O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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POR UM BRASIL MAIS JUSTO
Até no uso da máscara simbólica do justiceiro do filme V de Vingança por alguns jovens, o movimento brasileiro de protestos guarda semelhanças com antecessores como o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e a Revolta dos Indignados, na Espanha. Porém, as pessoas que tomaram as ruas e praças do país nas últimas duas semanas têm motivações específicas, bem diferentes do suspiro anticapitalista norte-americano e da reação espanhola ao corte de benefícios sociais e ao desemprego. Como bem mostram os cartazes expostos pelos manifestantes em cada marcha, eles exigem providências para um espectro de problemas, que vão do transporte público caro e de má qualidade ao combate à corrupção, passando por demandas conhecidas nas áreas de saúde, educação e segurança. Em resumo: querem um Brasil mais íntegro e mais justo para todos.
Então, não basta que os governantes atendam pautas eventuais, como a redução das passagens de ônibus já anunciada em algumas cidades, inclusive por administradores que relutavam em fazer concessões à população. Isso, evidentemente, representa um avanço em termos de cidadania, pois resulta de uma pressão com objetivo bem definido. Mas seria ingenuidade imaginar que todas as exigências poderão ser satisfeitas, até mesmo porque o leque de reivindicações inclui algumas causas verdadeiramente utópicas.
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Ainda assim, é impositivo que homens públicos e lideranças da sociedade se reciclem a partir deste protagonismo jovem, que acrescenta uma nova força política à realidade do país. Mesmo que seja preciso um distanciamento maior para o perfeito entendimento desta verdadeira revolução impulsionada pelas mídias sociais, já está absolutamente claro que este segmento da sociedade não se sente representado pelas instituições, pelos partidos e pelos atuais dirigentes políticos. O desafio, portanto, é captar esta insatisfação e buscar novas fórmulas para atendê-la.
Claro que os jovens não sabem tudo, nem podem tudo e muito menos têm a solução para a maioria dos problemas que querem ver resolvidos. Mas estão dizendo que são parte desta solução, que querem ser ouvidos, que estão dispostos a lutar por um país melhor. Essa oportunidade tem que ser aproveitada. É evidente que esta onda de indignação vai arrefecer em algum momento, como aconteceu recentemente nos países referidos no início deste texto e ao longo da história em muitas outras nações. Que deixe, então, sementes positivas para uma mudança real. A mensagem dos jovens não pode ser subestimada. Como escreveu o escritor francês Georges Bernanos, “é a febre da juventude que mantém o resto do mundo numa temperatura normal; quando esta febre desaparece, o mundo inteiro treme de frio”.