O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
Continua depois da publicidade
OS ASSASSINOS DO FUTEBOL
Eles não são torcedores, são arruaceiros. Infiltram-se nas torcidas organizadas, extorquem os dirigentes de clubes, provocam-se pelas redes sociais, bebem e brigam dentro e fora dos estádios. Não vão a campo para ver o jogo, para aplaudir e vaiar os jogadores. Vão para exibir seus músculos, sua agressividade e sua imaturidade. Protegem-se na multidão, atacam em bandos e agem com ferocidade e covardia, como se viu no último domingo na lamentável batalha campal entre as organizadas do Atlético Paranaense e do Vasco, na Arena Joinville. Por causa deles, muitos cidadãos preferem ficar em casa e acompanhar o esporte pela televisão.
Na antevéspera da Copa do Mundo, o Brasil está diante de um desafio: como conter esses assassinos do futebol? Punir os clubes tem sido uma das medidas mais frequentes, mas com resultados insuficientes. Basta lembrar que o jogo da briga do último domingo já foi realizado em Santa Catarina porque o Atlético-PR estava punido por tumulto causado por sua torcida no clássico contra o Coritiba, realizado em outubro. E o Vasco também já havia perdido mandos de campo no Brasileirão devido ao confronto de seus torcedores com os do Corinthians, em Brasília, em agosto. Portanto, não se tratou de um caso isolado.
Continua depois da publicidade
Os enfrentamentos são frequentes e envolvem os principais clubes do país. Evidentemente, essas associações, especialmente aquelas que financiam marginais travestidos de torcedores, merecem ser responsabilizadas, mas é preciso fazer mais. Colocar polícia dentro do estádio também é medida controversa. As forças de segurança alegam que não é de sua atribuição policiar espetáculos privados e dizem que o deslocamento de tropas para o futebol deixa a população menos protegida. Querem, no mínimo, receber uma compensação financeira dos clubes, para pagar hora extra aos soldados ou financiar equipamentos.
Enquanto dirigentes e autoridades não chegam a um acordo, porém, está cada vez mais evidente que as Polícias Militares precisam estar prontas para intervir nos tumultos, pois as pessoas que vão a estádios de futebol também são parte da população e merecem ser protegidas. Criar leis mais rigorosas soa apenas como cortina de fumaça. Já temos leis suficientes, o próprio Código Penal, o Estatuto do Torcedor, normas preventivas e punitivas que raramente são cumpridas. O que nos falta é ação e organização. Ação por parte dos organismos policiais e judiciais para que os protagonistas da selvageria sejam identificados, investigados e retirados de circulação.
Cadeia é o mínimo que merecem marginais que atentam contra a vida de seus semelhantes. E organização para, como fizeram os ingleses com os hooligans depois de episódios fatais, oferecer condições de conforto e segurança aos torcedores, de modo a inibir tumultos. Nos estádios britânicos, ninguém pode assistir ao jogo em pé, as cadeiras são todas numeradas, há câmeras de vigilância em todos os setores e qualquer anormalidade é imediatamente controlada, com a retirada dos brigões e sua exclusão dos próximos jogos, mediante apresentação obrigatória em delegacias nos dias e horários das partidas.
Para enfrentar os assassinos do futebol, o país precisa de dirigentes de clubes mais corajosos e responsáveis, e de governantes e autoridades com competência para punir, planejar, organizar e criar uma infraestrutura de civilidade. A partir dessas premissas, a conscientização dos torcedores tende a vir ao natural.
Continua depois da publicidade