual ninguém tem razão o prejuízo é de todos. Você, leitor, concorda?